FIDELIDADE A CRISTO RESSUSCITADO – Quase no fim do ano litúrgico, a Igreja quer convidar os cristãos a reflectirem um pouco sobre a ressurreição. Acresce que se está no mês de Novembro, mês em que se evocam aqueles que partiram ao encontro de Deus. Dentro desta perspectiva, compreende-se que o Livro dos Macabeus associe a morte daqueles sete irmãos e a heroicidade na hora do martírio à certeza de que há uma vida para além da vida e que a ressurreição se deve merecer. Por outro lado, a Carta de S. Paulo aos Tessalonicenses pede aos cristãos que, aceitando Cristo Ressuscitado, lhe sejam fieis. Se o Senhor é fiel também o cristão deve ser fiel para sempre, na certeza de que “a vida não acaba, apenas se transforma e desfeita a morada do exílio terrestre se adquire no céu uma habitação eterna” (2 Cor 5, 1). Por outro lado, o Evangelho de Lucas conta uma história que, embora sendo uma provocação, no entanto põe o problema de normas tradicionais que na mensagem de Jesus não têm qualquer sentido. É que na vida eterna todos são iguais, não há casados nem por casar.

Toda a liturgia se centra na fidelidade à ressurreição, garantia fundamental de todo o anúncio da Boa Nova. Jesus tinha ressuscitado a filha de Jairo que provavelmente apenas dormia, tinha ressuscitado o filho da viúva de Naim, que ia a enterrar, tinha ressuscitado Lázaro, morto há já quatro dias. Todos estes viriam a morrer depois. Mas Ele, que morreu na cruz, ao terceiro dia ressuscitou para não morrer mais. A sua ressurreição é definitiva e torna a ressurreição dos homens uma realidade que dura para sempre. Dirá S. Paulo “como Cristo ressuscitou, todos vamos ressuscitar”.

Os Macabeus recusaram-se a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos, suportaram todo o martírio que o rei lhes provocou das maneiras mais diversas, mas reafirmaram a sua fé no Deus único que era a razão de ser do seu povo. A sua fidelidade ao Deus único, alicerçava-se na certeza da ressurreição. Os rituais judaicos, afirmados pelos fariseus, foram contrariados pela certeza que Jesus dá a vida para além da vida. Na eterna Bem-Aventurança o que conta é a igualdade entre todos os homens e a certeza da comunhão no amor que a todos envolve.

As comunidades cristãs, mesmo em ambientes intelectuais onde a ressurreição era discutida, aceitavam que a Ressurreição de Cristo motivasse comportamentos diferentes. Aos cristãos de Colossos Paulo poderá dizer: “se ressuscitaste com Cristo, buscai o que é do alto, amai o que é do alto, vivei segundo os parâmetros que são do alto” (cf. Col 3, 1-5). Na Carta aos Tessalonicenses, que hoje se proclama, diz-se expressamente que o Senhor é fiel. Por isso, todos os que entram a participar no mistério de Cristo ressuscitarão com Ele.

Comentários de Monsenhor Vítor Feytor Pinto
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LITURGIA DA PALAVRA

«Não é um Deus de mortos, mas de vivos,

porque para Ele todos estão vivos».

(Lc 20, 38)

I LEITURA – 2 Mac 7, 1-2.9-14

O martírio duma família no tempo da perseguição do século II a.C. «Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará.»

Leitura do Segundo Livro dos Macabeus
Naqueles dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis obrigá-los, à força de golpes de azorrague e de nervos de boi, a comer carne de porco proibida pela Lei judaica. Um deles tomou a palavra em nome de todos e falou assim ao rei: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos para morrer, antes que violar a lei de nossos pais». Prestes a soltar o último suspiro, o segundo irmão disse: «Tu, malvado, pretendes arrancar-nos a vida presente, mas o Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis». Depois deste começaram a torturar o terceiro. Intimado a pôr fora a língua, apresentou-a sem demora e estendeu as mãos resolutamente, dizendo com nobre coragem: «Do Céu recebi estes membros e é por causa das suas leis que os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo». O próprio rei e quantos o acompanhavam estavam admirados com a força de ânimo do jovem, que não fazia nenhum caso das torturas. Depois de executado este último, sujeitaram o quarto ao mesmo suplício. Quando estava para morrer, falou assim: «Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida».
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 16 (17), 1.5-6.8b.15 (R. cf. 15b)

Refrão: Senhor, ficarei saciado,
quando surgir a vossa glória. Repete-se

Ouvi, Senhor, uma causa justa,
atendei a minha súplica.
Escutai a minha oração,
feita com sinceridade. Refrão

Firmai os meus passos nas vossas veredas,
para que não vacilem os meus pés.
Eu Vos invoco, ó Deus, respondei-me,
ouvi e escutai as minhas palavras. Refrão

Protegei-me à sombra das vossas asas,
longe dos ímpios que me fazem violência.
Senhor, mereça eu contemplar a vossa face
e ao despertar saciar-me com a vossa imagem. Refrão

II LEITURA – 2 Tes 2, 16 – 3, 5

Convite à fidelidade e à oração.

Leitura da Segunda Epístola do Apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos: Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu, pela sua graça, eterna consolação e feliz esperança, confortem os vossos corações e os tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras. Entretanto, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague rapidamente e seja glorificada, como acontece no meio de vós. Orai também, para que sejamos livres dos homens perversos e maus, pois nem todos têm fé. Mas o Senhor é fiel: Ele vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Ap 1, 5a.6b

Refrão: Aleluia. Repete-se

Jesus Cristo é o Primogénito dos mortos.
A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Refrão

EVANGELHO – Forma longa – Lc 20, 27-38

Discussão com os saduceus a respeito da vida eterna.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus – que negam a ressurreição – e fizeram-lhe a seguinte pergunta: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer a alguém um irmão, que deixe mulher, mas sem filhos, esse homem deve casar com a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. O segundo e depois o terceiro desposaram a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram e não deixaram filhos. Por fim, morreu também a mulher. De qual destes será ela esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher?». Disse-lhes Jesus: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já não podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».
Palavra da salvação.

EVANGELHO – Forma breve – Lc 20, 27.34-38

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus – que negam a ressurreição – e começaram a interrogá-l’O. Disse-lhes Jesus: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já não podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».
Palavra da salvação.