«JESUS LEMBRA-TE DE MIM, QUANDO VIERES COM A TUA REALEZA»
(Lc 23, 42)
I LEITURA – 2 Sam 5, 1-3
As tribos de Israel conferem a realeza a David, na esperança de que ele seja o artífice da unidade.
Leitura do Segundo Livro de Samuel
Naqueles dias, todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Nós somos dos teus ossos e da tua carne. Já antes, quando Saul era o nosso rei, eras tu quem dirigia as entradas e saídas de Israel. E o Senhor disse-te: ‘Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás rei de Israel’». Todos os anciãos de Israel foram à presença do rei, a Hebron. O rei David concluiu com eles uma aliança diante do Senhor e eles ungiram David como rei de Israel.
Palavra do Senhor.
SALMO – 121 (122), 1-2.4-5 (R. cf. 1)
Refrão: Vamos com alegria para a casa do Senhor.
Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém. Refrão
Jerusalém, cidade bem edificada,
que forma tão belo conjunto!
Para lá sobem as tribos,
as tribos do Senhor. Refrão
Para celebrar o nome do Senhor,
segundo o costume de Israel;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David. Refrão
II LEITURA – Col 1, 12-20
Cristo é Senhor de todas as coisas. É o primogénito dos mortos. NEle reside toda a plenitude. Pelo seu Sangue, derramado na cruz, estabeleceu a reconciliação e a paz.
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos: Damos graças a Deus Pai, que nos fez dignos de tomar parte na herança dos santos, na luz divina. Ele nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados. Cristo é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; Porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.
Palavra do Senhor.
EVANGELHO – Lc 23, 35-43
Pilatos e a populaça imaginam que escarnecem de Jesus tratando-O por Rei.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
Palavra da salvação.
CRISTO REI – Comentários do P.e João Resina (in a Palavra no Tempo II)
No último domingo do tempo comum, como remate de um ano de oração, a Igreja celebra a festa de Cristo Rei.
Tem sentido proclamar que Cristo é Rei. Porque, com o Pai e com o Espírito Santo, Ele é Deus, Criador e Senhor do Céu e da Terra. E porque queremos segui-lo: queremos que o seu caminho na Terra oriente os nossos caminhos.
S.Paulo recorda que Cristo, “sendo embora de condição divina, (…) se despojou a si mesmo tomando a condição de servo obedecendo até á morte de cruz” (Fil 2,7-9) e foi “proclamado Filho de Deus em todo o seu poder…, pela ressurreição de entre os mortos” (Rom 1, 4).
Importa não esquecer nunca que Cristo não quis ser rei à maneira da Terra. Mandou dar “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”(Mat 22,21), retirou-se quando um grupo de exaltados o quis aclamar como rei (Jo 6,14-15), rejeitou a ideia do demónio, que lhe dizia que é impossível fazer uma obra duradoura neste mundo se não se controlar o poder, o dinheiro e a propaganda (Mat 4,3-11), recomendou com firmeza aos seus discípulos que se acautelassem contra esta tentação: “Sabeis que os chefes das nações governam como donos, e que os grandes gostam de exercer o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser ser grande, faça-se servo de todos; quem quiser ser o primeiro, faça-se o último. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate da multidão” (Mat 20, 25-26 = Mc 10,42-43 = Lc 22,25-26). A Pilatos, que o interrogava a respeito da sua realeza, respondeu: “A minha realeza não é deste mundo. Se a minha realeza fosse deste mundo, teria soldados a lutar por mim. Mas o meu Reino não é de cá.” (Jo 18,33-36). E, insistindo Pilatos: “mas sempre és rei…”, Jesus declarou: “É como dizes, sou Rei. Para isso nasci, para isso vim a este mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que é da Verdade escuta a minha voz.” (Jo 18,37). Dias antes, tinha querido cumprir uma estranha profecia do Antigo Testamento: “Eis que o teu Rei vem a ti, justo e vitorioso, humilde, montado num jumentinho.” (Zac 9,9).
A Igreja é testemunha de Jesus Cristo. Tem de anunciar a sua realeza. Mas é óbvio que não pode fazer este anúncio contrariando o exemplo que Ele nos deixou. Isto significa que a Igreja não pode ambicionar ser um poder entre os poderes do mundo. Como há tempos escreveu o Cardeal Patriarca, a Igreja “deixará de se afirmar como poder e terá que se afirmar muito mais como sinal, um sinal profético, um sinal de esperança, uma proposta de outra dimensão do homem”.
A Igreja, a comunidade dos cristãos, tem de tornar evidente que acredita num Reino, que tem a paixão dum Reino, que é exigência de comunhão com Deus e com os homens, na justiça, na paz, na alegria. E continua a ser óbvio que esta crença só será tomada a sério se nas nossas famílias, nas nossas empresas, na nossa maneira de fazer política, na nossa relação com o dinheiro e os bens da Terra, resplandecer a honestidade, a limpidez, a generosidade, a convicção de que a dignidade e a liberdade de cada homem está acima do direito à propriedade e ao lucro.
Mais: só seremos tomados a sério no dia em que começarmos a trabalhar com afinco na superação da miséria, da doença, da ignorância, da violência e de todos os totalitarismos. A Igreja tem de mostrar, por palavras mas sobretudo por obras, que não ambiciona riquezas, que não precisa de poder: está interessada num Rei e num reino, mas o seu trabalho é dar testemunho da verdade.