VIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – 27 de Fevereiro de 2011

«NINGUÉM PODE SERVIR A DOIS SENHORES: NÃO PODEIS SERVIR A DEUS E AO DINHEIRO» (Mt 6, 24)

I LEITURA – Is 49, 14-15

Por vezes na vida, sentimo-nos como que esquecidos e abandonados por Deus. Contudo, o amor de Deus continua a envolver-nos. O amor de Deus é um amor constante.( in Missal Popular)

Leitura do Livro de Isaías
Sião dizia: «O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-Se de mim». Poderá a mulher esquecer a criança que amamenta e não ter compaixão do filho das suas entranhas? Mas ainda que ela se esquecesse, Eu não te esquecerei.
Palavra do Senhor.

SALMO – 61 (62), 2-3.6-7.8-9ab (R. 6a)

Refrão: Só em Deus descansa, ó minha alma. Repete-se

Só em Deus descansa a minha alma,
d’Ele me vem a salvação.
Ele é meu refúgio e salvação,
minha fortaleza: jamais serei abalado. Refrão

Minha alma, só em Deus descansa:
d’Ele vem a minha esperança.
Ele é meu refúgio e salvação,
minha fortaleza: jamais serei abalado. Refrão

Em Deus está a minha salvação e a minha glória,
o meu abrigo, o meu refúgio está em Deus.
Povo de Deus, em todo o tempo ponde n’Ele a vossa confiança,
desafogai em sua presença os vossos corações. Refrão

II LEITURA – 1 Cor 4, 1-5

A fidelidade é uma exigência essencial na vida do apóstolo. Ele não é dono dos mistérios de Deus, mas seu administrador. É «servo» de Cristo, numa subordinação incondicional à Sua Pessoa. O Povo de Deus tem, pois, o direito a encontrar nele a fidelidade, requerida em todo aquele que administra os bens de Deus. Mantendo esta fidelidade, o apóstolo não se inquieta com os juízos humanos: confia na justiça paternal de Deus, a única que penetra os corações. ( in Missal Popular)

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Todos nos devem considerar como servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora o que se requer nos administradores é que sejam fiéis. Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por um tribunal humano; nem sequer me julgo a mim próprio. De nada me acusa a consciência, mas não é por isso que estou justificado: quem me julga é o Senhor. Portanto, não façais qualquer juízo antes do tempo, até que venha o Senhor, que há-de iluminar o que está oculto nas trevas e manifestar os desígnios dos corações. E então cada um receberá da parte de Deus o louvor que merece.
Palavra do Senhor.

EVANGELHO – Mt 6, 24-34

Jesus não condena o uso dos bens terrestres, mas a idolatria dos mesmos.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: «Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem, quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; o vosso Pai celeste as sustenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Quem de entre vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à sua estatura? E porque vos inquietais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos inquieteis, dizendo: ‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos de vestir?’ Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de ama­nhã tratará das suas inquietações. A cada dia basta o seu cuidado».
Palavra da salvação.

VIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – Comentários do P.e João Resina (in a Palavra no Tempo II)

            “Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.»” (Mt 6, 24-34).
            Ora nós construímos tudo, ou quase tudo, sobre a economia. Não concebemos desenvolvimento que não tenha por base o desenvolvimento económico. Os nossos santuários já não estão em Roma, nem em Jerusalém, nem em Benarés. Adoramos os ídolos que se guardam no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial.
            Se somos coerentes, resta-nos escolher.
            Podemos pensar, como toda a gente, que quem manda é o dinheiro. Nesta perspectiva, Jesus foi um doce sonhador, capaz de alimentar, quando muito, os nossos momentos de poesia. Se esta perspectiva é a verdadeira, teimar no Evangelho é continuar na ilusão.
            Podemos pensar como Ele: o que vale é o amor; uma economia que deixa morrer todos os anos 30 milhões de pessoas à fome e deixa morrer vários milhões de doenças que podiam ser tratadas, mas não são, uma economia que consome em guerras mais dinheiro do que era necessário para salvar estes pobres, não pode ser aceite.
            Eu não contesto que os problemas da Terra têm de ser enfrentados com recurso ao saber às técnicas. O que digo é que o saber e as técnicas não podem fechar-se sobre si mesmas. Os próprios matemáticos começaram a descobrir nos anos 1930 que a Matemática não se justifica a si mesma, tem de encontrar razões fora de si. A economia não pode ser a ciência, ou a arte, do lucro, tem de se justificar pelo destino do homem.
            A primeira Leitura vem alimentar esta reflexão: “Pode a mulher esquecer a criança que amamenta e não ter compaixão do fruto das suas entranhas? Pois, ainda que ela o esquecesse, Eu não te esqueceria.” (Is 49, 14-15). Uma criança é um absoluto, não é um simples acrescento às alegrias e às dificuldades dos pais. O destino dos pobres da Terra é outro absoluto, que não pode ser subalternizado ao destino dos países ricos. E se se provasse que os povos ricos não poderiam manter os seus padrões de riqueza sem o aniquilamento dos povos pobres, eram os povos ricos que não teriam o direito de subsistir. Nós esquecemos isto todos os dias; Deus manda dizer, através do profeta Isaías, que não esquece.
            O Evangelho é um imenso convite à esperança, nós rejeitamos o convite. Jesus veio dizer-nos que é possível transformar a Terra. Num primeiro momento, até aguçamos os ouvidos. Depois, Ele explicou-nos a maneira: se nos convertermos ao amor. Nós queremos todas as maneiras, menos essa.
            Na segunda Leitura (I Cor 4, 1-5), S. Paulo recorda que os Apóstolos não são donos, são administradores dos mistérios de Deus. Era talvez uma palavra que devia ser mais meditada por nós. Dizemos todos os dias que somos servidores de Cristo. Não temos outra preocupação, não temos outra razão de ser, senão transmitir e, vá lá, explicar a sua mensagem. Infelizmente, não é isso que fazemos. Não temos coragem para repetir as suas palavras mais ousadas, por exemplo, esta que vem no mesmo Evangelho: “Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo”. E, inconscientemente ou por manha, misturamos as nossas “certezas”. Estas “certezas” que vêm do fundo dos tempos, que sem dinheiro e sem poder nada se pode alcançar.
            A vocação dos Profetas era despertar os homens, tirá-los das suas seguranças ilusórias, pô-los a caminhar no caminho “insensato” do amor. Nesse sentido, Gandhi, Luther King e João XXIII foram grandes profetas. Rezemos para que venham mais!

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