1. Com o primeiro domingo do Advento começa um novo Ano Litúrgico. Se “a Liturgia é o exercício da função sacerdotal de Cristo” (SC. 7), como diz o Concílio Ecuménico Vaticano II, então na liturgia celebramos os grandes mistérios de Jesus. Assim surgiram ao longo dos séculos os três ciclos: do Natal, da Páscoa, do Tempo Comum. O primeiro mistério a ser celebrado foi a Páscoa, com o Tríduo Pascal, intensamente vivido no primeiro século do cristianismo. No ano 354 foi instituído o Natal. Não podia celebrar-se a Páscoa do Senhor, a sua vida, a sua Morte e a sua Ressurreição sem reflectir-se sobre o nascimento de Jesus. O proto-Evangelho de Lucas já descrevia o mistério do nascimento de Jesus. Importava consagrar-lhe uma festa. Os romanos celebravam a 25 de Dezembro a festa do Sol Invicto. Os cristãos consideraram que o Sol por excelência, o Sol Invencível, é Jesus. Por isso atribuíram o nascimento de Jesus ao 25 de Dezembro. Porém, só por volta do ano 600 a Igreja sentiu ser necessário preparar a festa do Nascimento de Jesus. Foi assim instituído o Advento, 4 semanas para preparar o Natal, Advento que, numa tradução directa, significa “para a vinda”, isto é, preparação para a chegada do Messias, do Salvador do Mundo.
• No primeiro Domingo os cristãos são chamados a estar vigilantes, porque o tempo novo que vem com Jesus tem de se tornar um tempo de esperança. Daí a atenção aos acontecimentos, o alerta permanente, a intervenção serena, para repensar o mundo à luz de Jesus que vai nascer.
• O segundo Domingo faz um apelo à conversão. É João Baptista que diz “Arrependei-vos porque está próximo o Reino de Deus” (Mt 3, 2). Sem um coração novo, liberto da maldade, não é possível aceitar Jesus o Salvador. A meio do Advento faz bem converter o coração.
• O terceiro Domingo faz referência aos sinais messiânicos. Jesus responde a João Baptista que lhe pergunta se é Ele que está para vir. Jesus dá, então, a primeira prova de que é o Messias “Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados” (Mt 11, 4). Não é possível evangelizar sem sinais claros do Reino de Deus. Por isso, os cristãos têm de dar sinais de verdade, de justiça, de liberdade e de amor.
• O quarto Domingo revela o plano de Deus, muitas vezes incompreendido pelos homens, mas autêntico Plano de Salvação. Foi o que aconteceu com José, que não entendia, mas acabou por aceitar o desafio de tal maneira, que ao seu filho legal deu o nome de Jesus que quer dizer, Salvador.
O caminho do Advento é um todo que, desde o primeiro domingo, deve ser percorrido em termos de preparação autêntica, para um Natal de compromisso. Para o cristão, o Natal é mais que uma festa, é sobretudo uma responsabilidade, a de tornar Cristo presente no Mundo.
2. Prepara-se um Natal de austeridade e de partilha. O mundo de hoje não é muito diferente do tempo de Jesus. Há muitos pobres, há muitos que não têm trabalho, há muitos que param à porta dos templos. Jesus veio para aqueles que não tinham ninguém e a Sua proposta, sendo de Salvação, era uma proposta de justiça, de liberdade e de amor. O nosso Natal, para ser cristão, tem que repetir gestos de solidariedade e de partilha.
• O Natal cristão é mais do que festas nas escolas ou nas empresas, é a descoberta de Jesus no mais pequenino dos nossos irmãos.
• Os presentes de Natal dos cristãos não podem ser motivados pelo marketing que anuncia brinquedos caros para as crianças. Devem ser antes convite simples a que se faça presente Jesus junto dos que mais sofrem ou estão mais sós.
• A consoada tradicional é com certeza festa de família, mas os cristãos são chamados a introduzir nela a reconciliação, o amor e a ternura, depois de tempos difíceis que abriu brechas nas relações humanas.
• Os festões com luzinhas a cintilar, ou com azevinhos verdes e vermelhos, são sinal de festa mas, para o cristão, é festa ainda maior quando se reveste a vida de sinais luminosos de ternura, carinho, de amor. E há muita gente à espera do Natal para se sentir amado.
• Os cantares de Natal podem contemplar também, para os cristãos, momentos de oração, de diálogo com Deus, de experiência do carinho de Jesus, que dando a vida o faz para que todos cheguem à Salvação, isto é, à felicidade duradoura.
Tudo isto ajuda a preparar o Natal desde o primeiro Domingo do Advento. Um Natal de austeridade é necessariamente um Natal de maior partilha. Pode gastar-se o mesmo, mas é muito maior o número dos que são beneficiados. Assim, uma onda de amor vai invadindo as nossas vidas tornando-se contagiante para um tempo novo que deve ser de alegria diferente, da alegria que nasce no coração do homem.
3. Durante o tempo do Advento os cristãos têm consigo extraordinários companheiros de caminho. Ajudam-nos muito neste tempo de preparação para o Natal:
• Isaías traz-nos propostas de Esperança. É preciso acreditar que o mundo pode ser diferente, pode ser melhor.
• João Baptista convida a olhar para Jesus, o Cordeiro de Deus, Aquele que veio para salvar. Compreende-se então que nos peça para darmos uma camisa se temos duas, a contentar-nos com o salário, mesmo que não seja muito abundante, a acolher a todos como companheiros de jornada.
• Maria ensina-nos a dizer sim. “Servirei o Senhor como Ele quiser” (Lc 1, 38). É um lema de vida que, nascido nas vésperas de Natal, pode moldar todos os nossos caminhos. O próprio evangelista Mateus, que este ano nos guia, constitui apelo a uma redescoberta cada vez maior, de Jesus o Salvador do Mundo.
Com estes companheiros de caminho é mais fácil percorrer este itinerário do Advento, transformando o Natal em tempo de partida para uma vida mais vivida segundo os valores do Evangelho.
4. Na comunidade da Paróquia do Campo Grande há iniciativas várias para prepararmos em conjunto a celebração do Natal. Vamos estar atentos às propostas e vamos viver lado a lado com nova alegria o Natal de austeridade e de partilha que nos é pedido.