1. Todos os anos se celebra, nas comunidades cristãs, a semana da vida. Escolhem-se temas que permitam uma reflexão profunda sobre o direito à vida, a defesa da vida, o dever da vida, a qualidade de vida, a promoção da vida. A data escolhida para esta celebração da vida coincide sempre com o dia mundial da família, o 15 de Maio. É claro que em 2010, a semana de 9 a 16 de Maio estava centrada na presença de Bento XVI em Portugal, pelo que outras celebrações não eram possíveis. De alguma maneira, o Santo Padre, também ele, ajudou os cristãos a olhar para a vida:
· Fez o elogio da vida, no Terreiro do Paço, quando aos jovens pediu: “Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da presença viva de Cristo e da sua amizade gratuita.”
· Falou da vida com qualidade quando, aos homens e mulheres da cultura a quem chamou “fazedores do pensamento e da opinião, […] abertos à fonte primeira e última da beleza […] convidados a ser navegantes do Bem, da Verdade e da Beleza”, promotores da vida em plenitude.
· Pediu uma acção organizada à Pastoral Social para defender a vida, quando “exprimiu o seu apreço por todas aquelas iniciativas sociais e pastorais que procuram lutar contra os mecanismos socioeconómicos e sociais que levam ao aborto”.
· Sugeriu aos Bispos a formação de um laicado maduro, solidário com a completa transformação do mundo. Só assim será possível “terem políticos, intelectuais, profissionais da comunicação social que promovem a vida integral até á sua dimensão contemplativa”.
Em todos os discursos de Bento XVI se sentiu a alegria da vida e o ajudar a entender que o cristianismo tem proposta de felicidade, em Cristo ressuscitado, o único que dá sentido pleno à vida.
2. A promoção da vida com qualidade constitui uma constante presença da Igreja, no seu magistério e, sobretudo, na sua intervenção social. Não é por acaso que são milhares as instituições da Igreja ao serviço dos mais pobres, dos que mais sofrem. As Unidades de Saúde da Igreja e os Centros Sociais de inúmeras paróquias têm sempre o mesmo objectivo: “Que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). O envolvimento da Igreja na defesa e na promoção da vida tem sido uma constante:
· João Paulo II escreveu uma Encíclica lindíssima a que deu o título de Evangelho da Vida. A cultura da vida tem de sobrepor-se à cultura da morte que tem dominado o mundo nos últimos tempos.
· Os Bispos Portugueses, em Nota Pastoral de 2009, pedem para se cuidar da vida, desde a concepção até à morte natural. É um contributo maravilhoso para uma reflexão ética sobre o nascer e o e o morrer.
· Os Centros de Bioética, orientados por muitos cristãos, têm feito um trabalho intenso na formação de profissionais sensíveis à defesa e à promoção da vida. O Instituto da Bioética da UCP e o Centro de Estudos Bioéticos de Coimbra são uma referência em Portugal.
· Os Direitos Humanos exigem o respeito pela vida ao proclamar que “todo o ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança da sua pessoa” (Art. 3º).
· A própria Constituição da República Portuguesa defende a vida ao dizer que a vida humana é inviolável (Art. 24 §1º) e se é inviolável é também indisponível.
Assim se compreende que os códigos deontológicos dos médicos e dos enfermeiros, seguindo o juramento de Hipócrates, tenham consagrado a vida como o primeiro dos direitos e deveres. Os médicos e enfermeiros católicos têm sido garantes da defesa da vida e da devolução da qualidade de vida na medida do possível, quando alguém adoece.
3. A vida é sempre um bem. Foi este o tema que a Comissão Episcopal da Família propôs para este ano. Seja a vida antes de nascer, seja a vida com dificuldades ao longo dos anos, seja a vida na sua fase terminal, a vida é sempre um bem. Assim como viemos à vida sem o pedir, também devemos lutar pela vida sem nunca a destruir. Para reflexão, na semana da vida, foi proposto às comunidades cristãs um guião, com algumas linhas de orientação:
· A vida é um dom a agradecer. “A vida humana é anterior a qualquer projecto pessoal, por isso ninguém é senhor absoluto da sua própria vida e, muito menos, senhor da vida dos outros. A revelação bíblica mostra-nos a existência humana, como resultado da bondade divina.” Obrigado Senhor!
· A vida não é um bem disponível. “Não está à disposição de quem quer que seja, mas tem de ser respeitada como condição básica à realização pessoal”. A obrigação moral de garantir à vida humana especial protecção está codificada no mandamento do Decálogo: “Não matarás”.
· Comprometer a vida é sempre inaceitável. A sociedade actual, preocupada pelo agradável e a felicidade, criou a ideia de sacrificar as vidas inocentes: a da criança cujo nascimento é um peso social, a do idoso que já não tem lugar em casa, sobretudo se está debilitado, a do adversário ou inimigo que se tornou incómodo, a do criminoso a quem se deve dar um castigo radical. Mas toda a destruição da vida é ilegítima, sempre.
· A vida humana nunca perde sentido. O amor para com o próximo “torna-nos capazes de reconhecer a dignidade de cada pessoa, mesmo quando a doença e a idade vierem pesar sobre a sua existência”. O sofrimento pessoal ou a angústia pelo sofrimento do outro não retira à vida humana o sentido que tem que reclamar. Necessário é, em cada situação, descobrir o sentido da vida.
Reflectir sobre tudo isto permite repensar debates que já se fizeram, como o aborto ou a pena de morte, e ajudar a tomar posição em debates que aí vêm, como a eutanásia, ou o suicídio. Repensar a vida é dever dos cristãos.
4. Este é o dia de Pentecostes. Peçamos ao Espírito Santo que nos dê a graça de amar a vida, servir a vida, alegrarmo-nos com a vida e agradecer a Deus a vida que nos deu.
O Prior – Monsenhor Vitor Feytor Pinto