1. A Nova Evangelização constituiu para João Paulo II o maior desafio pastoral. Por três vezes o Papa insistiu no anúncio do Evangelho com novo ardor, novos métodos e novas expressões. Foi neste contexto que João Paulo II instituiu, em 1985, a Pastoral da Saúde. Até ele a Igreja tinha o cuidado dos doentes, dando-lhes os sacramentos e preparando-os para os momentos mais difíceis da vida, até mesmo para a proximidade da morte. Em termos de Nova Evangelização, a Pastoral dos Doentes foi convertida em Pastoral da Saúde, uma vez que não é só no tempo da doença que a Igreja se preocupa com as pessoas. Quando com saúde é necessário assegurar a prevenção das doenças e quando doentes é necessário tudo fazer para a mais qualidade de vida. Assim, a Pastoral da Saúde educa para a saúde, acompanha em tempo de tratamento, prepara para os tempos de maior dificuldade e assegura mesmo o sacramento do viático que é apoio para a viagem a fazer no fim da vida. Com a Pastoral da Saúde:
• Assiste-se a pessoa no seu todo, e não apenas no tempo das grandes crises ou na proximidade da morte.
• Acompanha-se o doente não apenas nos hospitais mas também no domicílio com o envolvimento da comunidade paroquial.
• Apoia-se espiritualmente o enfermo com a presença do sacerdote, pároco ou capelão, mas também com a presença continuada de leigos especialmente preparados para isso.
• Previnem-se as crianças, os jovens, os adultos e os idosos por uma educação que promova estilos saudáveis de vida.
• Envolve-se toda a comunidade cristã nos problemas grandes ou pequenos que qualquer pessoa pode ter no seu percurso de vida com um objectivo único: “Que todos tenham vida e a tenham em abundância.”
Se a saúde é uma situação de bem-estar bio-psico-social e espiritual, as comunidades cristãs têm que tudo fazer para garantir mais qualidade à vida de cada um dos seus membros. É esta a Pastoral da Saúde.
2. Em 1992, o mesmo Papa, João Paulo II, sugeriu a toda a Igreja a celebração do Dia Mundial do Doente. Desde então, o Papa envia uma mensagem a todo o Povo de Deus sobre uma temática ligada à saúde, e sugere o acompanhamento das pessoas fragilizadas pela doença propondo a visita e a oração com o normal cuidado dos tratamentos médicos e de enfermagem. É nesta circunstância que a Pastoral da Saúde e a Pastoral Social se dão as mãos para o serviço integral à pessoa que sofre.
Este ano o Papa Bento XVI continua a proposta do seu antecessor. Convidou todo o Povo de Deus a celebrar o XIX Dia Mundial do Doente sob o lema: “Ver o homem que sofre com um olhar de contemplação”. Pode comentar-se este extraordinário slogan:
• Ver: este apelo supõe a atenção suficiente para descobrir quem, à volta de cada um, tem necessidades urgentes. Foi a atitude do samaritano na estrada de Jericó: viu o homem caído na estrada e aproximou-se.
• O homem que sofre: trata-se de uma pessoa concreta, a quem é preciso cuidar, com problemas físicos ou psicológicos, com a surpresa de uma doença grave ou com a angústia da proximidade da morte, no silêncio de uma UCI ou na solidão do domicílio que já não tem ninguém. É a este homem que é urgente servir até às últimas consequências.
• Com um olhar de contemplação: nesta expressão está a originalidade de Bento XVI que convida todos os cristãos a olhar para o homem sofredor como presença viva de Jesus Cristo. Foi Jesus que disse: “o que fizeres ao teu irmão é a mim que o fazes” (cf. Mt 25, 40). Assim sendo, estar com o doente faz sempre um apelo a contemplar a pessoa de Jesus, a estabelecer com Ele uma relação, a descobrir n’Ele o sentido da vida, ainda que seja em fase terminal.
Com este lema, Bento XVI convida todos os cristãos a serem Apóstolos em Pastoral da Saúde. Não há família que não tenha doentes, não há pessoa que não tenha um amigo que adoeceu inesperadamente, não há comunidade cristã que não tenha um grande número de enfermos à espera de companhia e de ternura. Ver em cada doente o rosto de Jesus sofredor é um desafio à contemplação e à descoberta dos gestos que tornam mais suaves os tempos da dor.
3. Em Portugal, a Pastoral da Saúde procurou converter o slogan do Papa num gesto pastoral muito concreto. Foi por isso que escolheu para o 11 de Fevereiro de 2011 uma proposta: “Acompanhar a pessoa doente, um desafio para o cristão”. A ideia-chave é a mesma, a prática pastoral é mais concreta, envolvendo cada um num trabalho de amor que com facilidade quem quer pode viver.
• Acompanhar: para apoiar um doente não é suficiente uma “visita de médico”, uma passagem rápida de “toca e foge”, é fundamental o estar presente de uma forma continuada de tal maneira que o doente sinta que é amado, e que se procura resolver o seu problema qualquer que ele seja. Esta é a terapia de “compaixão”, isto é, “estar com”, fazer seu o problema do outro.
• A pessoa doente: homem ou mulher, criança ou idoso, toda a pessoa deve ser acompanhada, seja simpática ou menos simpática. O ser humano é um ser global; quando adoece é afectado no seu todo bio-psico-social e espiritual. É nesse todo que deve ser acompanhado.
• Um desafio: pergunta-se muitas vezes o que é preciso para ser cristão e responde-se que é necessário ir à missa. O desafio essencial do ser cristão é, porém, o amar. “Que vos ameis uns aos outros como eu próprio vos amei, por isso vos conhecerão como meus discípulos” (Jo 13, 34-35). Acompanhar é uma forma eminente de ser cristão.
• Para o cristão: o apelo da Pastoral da Saúde é dirigido a todos os cristãos, mas o testemunho de amor de cada um contagia todos os outros homens, pelo que o desafio de acompanhar a pessoa doente se torna um apelo universal.
Se fosse possível viver com intensidade esta presença continuada e activa junto das pessoas em sofrimento, o mundo começaria a ter outra cor, com menos lágrimas e mais sorrisos, com menos silêncios e mais abertura do coração, com menos desertos e mais comunidades vivas. O Dia Mundial do Doente transporta consigo um novo paradigma, o do amor gratuito.
4. A Comunidade Paroquial do Campo Grande vive assim o Dia Mundial do Doente:
• A visita a todos os doentes no seu domicílio na semana de 9 a 16 de Fevereiro.
• A celebração da Unção dos Doentes na Eucaristia do meio-dia, no domingo 13 de Fevereiro.
• A renovação do Corpo de Voluntários que, ao longo do ano, assistem os doentes com referência na comunidade.
Sensibilizar todos os cristãos para o seu cuidado pelos doentes é originalidade pastoral que se deve aos Papas João Paulo e Bento. Autêntica Nova Evangelização, a Pastoral da Saúde não deixa ninguém de fora, compromete todos.