O MISTÉRIO DA COMUNHÃO – Toda a vida cristã assenta numa grande preocupação de comunhão. Aliás, foi este o projeto de Deus: propor uma comunhão ao ser humano para este se tornar senhor de todas as coisas. Propor também a comunhão total do par humano na relação do homem e da mulher. Propor, sobretudo, a comunhão de toda a Humanidade redimida por Jesus Cristo, Salvador. A liturgia deste domingo faz apelo a esta comunhão sem fronteiras. Quem lê o Evangelho vê a proposta de comunhão total na família, até com uma atenção privilegiada às crianças. Depois, a primeira leitura, retirada do Livro do Génesis, descreve a criação com a apresentação de todas as coisas ao homem para ele as dominar. Além disso, ao  homem é dada a mulher para serem um só. Finalmente, na Carta aos Hebreus, afirma-se que todos, numa nova Humanidade, devem ser um só, tornados verdadeiros irmãos.

  1. A comunhão de Deus com a Humanidade – O gesto criador de Deus envolve o homem num projeto de comunhão. Deus ama o primeiro par humano, confia-lhe todas as coisas, pede-lhe uma proposta de fidelidade. Como prova desta entrada do homem no projeto criador de Deus, este põe duas condições: não comer do fruto da árvore da vida, nem do fruto da árvore do bem e do mal. O homem rompeu este pacto de comunhão. É por isso que na leitura do Génesis se vê Deus à procura do homem sem o encontrar, se vê Adão acusar a mulher e esta a acusar a serpente. No meio desta desorganização provocada pelo homem, porém, Deus prometerá o Salvador, o Filho da Mulher que vencerá a serpente para sempre.
  2. A Comunhão do Homem e da Mulher – Se na primeira leitura se considera essencial a comunhão no par humano, tanto no tempo da graça como no tempo da culpa, no Evangelho deste domingo afirma-se a indissolubilidade na família, segundo o critério de Jesus. Se é certo que ao tempo em determinadas condições era possível o repúdio da mulher, na perspetiva de Cristo o divórcio não pode ter lugar. Eles, homem e mulher, são um só, para sempre. Neste texto associa-se a esta unidade do amor humano o cuidado a ter com as crianças. É quase uma antecipação daquilo que se poderia considerar o projeto da família cristã, todos a convergirem para uma comunhão vivida a tempo inteiro ao longo de todos os caminhos. É um desafio de uma grande oportunidade para os tempos  que vão correndo e em que a família se desagrega. A família cristã vive para a comunhão.
  3. A comunhão plena e perfeita com Cristo – A Carta aos Hebreus permite completar esta ideia da comunhão total como proposta para o ser cristão. Não é fácil viver o perdão até à unidade, como não é fácil também viver as fidelidades até à comunhão total. Então, a Carta aos Hebreus pede que o Senhor abençoe toda a nossa vida, convida a uma procura constante de unidade para todos serem um só, o que proporciona a construção de uma nova família em que todos se podem chamar irmãos.

Monsenhor Feytor Pinto
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LITURGIA DA PALAVRA:

I LEITURA -I Gen 2, 18-24

«E os dois serão uma só carne»

Leitura do Livro do Génesis
Disse o Senhor Deus: «Não é bom que o homem esteja só: vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele». Então o Senhor Deus, depois de ter formado da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, conduziu-os até junto do homem, para ver como ele os chamaria, a fim de que todos os seres vivos fossem conhecidos pelo nome que o homem lhes desse. O homem chamou pelos seus nomes todos os animais domésticos, todas as aves do céu e todos os animais do campo. Mas não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. Então o Senhor Deus fez descer sobre o homem um sono profundo e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela, fazendo crescer a carne em seu lugar. Da costela do homem o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. Ao vê-la, o homem exclamou: «Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher, porque foi tirada do homem». Por isso, o homem deixará pai e mãe, para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne.
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127 (128 ), 1-2.3.4-5.6 (R. cf. 5)

Refrão: O Senhor nos abençoe em toda a nossa vida. Repete-se

Feliz de ti que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem. Refrão

Tua esposa será como videira fecunda
no íntimo do teu lar;
teus filhos como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa. Refrão

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião o Senhor te abençoe:
vejas a prosperidade de Jerusalém
todos os dias da tua vida;
e possas ver os filhos dos teus filhos.
Paz a Israel. Refrão

II LEITURA -Hebr 2, 9-11

Cristo colocou-se no último lugar, para benefício de todos.

Leitura da Epístola aos Hebreus
Irmãos: Jesus, que, por um pouco, foi inferior aos Anjos, vemo-l’O agora coroado de glória e de honra por causa da morte que sofreu, pois era necessário que, pela graça de Deus, experimentasse a morte em proveito de todos. Convinha, na verdade, que Deus, origem e fim de todas as coisas, querendo conduzir muitos filhos para a sua glória, levasse à glória perfeita, pelo sofrimento, o Autor da salvação. Pois Aquele que santifica e os que são santificados procedem todos de um só. Por isso não Se envergonha de lhes chamar irmãos.
Palavra do Senhor. 

ALELUIA – 1 Jo 4, 12

Refrão: Aleluia. Repete-se
Se nos amamos uns aos outros,
Deus permanece em nós
e o seu amor em nós é perfeito. Refrão

EVANGELHO – Forma longa – Mc 10, 2-16

«Não separe o homem o que Deus uniu»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova e perguntaram-Lhe: «Pode um homem repudiar a sua mulher?». Jesus disse-lhes: «Que vos ordenou Moisés?». Eles responderam: «Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para se repudiar a mulher». Jesus disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei. Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu». Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo sobre este assunto. Jesus disse-lhes então: «Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério». Apresentaram a Jesus umas crianças para que Ele lhes tocasse, mas os discípulos afastavam-nas. Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis: dos que são como elas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». E, abraçando-as, começou a abençoá-las, impondo as mãos sobre elas.
Palavra da salvação.