SER VOLUNTÁRIO, UM DEVER DE CIDADANIA – 30 de Janeiro de 2011

1. A Comissão Europeia quis consagrar o ano de 2011 à promoção do voluntariado. O ano de 2010 foi dedicado à luta contra a pobreza e exclusão social. O ano de 2012 terá como lema o apoio ao envelhecimento activo. Entre estes dois anos a Europa é convidada a mobilizar-se para, através do voluntariado, responder a muitos desafios que se colocam na sociedade. Compreende-se, uma vez que há 94 milhões de voluntários na Europa que, num trabalho generoso, podem oferecer novas esperanças a uma sociedade em crise. Em Portugal escolheu-se um lema: “Sê voluntário! Faz a diferença.” É muito bonito este slogan, porque, numa sociedade preocupada com o dinheiro, o trabalho gratuito ao serviço dos outros constitui uma proposta diferente em que o essencial não é o lucro, mas o serviço de amor.

2. Poderá perguntar-se então o que é o voluntariado: é um conjunto de iniciativas que têm como objectivo ir ao encontro das necessidades dos outros, a quem se serve gratuitamente, nas áreas em que as pessoas só por si têm dificuldade em ter realização e sucesso; é uma expressão de solidariedade social, no apoio aos mais pobres, aos que mais sofrem, aos que estão sós; é também um processo de realização da pessoa que se dispõe a servir gratuitamente, para o maior bem dos outros; é finalmente um sinal de cidadania em que as pessoas dispõem do seu tempo para apoiar programas que dão valores novos à sociedade, com propostas de humanização e de igualitarização. A intervenção do voluntário pode acontecer na acção social, como na educação, na arte e na cultura, na saúde, e em tantos outros campos onde não basta uma competência técnica, mas é necessária uma presença humana, para ajudar todos a serem felizes. Há três formas de voluntariado:

O voluntariado espontâneo é realizado na ajuda que se faz a quem quer, numa situação pontual, para que uma pessoa em dificuldade possa encontrar algo de melhor no seu caminho. Ajudar uma pessoa que cai na rua, conduzir um invisual que pede ajuda, convidar alguém para almoçar no café mais próximo, estes e tantos outros gestos são formas de voluntariado espontâneo.

• O voluntariado individual é realizado por alguém que programa uma ajuda e o faz gratuitamente. Dar explicações a uma criança com dificuldade, visitar programadamente uma pessoa que está só, dentro do mesmo prédio, ajudar economicamente uma família durante algum tempo, tudo isto constitui um voluntariado individual assumido exclusivamente por uma pessoa que se compromete a estar presente no infortúnio do outro.

O voluntariado organizado é outra coisa. É um conjunto de pessoas que se associam numa estrutura e se propõem responder a grandes problemas que afectam a sociedade. Os grupos de voluntários desenvolvem a sua acção de uma maneira organizada num hospital (saúde), num centro social (acção social), numa biblioteca (cultura), numa paróquia (religião).

Para o cristão, ser voluntário é um acto de amor. De facto, o cristão deve fazer a diferença e pode, integrado numa estrutura, responder aos graves problemas que a sociedade hoje está a viver. O serviço gratuito é a marca do voluntário e a gratuidade não é só económica: é também social, política, cultural, uma vez que, através do trabalho realizado, não se pretende outra coisa senão o servir a quem está carenciado.

3. A organização do voluntariado exige 4 fases, para um trabalho eficaz. Ao voluntário não basta a boa vontade, não basta o tempo livre, não basta uma cultura suficiente ou ter bom-nome na cidade. O voluntariado eficaz exige a selecção dos voluntários, a sua formação, o seu enquadramento na estrutura e a avaliação frequente do seu trabalho.

A selecção exige-se para a escolha de pessoas que tenham as qualidades necessárias para o trabalho que lhes é atribuído. Sobretudo, quando se age com outros, aos voluntários pede-se uma sensibilidade para saber estar, para respeitar os que são diferentes, para ajudar sem ferir a pessoa mais carenciada. Trabalho difícil mas necessário.

A formação é indispensável. Por muitos cursos que alguém tenha é fundamental aprender a ser voluntário, o que pede o conhecimento da pessoa humana, com as suas qualidades e limites, a aprendizagem da acção que se vai desenvolver no conjunto do projecto em que se está inserido e saber relacionar-se com todos os outros num testemunho de alegria que faz crescer a comunidade.

A organização é o segredo do êxito. Num trabalho organizado cada voluntário sabe o que faz, quando o faz, como o faz, com quem o faz. De tudo isto resulta um ambiente propício aos resultados que se pretendem. A avaliação não é um processo doloroso em que se apontem as falhas, é antes uma oportunidade única para analisar o caminho percorrido e reconhecer tudo o que se fez bem, compreendendo que há coisas que se podem fazer melhor.

Um voluntariado que não tenha este mínimo de organização, longe de resolver problemas, cria problemas mais difíceis de solucionar. A organização facilita a eficácia e resulta em alegria para todos.

4. Em tempo de Nova Evangelização, quer João Paulo II, quer Bento XVI têm feito grande apelo ao trabalho voluntário dos cristãos. Este trabalho voluntário não se realiza apenas nas comunidades cristãs. Deve realizar-se na cidade onde o testemunho cristão é, de per si, expressão da gratuidade que marca o voluntariado. De facto, o cristão em todo o lugar tem de fazer a diferença. Profissional ou não profissional, em trabalho ou na reforma, qualquer que seja a idade ou a cultura, o cristão talvez deva descobrir duas ou três horas por semana para oferecer um trabalho gratuito à sociedade. É o melhor testemunho de que fala Paulo VI na Evangelii Nuntiandi (21): “acolher e compreender toda a gente, ser solidários com os mais pobres, viver em comunhão de vida e de destino com o povo de que se faz parte”.
Na próxima Folha Informativa teremos oportunidade de conhecer o voluntariado na nossa Paróquia.

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