A EUCARISTIA NO CENTRO DA VIDA – 30-05-2010

1. A Igreja vai celebrar uma vez mais a Festa do Corpo de Deus. É no próximo 3 de Junho, na quinta-feira depois do Domingo da SS. Trindade. O Corpo de Deus tem grandes tradições em Portugal, a última das quais o facto de querer prestar uma homenagem de todos os cristãos ao Santíssimo. Sacramento, presença protectora e tutelar sempre, em todas as situações da vida da comunidade. Desde há séculos que as Câmaras assumiam a procissão do Santíssimo, pelas ruas da cidade. Juntavam-se as pessoas mais gradas da terra, as associações mais prestigiadas, os principais responsáveis pela vida colectiva do Município. O silêncio era entrecortado com cânticos, orações de adoração e acção de graças a Jesus Sacramentado que passeava pelas ruas, mesmo as mais estreitas. Colchas penduradas das janelas, pétalas de rosa a caírem sobre o pálio, e multidões de crentes e não crentes a curvar-se com reverência diante do Senhor que passava. 

2.   O Corpo de Deus foi e será sempre da cidade.

· Recordo-me, criança ainda, da procissão do Corpo de Deus, numa cidade do interior, onde a fé do povo arrastava a cidade inteira para a rua, em louvor que entrava pela noite adentro, com os acordes das filarmónicas e o murmúrio das preces.

· Depois tive a oportunidade de pregar várias vezes em procissões do Santíssimo, numa cidade do sul. Dizia-se que as pessoas não tinham fé, mas todos os homens se levantavam e tiravam o chapéu, ao ver passar o Senhor erguido reverentemente nas mãos do Bispo.

· Finalmente, vou acompanhando a festa do Corpo de Deus nas ruas da Baixa Pombalina, em Lisboa. A cidade pára a ver Jesus passar, sob a forma do pão, numa simplicidade extrema, a revelar-se amor que Ele oferece a todos para vencer as dificuldades e encontrar razões de esperança.

Compreende-se esta adoração à Eucaristia, já que Ela está no centro da vida cristã. São as crianças que, com sete ou oito anos, fazem a sua primeira comunhão. São os jovens que, comungando, encontram força para o difícil caminho de ser cristãos. São os noivos que, na missa do matrimónio, vencem as dúvidas e se aproximam de novo de Jesus, são os pais e avós que fazem da Eucaristia uma oração constante pelos seus, para que sejam felizes. São os doentes e os velhinhos que encontram na comunhão conforto para as suas dificuldades ou as suas esperanças. A Eucaristia é sempre, na vida de cada cristão, fonte de realização, de alegria e de paz. 

3. A Eucaristia, presença real de Jesus sob as espécies de pão e de vinho, tem em si uma extraordinária história de Amor. Jesus, na montanha tivera pena da multidão que O seguia há três dias. Para que não falecessem pelo caminho, quis dar-lhes de comer. Foi a multiplicação dos pães. No dia seguinte aqueles homens e mulheres que tinham sido saciados seguiram-no, à procura de pão. Jesus prometeu então um outro pão, o pão vivo descido do céu, a sua carne e o seu sangue (cf. Jo 6). Muitos não compreenderam e abandonaram Jesus, outros consideraram a conversa muito difícil e partiram também. Foi então que Jesus perguntou aos doze: “e vocês também me querem abandonar?” (Jo 6, 68) a reposta veio de Pedro: “A quem iremos, Senhor, só tu tens a palavra que dá vida” (Jo 6, 69). Só os Apóstolos aceitaram o pão vivo sem condições. Tinha sido a promessa da Eucaristia.

· Na última ceia, Jesus celebrou com os doze a primeira Eucaristia incruenta, no pão e no vinho.

· No Calvário, celebrou a Eucaristia, cruenta, oferecendo-se na cruz, dando a vida para a salvação de todos.

· No altar, em todos os altares do mundo, Jesus, pelas mãos dos sacerdotes, continua a celebrar a fracção eucarística que se repercute na vida de todos os homens.

A partir daí, em todo o tempo e lugar, a Eucaristia constitui a referência essencial da dádiva de Cristo ao mundo, para a grande liturgia do amor que a todos acolhe, a todos serve, a todos reconcilia, a todos redime e a todos salva. 

4. O Concilio Vaticano II deu da Eucaristia uma visão extraordinária, envolvente e empenhativa, convidando a um compromisso de vida para sempre. “A Eucaristia é o sinal da unidade, o vínculo do amor, o banquete da alegria pascal, o memorial da paixão, morte e ressurreição de Cristo”. (S:C:47). Síntese maravilhosa!

· Sinal de unidade – a Eucaristia significa que todos estamos unidos, superando as diferenças, vencendo as dificuldades, somos um só.

· Vínculo de amor – a Eucaristia exprime o amor, compromete no amor e faz-nos crescer num amor fraterno sempre mais comprometido.

· Sacramento de piedade – a Eucaristia aproxima-nos ainda mais do Pai por Cristo, porque é sinal e instrumento da nossa relação de intimidade com Deus.

· Banquete de alegria pascal – a Eucaristia convida sempre à ressurreição, mesmo nos mais difíceis caminhos de vida. Ele oferece-nos o espírito de Cristo que frutifica na alegria e na paz.

· Memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus – a Eucaristia faz-nos entrar definitivamente no mistério pascal. Com Cristo, por Cristo e em Cristo, vivemos para sempre em comunhão com Jesus ressuscitado.

É esta síntese maravilhosa que nos permite compreender melhor que não pode ser-se cristão sem se participar com frequência no mistério eucarístico de Cristo, sem viver a Missa que nos foi dada, para a nossa realização e santidade.
 
5. No dia de Pentecostes celebramos a efusão do Espírito Santo. No Domingo da SS. Trindade, 37 cristãos da comunidade paroquial celebram o Santo Crisma, a sua confirmação na fé. No dia do Corpo de Deus vivemos intensamente o mistério eucarístico. São os três sacramentos da iniciação, Baptismo, Confirmação e Eucaristia que modelam o nosso ser cristão. São a nossa marca, a nossa força, a nossa realização como cristãos

O Prior – Monsenhor Vitor Feytor Pinto

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