«NEM TODO AQUELE QUE ME DIZ ‘SENHOR, SENHOR’ ENTRARÁ NO REINO DOS CÉUS, MAS SÓ AQUELE QUE FAZ A VONTADE DE MEU PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS.» (Mt 7, 21)
I LEITURA – Deut 11, 18.26-28.32
Para Moisés, a vontade de Deus a respeito do homem expressa-se na Lei. Os judeus devem «gravar as sua palavras no coração e na alma«, precisam de saber que a Lei é «benção e maldição» conforme for ou não cumprida.
Leitura do Livro do Deuteronómio
Moisés falou ao povo dizendo: «As palavras que eu vos digo, gravai-as no vosso coração e na vossa alma, atai-as à mão como um sinal e sejam como um frontal entre os vossos olhos. Ponho hoje diante de vós a bênção e a maldição: a bênção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, que hoje vos prescrevo; a maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, afastando-vos do caminho que hoje vos indico, para seguirdes outros deuses que não conhecestes. Portanto, procurai pôr em prática todos os preceitos e normas que hoje vos proponho».
Palavra do Senhor.
SALMO – 30 (31), 2-3a.3bc-4.17.25 (R. 3b)
Refrão: Sede o meu refúgio, Senhor. Repete-se
Em Vós, Senhor, me refugio,
jamais serei confundido,
pela vossa justiça, salvai-me.
Inclinai para mim os vossos ouvidos,
apressai-Vos em me libertar. Refrão
Sede a rocha do meu refúgio
e a fortaleza da minha salvação;
porque Vós sois a minha força e o meu refúgio,
por amor do vosso nome, guiai-me e conduzi-me. Refrão
Fazei brilhar sobre mim a vossa face,
salvai-me pela vossa bondade.
Tende coragem e animai-vos,
vós todos que esperais no Senhor. Refrão
II LEITURA – Rom 3, 21-25a.28
S. Paulo sabe que o o essencial não é cumprir mandamentos, é amar. O homem não se salva por ser fiel à Lei, por ter coleccionado boas acções, é salvo gratuitamente pelo amor de Cristo.
Leitura da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos: Independentemente da Lei de Moisés, manifestou-se agora a justiça de Deus, de que dão testemunho a Lei e os Profetas; porque a justiça de Deus vem pela fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os crentes. De facto não há distinção alguma, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus; e todos são justificados de maneira gratuita pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus, que Deus apresentou como vítima de propiciação, mediante a fé, pelo seu sangue, para manifestar a sua justiça. Na verdade, estamos convencidos de que o homem é justificado pela fé, sem as obras da Lei.
Palavra do Senhor.
EVANGELHO – Mt 7, 21-27
Só na fidelidade à Palavra de Cristo se pode agradar a Deus.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Nem todo aquele que Me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus. Muitos Me dirão no dia do Juízo: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos e em teu nome que expulsámos demónios e em teu nome que fizemos tantos milagres?’ Então lhes direi bem alto: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade’. Todo aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as torrentes e sopraram os ventos contra aquela casa; mas ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Mas todo aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é como o homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as torrentes e sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se e foi grande a sua ruína».
Palavra da salvação.
IX DOMINGO DO TEMPO COMUM
Na primeira leitura (Deut 11,18-28), Moisés faz ao Povo duas recomendações importantes: guarde cada um os mandamentos com verdadeira fidelidade, grave os mandamentos no seu coração. A fidelidade à Lei deve ser entendida como fidelidade à vontade de Deus, essa fidelidade só será perfeita se o homem permitir que Deus e a sua Lei residam no mais fundo de si mesmo.
Moisés era um homem profundamente apaixonado por Deus e era um grande governante. Mas nem sempre é fácil juntar estas duas coisas. Como todos os governantes, Moisés quer sobretudo que o povo tenha uma vida tranquila. Apesar de ter dito que a Lei tem de morar nos corações dos homens, desenvolve pouco esta ideia. Entretanto castiga com rigor quem se afastar do cumprimento material. Cai também na tentação de convencer os homens de que todas as leis que promulga vêm directamente de Deus. Com o tempo, gerou-se daqui um farisaísmo que venera a Lei até aos seus mais ínfimos pormenores e pensa que o cumprimento meticuloso de todos os mandamentos e preceitos é o que torna o homem “justo” aos olhos de Deus.
Na segunda leitura (Rom 3, 21-28), S.Paulo dá como adquirido que a Lei de Moisés tem limites. “Independentemente da Lei de Moisés, manifestou-se agora a justiça de Deus… a justiça de Deus vem pela fé em Jesus Cristo…” Note-se bem que a palavra “justiça” tem em S.Paulo um significado diferente do nosso. Para S.Paulo, “justo” significa que é como deve ser. A justiça de Deus é assim a santidade, a misericórdia, o amor de Deus (e não o pendor “justiceiro” que Moisés Lhe atribuía). Em consequência, S.Paulo fala da justificação do homem como sendo a conversão do homem naquilo que deve ser. A justificação do homem é o mesmo que a sua santificação. A tese da Epístola aos Romanos é que a justificação do homem tem por causa suprema a redenção realizada por Jesus Cristo. O homem é insensato se espera conseguir sozinho esta justiça; são sobretudo insensatos os judeus, se esperam alcançar a perfeição pelo simples cumprimento dos preceitos da Lei de Moisés. A salvação vem de Jesus Cristo e a nossa relação com Ele começa pela fé.
Quando Jesus veio ao mundo, os judeus esperavam ansiosamente pelo Messias. Mas o Messias que esperavam era um homem político e guerreiro, que os vingaria dos romanos e lhes daria o poder e a riqueza. Consideravam o Templo de Jerusalém como a presença de Deus na Terra e supunham que manifestavam Deus dando esplendor ao culto. Os fariseus consumiam-se numa observância rigorosa da Lei. Jesus ensina-lhes que nada disto pode estar no centro, o centro tem de ser o amor, verdadeiro e profundo, a Deus, e a todos os homens. “Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração… Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas» (Mat 22, 35-40). Quem ama a sério, cumpre os mandamentos, mesmo sem pensar neles. Mas é possível cumprir os mandamentos à letra, sem amor. E isso de nada aproveita.
Neste texto do Evangelho (Mat 7, 21-27), Jesus critica agora os seus próprios discípulos. Lembra-lhes que não se é fiel só por ter na boca louvaminhas. (Jesus nunca gostou muito de meninos bem comportados e bem falantes, recorde-se a parábola dos dois irmãos, Mat 21,28-32). Lembra-lhes (isto é, lembra-nos a todos) que é infelizmente possível passar o dia em “boas obras” (até a pregar e mesmo a fazer milagres) com um coração vazio de amor verdadeiro. E que a estes dirá um dia: “Nunca vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.