“O PUBLICANO DESCEU JUSTIFICADO PARA SUA CASA E O FARISEU NÃO”
(Lc 18, 14)
I LEITURA – Sir 35, 15b-17.20-22a (gr. 12-14.16-18)
O Senhor é o juiz verdadeiro. A oração do homem atinge o céu. Feliz daquele que tem a humildade de pedir.
Leitura do Livro de Ben-Sirá
O Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas. Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não despreza a súplica do órfão, nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça.
Palavra do Senhor
SALMO -33 (34), 2-3.17-18.19.23 (R. 7a)
Refrão: O pobre clamou e o Senhor, ouviu a sua voz.
Ou: O Senhor ouviu o clamor do pobre
A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes. Refrão
A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.
Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as angústias. Refrão
O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que n’Ele confiam. Refrão
II LEITURA – 2 Tim 4, 6-8.16-18
«(…) o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. (…)O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste».
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo S. Paulo a Timóteo
Caríssimo:
Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. Na minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado: todos me abandonaram. Queira Deus que esta falta não lhes seja imputada. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amen.
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 18, 9-14
O fariseu e o publicano.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».
Palavra da salvação.
XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM (Comentários do P.e João Resina in a Palavra no Tempo I e II)
O publicano era pecador. Teve a coragem de se ver no espelho de Deus, de aceitar a sua imagem, de pedir perdão. Saiu do templo justificado, quer dizer, tornado justo.
O fariseu nunca tinha roubado, nunca fora infiel à mulher, não perdia uma missa, rezava a todas as horas prescritas. (Jesus não o acusa de mentira). Saiu do templo mais pecador do que tinha entrado.
Aquilo que Deus nos pede é o amor e não a simples justiça. Ora nenhum de nós ama se não for um bocadinho frágil: é a nossa limitação (junta com a nossa sede de infinito) que nos faz encontrar graça no outro, gostar dele, descobrir a partilha e o dom. (Deus é diferente: gosta absolutamente de nós porque é infinitamente bom). Quando se é perfeito como o fariseu, o outro só nos causa fastio e desdém. «Dou-vos graças por não ser como os outros homens». Resulta, em boa lógica, uma consequência, que o fariseu não recusa tirar: ele e Deus formam o conjunto dos perfeitos, complementado pelo conjunto dos «outros homens». Por isso fala, de pé, com o seu igual.
Dizemos às vezes que os pecados só são pecados se existir «plena advertência». Mas o fariseu já não entende a sua própria mentira. Imagina que é religioso, mas não vê que nada do que faz tem relação com o Deus vivo.
Suponho que o senhor contou esta história para tentar convencer-nos de que cada um de nós é 10% de publicano e 90% de fariseu. Fôssemos nós capaz de nos ver no tal espelho e pedir a graça da conversão.
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DIA MUNDIAL DAS MISSÕES
Ao despedir-se dos Apóstolos, o Senhor mandou que partissem a anunciar a Boa Nova. Fizemos alguma coisa, continua a haver muito que fazer. E os dados do problema vão mudando. Houve uma altura em que supusemos que Cristo era suficientemente conhecido nas terras civilizadas, que bastava aí uma pastoral de manutenção e de espiritualidade; e que era nas terras bárbaras que se fazia o primeiro anúncio. Neste tempo de TV quase universal, todos ouviram falar do cristianismo (mesmo que de maneira incorrecta), todos estão sujeitos à tentação do novo paganismo. Temos de inventar uma “nova evangelização” para os países “civilizados”, temos de fazer um “novo primeiro anúncio” para os povos do Terceiro Mundo.
O Dia Mundial das Missões olha sobretudo para a missionação junto dos povos mais atrasados e mais pobres. É sabido que as Missões têm inúmeras dificuldades: a adaptação dos missionários e missionárias a culturas e climas muito diferentes, a solidão, a falta de meios perante searas tão vastas, às vezes as perseguições. Bom era que pudessem contar, ao menos, com a simpatia, a amizade e a ajuda de todos os cristãos. Sempre as Missões se preocuparam com duas coisas: o anúncio do Evangelho e a ajuda dos pobres e doentes.
Nas últimas décadas, muitos jovens universitários, rapazes e raparigas, têm decidido gastar o tempo de férias a trabalhar em alguma destas tarefas numa Missão. Jovens licenciados, solteiros ou em casal, têm dado alguns anos da sua vida às terras de missão. Penso que estas iniciativas são extremamente importantes e sugerem desenvolvimentos. Toda a gente sabe que o mundo nunca foi globalmente tão rico e localmente tão afundado na miséria. Penso que – já que mais ninguém o faz – a Igreja tem de encabeçar uma nova cruzada: em prol da justiça, sem armas. Ora uma das “cabeças de ponte” desta cruzada podiam ser as missões. Era preciso que, sem descurar a evangelização, as missões trabalhassem cada vez mais na salvação humana das populações com que contactam. Há que lutar contra a fome, a doença e a guerra.
Todos os anos morrem à fome 30 milhões de pessoas, mas o mundo produz alimentos em mais 10% do que era necessário (os excedentes ou ficam armazenados em silos, ou são destruídos para que os preços não baixem). Era essencial que a Igreja “obrigasse” os governos das nações ou, pelo menos, os cristãos ricos a comprar esses excedentes e a enviá-los para as populações que estão a morrer. Mais de mil milhões de pessoas no mundo bebem água imprópria, que lhes transmite doenças. As missões deviam empenhar-se no abastecimento de água em boas condições. Mil milhões de pessoas não têm cuidados básicos de saúde, a malária e a sida matam muitos milhões de pessoas por ano. As missões devem empenhar-se cada vez mais neste trabalho. É preciso racionalizar a agricultura e a indústria nos países pobres, tantas vezes tornadas estéreis pelas exigências do comércio colonialista. É preciso que todos os homens e todas as mulheres aprender a ler e possam prosseguir estudos. É preciso lutar contra as absurdas guerras tribais, vivendo um amor verdadeiro.