TER HUMILDADE – A liturgia deste domingo centra a vida cristã nas atitudes humildes que cada um deve ter. Quer o Livro de Ben-Sirá que orienta os comportamentos humanos, quer o Evangelho de Lucas, com dois exemplos paradigmáticos, ambos os textos apelam veementemente a se ser humilde nos comportamentos humanos. Ben-Sirá faz a comparação entre o ser humilde e o conduzir-se pela soberba. O soberbo esmaga tudo e todos à sua volta, encara com arrogância todas as situações, afirma-se com direito sempre ao primeiro lugar. O humilde vai ao encontro dos outros com simplicidade, serve-os com a generosidade máxima, cuida de todos sem excepção e está, inclusivamente, disponível para prestar culto a Deus. Para o humilde, todos lhe são superiores. É-lhe fácil o discernimento para a descoberta das melhores respostas na sua relação com Deus e na sua relação com os irmãos. O soberbo, ao contrário, centra-se no próprio eu, considera ter direito de julgar todos os outros e chega mesmo a prescindir de Deus, por d’Ele não precisar. O soberbo olha o mundo segundo os seus próprios interesses, julga-se detentor da verdade absoluta, é incapaz de aceitar alguém que lhe possa fazer frente. Por tudo isto facilmente se compreende que o cristão, para o ser, tem de cultivar a humildade, o escondimento, o “aceitar perder”. Com razão, Jesus pôde dizer: “quem quiser ganhar a vida deve aceitar perdê-la, porque só perdendo-a é que a ganha de verdade” (Mt 10, 39).
Não é fácil ser humilde numa sociedade marcada pela arrogância. O poder e o ter são as notas do homem actual. O cristão, ao invés, é convidado a partilhar e a servir. Só o fará se for humilde, se se esquecer de si próprio para melhor se dar aos outros. Se a humildade convida ao amor fraterno, convida sobretudo a uma relação de adoração a Deus, o único Senhor.
Compreende-se as expressões de Jesus no Evangelho de Lucas quando afirma dever ficar-se no último lugar quando sentados à mesa para, depois, ser chamado para lugares cimeiros se o dono da casa assim o quiser. Jesus termina com uma frase lapidar: “quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Mt 23, 12). Jesus continua este desafio com a parábola da festa em que não se convidam os importantes, mas os pobres e os pequeninos. Ninguém tem que esperar recompensas porque na humildade é sugerida uma dádiva gratuita, sem retribuição. Com uma linguagem simbólica de profunda expressão, neste Evangelho, Jesus sugere que os primeiros serão os últimos e que só os que aceitarem ser últimos serão os primeiros.
Monsenhor Vitor Feytor Pinto
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LITURGIA DA PALAVRA
«QUANDO FORES CONVIDADO PARA UM BANQUETE NUPCIAL,
NÃO TOMES O PRIMEIRO LUGAR.»
(Lc 14, 8)
I LEITURA – Sir 3, 19-21.30-31 (gr.17-18.20.28-29)
Nada é mais agradável a Deus do que a humildade. O humilde gera a alegria, à sua volta; o orgulhoso, a desconfiança.
Leitura do Livro de Ben-Sirá
Filho, em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante do Senhor. Porque é grande o poder do Senhor e os humildes cantam a sua glória. A desgraça do soberbo não tem cura, porque a árvore da maldade criou nele raízes. O coração do sábio compreende as máximas do sábio e o ouvido atento alegra-se com a sabedoria.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 67 (68), 4-7ab.10-11 (R. cf. 11b)
Refrão: Na vossa bondade, Senhor,
preparastes uma casa para o pobre. Repete-se
Os justos alegram-se na presença de Deus,
exultam e transbordam de alegria.
Cantai a Deus, entoai um cântico ao seu nome;
o seu nome é Senhor: exultai na sua presença. Refrão
Pai dos órfãos e defensor das viúvas,
é Deus na sua morada santa.
Aos abandonados Deus prepara uma casa,
conduz os cativos à liberdade. Refrão
Derramastes, ó Deus, uma chuva de bênçãos,
restaurastes a vossa herança enfraquecida.
A vossa grei estabeleceu-se numa terra
que a vossa bondade, ó Deus,
preparara ao oprimido. Refrão
II LEITURA – Hebr 12, 18-19.22-24a
«Aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo»
Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos: Vós não vos aproximastes de uma realidade sensível, como os israelitas no monte Sinai: o fogo ardente, a nuvem escura, as trevas densas ou a tempestade, o som da trombeta e aquela voz tão retumbante que os ouvintes suplicaram que não lhes falasse mais. Vós aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, de muitos milhares de Anjos em reunião festiva, de uma assembleia de primogénitos inscritos no Céu, de Deus, juiz do universo, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição e de Jesus, mediador da nova aliança.
Palavra do Senhor.
ALELUIA – Mt 11, 29ab
Refrão: Aleluia. Repete-se
Tomai o meu jugo sobre vós, diz o Senhor,
e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração. Refrão
EVANGELHO – Lc 14, 1.7-14
No Evangelho, Jesus ensina duas coisas: que não procuremos ocupar os primeiros lugares, sobretudo se eles estão acima dos nossos méritos; que não convivamos unicamente com os do nosso grupo. Ambas as recomendações parecem muito fora da nossa moda. Vivemos um tempo de agressividade, só é considerado quem luta, quem não tem medo de atropelar o da frente para lhe ocupar o lugar. (Pe. João Resina in “A Palavra no Tempo”)
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus entrou, num sábado, em casa de um dos principais fariseus para tomar uma refeição. Todos O observavam. Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, Jesus disse-lhes esta parábola: «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». Jesus disse ainda a quem O tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes nem os teus vizinhos ricos, não seja que eles por sua vez te convidem e assim serás retribuído. Mas quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te: ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.
Palavra da salvação.