CHAMADOS A PARTICIPAR NO SONHO DE DEUS – Na sociedade actual todos sentem a necessidade de tomar parte nas diversas iniciativas que lhe são próximas. Participa-se na vida política, na vida social, na vida económica, e até na família ou no trabalho cada um gosta de ser chamado a participar. Esta ideia do querer participar não é de hoje. Já no princípio Deus quis que o homem participasse no seu projecto. Disse ao primeiro par humano: “Crescei, multiplicai-vos, dominai a terra” (Gen 1, 28). Deus queria colaboradores. A partir daí os homens são convidados a participar também no projecto de Deus. Se a Redenção e a Salvação do homem se concretizam no Reino de Deus, compreende-se que Jesus tenha querido associar a si muitos que iriam proclamar o anúncio da Boa Nova do Reino.

O Evangelho de hoje conta uma parábola muito significativa, a dos trabalhadores convidados para a vinha. Sem dúvida, diferentes, mas todos com a missão de produzir frutos que fossem úteis para toda a comunidade. Isaías fala-nos desse projecto alertando-nos para que os nossos pensamentos e os nossos caminhos a serem corretos, são pensamentos e caminhos de Deus. S. Paulo depois, aos Filipenses, dá o exemplo de si mesmo dizendo que o seu viver é Cristo com a garantia de que trabalha exclusivamente para o anúncio do Evangelho.

1. O projecto de Deus
Isaías centra a sua profecia no que é essencial. Deus tem um projecto que se vai realizando através dos séculos. Concretizou-se no Povo de Deus, iniciado em Abraão, Isaac e Jacob, com dificuldades que também por Deus foram superadas como aconteceu na libertação realizada por Moisés, com uma renovação constante que atinge a plenitude do tempo no Servo de Javeh, Jesus Cristo, Senhor. É neste caminhar que Isaías refere a presença de Deus: “os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus” (Is 55, 8). Pertence então ao homem procurar o Senhor, invocar o Senhor, converter-se ao Senhor. Ele poderá então entrar no projecto de Deus.

2. Chamados a entrar neste projecto
Há dezoioto parábolas do Reino, todas elas descrevendo a forma pela qual trabalhamos para o Reino, colaboramos na construção do Reino, respondemos ao apelo de Deus cujo Reino está próximo. A parábola de hoje é paradigmática. Os trabalhadores chegam a horas diferentes, têm experiências diferentes, são até gratificados de maneira diferente, mas todos eles estão ao serviço do mesmo projecto. A relação com Deus, o senhor do campo, é uma relação de ternura em que a justiça é superada pela misericórdia, de tal maneira que todos acabam por se sentir felizes, realizados, porque puderam colaborar no projecto de Deus. Os cristãos têm o dever de construir um tempo novo, a partir da realidade que vivem. O ser cristão não está apenas em relacionar-se com Deus, por Cristo. O ser cristão implica tratar da ordem temporal para ali construir o Reino de Deus. Todo o cristão é chamado, com uma missão específica, a implantar os valores do Evangelho, no mundo concreto que é o seu.

3. Centrar a vida em Cristo
Para participar no projecto de Deus o cristão centra-se na pessoa de Jesus Cristo. É este o testemunho de Paulo, para quem “viver é Cristo e morrer é lucro”, expressão luminosa que define a consagração de Paulo ao Evangelho. Daí que ele fale no seu corpo, que ele entrega ao trabalho de Apóstolo, que gasta em viagens constantes para anunciar Jesus, que consagra à Boa Nova do Reino. Paulo em expressão que contagia todos os cristãos afirma depois, que tem uma única preocupação a de viver de maneira digna do Evangelho que anuncia.

Monsenhor Vitor Feytor Pinto


LITURGIA DA PALAVRA:

“NÃO FOI UM DENÁRIO QUE AJUSTASTE COMIGO?

LEVA O QUE É TEU E SEGUE O TEU CAMINHO.

EU QUERO DAR A ESTE ÚLTIMO TANTO COMO A TI.”

 (Mt 20, 13-14)

I LEITURA – Is 55, 6-9

O profeta Isaias apela à conversão do povo ao Senhor. «que é generoso em perdoar».

Leitura do Livro de Isaías
Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele, ao nosso Deus, que é generoso em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus – oráculo do Senhor –. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos e acima dos vossos estão os meus pensamentos.
Palavra do Senhor.

SALMO – 144 (145), 2-3.8-9.17-18 (R. 18a)

Refrão: O Senhor está perto de quantos O invocam. Repete-se

Quero bendizer-Vos, dia após dia,
e louvar o vosso nome para sempre.
Grande é o Senhor e digno de todo o louvor,
insondável é a sua grandeza. Refrão

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. Refrão

O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade. Refrão

II LEITURA – Filip 1, 20c-24.27a

O comum dos homens tem medo de morrer. Paulo diz que, se não tivesse o encargo de anunciar o Evangelho, preferia partir – já – ao encontro do Senhor.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos: Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal me permite um trabalho útil, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – cf. Actos 16, 14b

Refrão: Aleluia. Repete-se

Abri, Senhor, os nossos corações,
para aceitarmos a palavra do vosso Filho. Refrão

EVANGELHO – Mt 20, 1-16a

A parábola dos trabalhadores.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um pro­prie­tário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizen­do: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primei­ros e os primeiros serão os últimos».
Palavra da salvação.