1. O ser humano é um ser social e só é feliz na relação com os outros. Nasce numa família pelo amor entre o homem e a mulher, cresce com o carinho dos pais, dos irmãos e dos avós, entra na escola e alarga o mundo dos seus conhecimentos construindo amizades e, depois, encontra o sentido para a sua vida na construção de uma nova família, no trabalho quotidiano, nas relações sociais. É no contacto com os outros que, pouco a pouco, vai construindo a sua felicidade. Estar só é para o ser humano o maior infortúnio. O problema da solidão está na ordem do dia. Não são apenas as notícias dos jornais que nos oferecem casos dramáticos de solidão. Não há quem não conheça pessoas de todas as idades que estão sozinhas cuja solidão não aparece nos noticiários.
• A solidão dos idosos que perderam todos os laços familiares, após anos de sucessivos abandonos.
• A solidão dos doentes que ficam sozinhos na unidade de cuidados ou regressam a casa onde durante o dia não está ninguém.
• A solidão dos deficientes deixados na rua porque nem as instituições são capazes do apoio afectivo que a sua situação reclama.
• A solidão dos sem-abrigo que, em pleno Inverno, à noite, dormem debaixo das pontes, embrulhados em cartões.
• A solidão dos migrantes que deixaram o seu país na tentativa de encontrar bases económicas para o sustento dos filhos.
• A solidão dos cônjuges abandonados depois de uma crise que destruiu o matrimónio e que vitimiza um homem ou uma mulher que ficou só.
• A solidão de jovens, no desemprego, até depois de terem cursos concluídos, mas se sentem rejeitados pela sociedade que não utiliza o seu valor.
• A solidão de crianças abandonadas às portas de uma instituição, porque quem os trouxe à vida não quer assumir o seu “peso”.
São estas e muitas outras as situações de solidão sofrida pelos seres humanos e que nascem do egoísmo, da competição, da incapacidade de sacrifício, marcas negativas do mundo actual. Perante a solidão de alguém, não há pessoa que possa ficar indiferente.
2. Precisa-se da sensibilidade dos homens de boa vontade. Há muita gente capaz de ser solidária, muita gente capaz de se condoer, muita gente capaz de amar. Multiplicam-se gestos de atenção mas que não são notícia, simplesmente porque não faz títulos nos jornais. Carlos Magno, grande jornalista, ao ser-lhe perguntado qual o maior acontecimento de 2010, respondeu que, para ele, tinha sido a salvação dos 33 mineiros que no Chile haviam sido salvos com a colaboração nacional e internacional da gente do poder e das pessoas simples da comunidade. Porém, o jornalista comentava: esta salvação não foi notícia. Sê-lo-ia se os mineiros tivessem perecido. Uma notícia boa não favorece comentários. Uma notícia má multiplica artigos e opiniões nos jornais e televisão. Os homens de boa vontade perante o sofrimento dos outros actuam de uma forma responsável.
• Seguem os direitos humanos para assegurar sempre a dignidade a que cada um tem direito.
• Promovem os valores humanos, a verdade, a justiça, a liberdade, o amor, sem os quais é fácil marginalizar pessoas abandonando-as à solidão e ao infortúnio.
• Exercem a relação de proximidade porque vizinhos, colegas, pessoas do mesmo bairro não são desconhecidos, são gente com quem se partilha a alegria de viver.
• Procuram educar os mais novos na descoberta do outro para criar relação de simpatia e de amizade e sempre de solidariedade.
Os homens de boa vontade são aqueles que aprendem a relacionar-se com toda a gente, compreendendo que “na medida com que medirem os outros, será a mesma com que serão medidos” em todas as idades da vida.
3. A atitude dos cristãos, no romper da solidão dos outros, tem um valor acrescido. O cristão dá-se conta de quem precisa de ser ajudado e dispõe-se a ir ao seu encontro com todas as energias de que é capaz. São estas as perspectivas cristãs numa dimensão social de valor acrescentado.
• O seu mandamento é o amor: “Dou-vos um mandamento novo que vos ameis uns aos outros como Eu próprio vos amei” (Jo 13, 34).
• A sua exigência é o perdão: “não perdoarás 7 vezes, mas 70 vezes 7 vezes” (Mt 18, 22), isto é, perdoarás sempre.
• O seu testemunho é o acolhimento: “Acolher e compreender toda a gente e ser solidário com os mais pobres” (EN 21).
• A sua atitude é serviço: “Assim como eu fiz, assim deveis fazer vós também, servindo-se uns aos outros” (Jo 13, 15).
São linhas de força que rompem todas as solidões. Não há criança, não há velho, não há deficiente, não há pessoa em sofrimento que não receba a presença, a palavra, o apoio do cristão. O cristão não é para si, o cristão é para os outros, sobretudo para os que mais sofrem.
4. À nossa comunidade cristã são pedidas boas práticas no exercício da solidariedade. Há um ditado que todos conhecem: “De boas intenções está o Inferno cheio.” Deve, então, cada membro da comunidade ter atitudes concretas para vencer a solidão de pessoas que conhece. Para tanto, o que é preciso fazer?
• Estar atento às pessoas mais próximas, familiares, vizinhos, conhecidos, colegas de trabalho, sobretudo quando em situação de fragilidade. Prestar atenção é já dispor-se a agir com benevolência.
• Informar a Comunidade Paroquial para que os serviços do Centro Social, da Pastoral da Saúde, do apoio espiritual, possam responder a todos os apelos que lhes são feitos.
• Intervir com uma acção de solidariedade que não deixe só ninguém que precise de ajuda e assim se sinta envolvido num autêntico tecido de amor.
• Não ter receio de pedir aos padres, aos colaboradores ou aos voluntários todo o apoio para ninguém se sentir só.
Todos os que vivemos na Comunidade Paroquial do Campo Grande desejamos fazer o máximo para que ninguém se sinta só, sobretudo na doença ou no último estadio da vida.
Somos mesmo uma comunidade de irmãos.