SAGRADA FAMÍLIA – 27 de Dezembro de 2009

«PORQUE ME PROCURÁVEIS? NÃO SABÍEIS QUE EU DEVIA ESTAR NA CASA DE MEU PAI?».

(Lc 2, 49)

I LEITURA –  Sir 3, 3-7. 14-17a  (gr. 2-6.12-14)

“Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe.”

SALMO – 127 (128), 1-2. 3. 4-5 (R. cf. 1)

Refrão:  Felizes os que esperam no Senhor e seguem os seus caminhos.

Ou:       : Ditosos os que temem o Senhor, ditosos os que seguem os  seus caminhos

          II LEITURA – Col 3, 12-21

“Como eleitos de Deus, santos e predilectos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente.”

EVANGELHO –  Lc 2, 41-52

Jesus é encontrado por seus pais no meio dos doutores

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SAGRADA FAMÍLIA

            Enviando seu Filho ao mundo, o Pai quis que Ele “nascesse duma mulher” (Gal 4,4) e fosse formado numa família. A epístola aos Hebreus não receia dizer que Jesus teve de aprender a condição humana (Heb 5,8). Aprendeu com José e Maria a andar, a falar, a comportar-se. Aprendeu o amor sendo muito amado em criança, crescendo entre um homem e uma mulher que gostavam muito dele, e que gostavam um do outro na alegria e na paz. Formou os seus próprios critérios dialogando com os pais; que, sem Lhe imporem as suas próprias opiniões e perspectivas, tinham perspectivas e opiniões que eram para Ele convite à reflexão.

             Ultrapassámos hoje aquela concepção para a qual liberdade significa estar no mundo sem relações. Compreendemos portanto que o Pai não tenha achado que era uma limitação para seu Filho receber de Maria um dado conteúdo genético (necessariamente finito), aprender a falar a língua daquele povo (e não as línguas todas), ser inserido naquela cultura (que tinha valores e defeitos), receber o influxo das personalidades de seus pais (que, sendo santos, não eram iguais a Deus).

            O que foi bom para Jesus é também bom para cada um de nós. Por isso, é muito importante que a Igreja recorde o valor da família.

             É verdade que a família, como tudo o que é humano, evolui ao longo da História. É verdade que a dignidade do homem e da mulher, a liberdade da criança e dos adultos, devem ter hoje expressões mais ricas que no passado, não se esgotam nas formas que foram boas em certas civilizações que nos servem de referência.

             Mas é também verdade que nos nossos dias a família está a experimentar uma crise profunda, de consequências verosimilmente muito graves. O amor do homem e da mulher aparece cada vez mais como provisório, como uma aventura intensa e fascinante da afectividade e da sexualidade, mas a manter enquanto for boa para os dois. Aparece como um bem de consumo importante; mas, como todas os bens de consumo, de duração limitada.

             A confirmar-se esta tendência, haverá cada vez menos crianças – e depois menos jovens e menos adultos – a terem crescido, como Jesus, num ambiente de amor e de paz, num ambiente de maturidade e de dom. Os educadores estão já colocados perante este facto: de ano para ano recebem crianças mais frágeis, mais instáveis, de relacionamento mais difícil. Mas tenhamos a coragem de ir mais longe: o amor fiel do homem e da mulher aparece na Escritura como uma projecção do amor de Deus. Na Igreja há celibato e há casamento. Muitas vezes a preocupação de defender o celibato levou pessoas da Igreja a minimizar o casamento. Mas a boa tradição cristã reconheceu sempre que um amor grande e fiel entre um homem e uma mulher é um convite à fé em Deus. A morte do amor humano é assim uma grande machadada na fé.

            Lê-se nesta missa um trecho muito importante de S. Paulo (Col 3,12-21). S. Paulo não tem a ilusão de que a santidade seja um tecido contínuo de heroísmos vistosos. Sabe que o mais difícil é que o cristão seja capaz de enfrentar de ânimo igual as cruzes grandes e as cruzes pequenas, o martírio e o cinzento dos dias sem luz. “Como eleitos de Deus,… enchei-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, serenidade e paciência. Aturai-vos uns aos outros e perdoai, se tiverdes alguma razão de queixa. Acima de tudo, tende amor,… reine nos vossos corações a paz de Cristo, vivei em acção de graças.” Palavra que diz respeito à vida do cristão na terra, mas nomeadamente à vida em família.

P.e João Resina Rodrigues (in a Palavra no Tempo II)     

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