OS NOSSOS SANTOS – 31 de Outubro de 2010

1. Todos os anos, a 1 e 2 de Novembro, a Igreja celebra a festa dos Santos. Recordam-se todos aqueles que viveram na terra em comunhão com Jesus Cristo e já estão na casa de Deus, mesmo que deles não saibamos os nomes, e também aqueles que podem ainda esperar um encontro definitivo com o Senhor depois de uma última purificação. Quer no Céu, quer no Purgatório todos são santos, embora alguns não tenham atingido ainda a plenitude da comunhão com o Senhor. Além destes, pode também dizer-se que são também santos os que, ainda na Terra, procuram viver em comunhão plena com Jesus. Nas primitivas comunidades cristãs os crentes chamavam-se de santos. É a linguagem de Paulo ao saudar os santos de Éfeso, de Corinto ou de Tessalónica: Quem são os nossos santos?

• São santos os que nos precederam na fé e de quem devemos aceitar o testemunho. É esta a expressão de Pedro no seu primeiro discurso no dia de Pentecostes (cf. Act 2, 39).

• São santos os nossos protectores e que por nós foram escolhidos por terem o nosso nome ou por nos tocar mais o seu carisma.

• São santos os nossos familiares que tendo partido para Deus os reconhecemos exemplo nas suas virtudes, na sua fé, no seu projecto de vida. Quem não recorda o pai e a mãe se estes já estão junto de Deus?

• E até cada um de nós deve ser santo, procurando no esforço continuado, identificar-se cada vez mais com o Evangelho de Jesus levando-o à prática de todos os dias.

É a vida de todos estes que a Igreja celebra no Dia dos Santos. Esta festa é memória, é intercessão, é compromisso: memória para evocar exemplos a seguir, intercessão para pedir auxílio na dificuldade, compromisso para renovar radicalmente a vida.

2. Todos os cristãos são chamados à santidade. Já no Antigo Testamento Deus falava aos crentes com esta expressão “sede santos como Eu sou Santo”. Na carta aos Efésios, Paulo diz: “sede dignos da vocação a que fostes chamados” (Ef 4, 1), isto é, vocação à santidade. O mesmo Apóstolo noutra das suas cartas tem a coragem de dizer: “sede meus imitadores como eu sou de Jesus Cristo”, o que equivaleria a querer identificar-se com Cristo, isto é, a ser santo.

• A santidade consiste “na plena e perfeita união com Cristo” (LG.50). Esta visão do Concílio constitui um apelo permanente porque o cristão, mais do que seguir exemplos, quer identificar-se com a pessoa de Jesus, e é isso a santidade.

• O caminho da santidade para ser verdadeiro, passa pela oração, experiência vital de Deus, e pela caridade, serviço de amor sobretudo aos mais pobres e aos que mais sofrem. São estas as regras de conduta que atiram para a comunhão com Jesus.

• As Bem-Aventuranças revelam os sinais da santidade verdadeira: a pobreza de coração, a verdade nas atitudes, o perdão e a misericórdia, a construção da paz.

• Esta comunhão plena e perfeita com Cristo, porém, não é possível sem a comunidade de irmãos, uma vez que o próprio Jesus disse que todos têm que ser um só, como Ele e o Pai são um só. E é nesta unidade plena que Jesus se revela totalmente.

Facilmente se compreende que a chamada à santidade é universal. Todos os cristãos, todos os baptizados, todos são convidados a ser santos. É condição indispensável para a adesão à pessoa de Cristo na Igreja.

3. Muitos dos nossos santos, as pessoas que mais amamos, podem já ter partido para Deus. Recordamo-los com maior ternura nestes dias. É um velho poeta que o disse um dia ao celebrar o Natal. Chamou-lhe Natal das sombras: “vêm as sombras hoje ter comigo/ vêm as sombras num cortejo lento/ vêm as sombras a pedir-me abrigo/ ou sou eu que as procuro em pensamento/ primeiro a sombra do meu pai…” (Miguel Trigueiros). O poeta recorda depois todos os que partiram e que ele sabe vivos na casa de Deus. A esta evocação quis a Igreja chamar a 2 de Novembro Dia dos Fiéis Defuntos, ou Dia de Finados.

• Recordar os que deixaram a terra dos vivos não pode ser expressão de tristeza. Sendo saudade é também expressão de amor. Mais do que fotografias ou de cartas que relemos é a oração que nos faz próximos e nos revela a verdade da ressurreição.

• Fazer oração é então um imperativo de consciência, porque rezando pelos que nos deixaram pedimos-lhes também que nos esperem no banquete definitivo na casa do Pai.

• Repartir os nossos bens pelos mais pobres é também uma forma de sufrágio, repetindo gestos que os nossos fariam se ainda estivessem connosco, querendo aliviar o sofrimento dos mais carenciados.

• Finalmente, viver como cristão em todas as situações da vida, acaba por ser a melhor forma de continuar aqui os valores que ao longo do seu caminho nos ensinaram.

O Dia dos Fieis Defuntos não pode ser um dia de lágrimas. As flores que oferecemos são vida, as preces que fazemos são ternura, as Eucaristias que celebramos são certeza de ressurreição. Para os crentes “a vida não acaba, apenas se transforma, e desfeita a tenda do exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna” (2 Cor 5, 1-2).

4. A vida e a morte são sempre um mistério. É em Cristo Jesus Ressuscitado que se decifra este grande enigma. De Deus recebe o homem o dom da vida e, quando a natureza atinge os seus limites, Deus espera o homem para lhe dar uma vida imortal. O corpo mortal é transformado à imagem do corpo glorioso de Cristo Ressuscitado. Com razão Paulo nos diz, perante o mistério da morte, que não fiquemos tristes como os pagãos que não têm esperança: “Como Cristo ressuscitou todos vamos ressuscitar” (1 Ts 4, 13-18).
Na nossa Comunidade do Campo Grande, estes dias de Novembro, sendo dias de saudade, são também tempo de acção de graças por quanto recebemos do Deus da vida.

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