SERENOS NA ADVERSIDADE – Quando se leem os textos deste domingo que já está próximo do fim do ano litúrgico, muitos interpretam a Palavra de Deus como profecia do fim do mundo. Parece-nos não dever ser esta a interpretação da Palavra que o Senhor hoje nos dá. A vida humana, em sociedade, traz consigo dificuldades imensas. O Evangelho enumera três, as tensões entre os países, as famílias, as pessoas, significadas nas guerras, nos ódios, nas violências que tantas e tantas vezes enchem de sofrimento a humanidade. Outra causa de angústia, para o homem de todos os tempos, deriva da própria natureza como terramotos, inundações, secas e muitos outros fenómenos naturais que dificultam, não apenas o trabalho dos agricultores, mas a vida de todos os cidadãos. Há uma terceira causa de sofrimento, essa radicada na fé cristã. O Senhor é muito claro quando diz aos discípulos que serão perseguidos, pede-lhes, porém, que mantenham a serenidade, porque quando estiverem perante os tribunais, o Espírito os orientará sobre o que hão-de dizer, e quando estiverem a ser perseguidos o Senhor os acompanhará. Importante é, porém, ser perseverante até ao fim.

Este Evangelho não fala do fim do mundo. Apenas pede aos discípulos de Jesus que mantenham a serenidade, mesmo quando a vida não é fácil. O mundo de hoje, muito mais do que no tempo de Jesus, tem inúmeras fontes de sofrimento. As guerras podem ser nucleares, as tempestades estão a matar milhares de pessoas, a pobreza e a fome atingem muitos milhões de seres humanos. A tudo isto acrescem os programas de austeridade, a falência das empresas, o drama do desemprego e dos salários baixos. O resultado é de todos conhecido, uma tensão social permanente. A Igreja também se vê envolvida nos grandes problemas da humanidade. Uns consideram que não denuncia a violência exercida sobre as pessoas e as famílias, outros afirmam que não é papel da Igreja ter uma intervenção na vida política da cidade. No tempo presente há quem julgue que o ser cristão define apenas a relação pessoal de cada um com Deus. Não é, porém, assim. O cristão enquanto cidadão do mundo, tem de levar os valores do Evangelho a todas as situações de vida, à família, à profissão, à relação social e económica, e à intervenção política. É por esta intervenção na cidade que muitas vezes os cristãos não são entendidos. E, até, por vezes são perseguidos. No Evangelho de hoje o Senhor é muito claro, “pela vossa perseverança salvareis as vossas almas”.

Os outros dois textos da Palavra contemplam este sentido de responsabilidade do cristão no mundo: Paulo é claro ao dizer “quem não trabalha, não tem direito a comer”. Por outro lado, Malaquias, anunciando a vinda do Senhor, pede que se faça brilhar o sol da justiça, porque é por ela que chega a salvação. De facto, o que está em causa na liturgia de hoje é a intervenção dos cristãos no mundo para introduzir nele os valores que Jesus Cristo anunciou.

Comentários de Monsenhor Vítor Feytor Pinto

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LITURGIA DA PALAVRA

«Pela vossa perseverança

salvareis as vossas almas»

(Lc 21, 19)

I LEITURA – Mal 3, 19-20a

Virá o «dia do Senhor». Os profetas do Antigo Testamento aguardam com teimosia e esperança o «dia» em que Deus viria eliminar os maus e colocar os justos na paz.

Leitura da Profecia de Malaquias
Há-de vir o dia do Senhor, ardente como uma fornalha; e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores. O dia que há-de vir os abrasará – diz o Senhor do Universo – e não lhes deixará raiz nem ramos. Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol de justiça, trazendo nos seus raios a salvação.
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 97 (98), 5-9 (R. cf. 9)

Refrão: O Senhor virá governar com justiça. Repete-se

Ou: O Senhor julgará o mundo com justiça. Repete-se.

Cantai ao Senhor ao som da cítara,
ao som da cítara e da lira;
ao som da tuba e da trombeta,
aclamai o Senhor, nosso Rei. Refrão

Ressoe o mar e tudo o que ele encerra,
a terra inteira e tudo o que nela habita;
aplaudam os rios
e as montanhas exultem de alegria. Refrão

Diante do Senhor que vem,
que vem para julgar a terra;
julgará o mundo com justiça
e os povos com equidade. Refrão

II LEITURA – 2 Tes 3, 7-12

Corrigindo expressões de I Tess. que tinham semeado o pânico, S. Paulo recomenda que ninguém deixe de trabalhar, na ideia de que o fim do mundo está iminente.

Leitura da Segunda Epístola do Apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos: Vós sabeis como deveis imitar-nos, pois não vivemos entre vós na ociosidade, nem comemos de graça o pão de ninguém. Trabalhámos dia e noite, com esforço e fadiga, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não é que não tivéssemos esse direito, mas quisemos ser para vós exemplo a imitar. Quando ainda estávamos convosco, já vos dávamos esta ordem: quem não quer trabalhar, também não deve comer. Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade, sem fazerem trabalho algum, mas ocupados em futilidades. A esses ordenamos e recomendamos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que trabalhem tranquilamente, para ganharem o pão que comem.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Lc 21, 28

Refrão: Aleluia. Repete-se

Erguei-vos e levantai a cabeça,
porque a vossa libertação está próxima. Refrão

EVANGELHO – Lc 21, 5-19

A propósito do vaticínio de que Jerusalém será destruida, Jesus (ou S. Lucas?) fala do fim de todas as coisas.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava ornado com belas pedras e piedosas ofertas. Jesus disse-lhes: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Eles perguntaram-Lhe: «Mestre, quando sucederá isto? Que sinal haverá de que está para acontecer?». Jesus respondeu: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». Disse-lhes ainda: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu. Mas antes de tudo isto, deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas».
Palavra da salvação.