1. Os discípulos estavam desiludidos. Tinham andado com Jesus quase quatro anos, julgavam que Ele seria quem vinha para restaurar o Reino de Israel e, afinal, Ele fora condenado à morte, e à morte na cruz. Judas tinha-O traído, Pedro acabara por negá-l’O, todos os outros haviam fugido. Era a desilusão geral. Depositado no sepulcro de José de Arimateia, a aventura daquele “profeta” tinha chegado ao fim. Mesmo nestas circunstâncias restou a Jesus a ternura das mulheres que, domingo, foram de manhã cedo ao sepulcro para lançarem no túmulo alguns perfumes, a última homenagem que queriam prestar-Lhe. Aconteceu, porém, que o sepulcro estava vazio. A pedra tinha sido rolada, o sudário e as vestes estavam dobradas em cantos diferentes, e, de Jesus não havia notícia. Apareceu-lhes um mensageiro que lhes disse “Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui: ressuscitou” (Lc 24, 6).
É então que os seus mais próximos, que haviam perdido a esperança, se aperceberam do grande acontecimento. Ao terceiro dia Jesus ressuscitou, como havia prometido.
• Maria julgou que tinham roubado o corpo do Senhor. Perguntou ao jardineiro onde o pusera. E este disse-lhe: “Maria”, ao que ela respondeu: “Rabuni”. Reconheceu que Jesus estava vivo a falar com ela.
• Pedro e João correram ao sepulcro e confirmaram o que Maria lhes dissera, indo, logo de seguida, dar aos irmãos a boa notícia de que Jesus estava vivo.
• Os onze discípulos reuniram-se no Cenáculo pela tardinha e Jesus entrou para lhes dizer “a paz esteja convosco, recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados estes ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20, 22-23). Com alegria compreenderam que o Reino do perdão e do amor estava a começar.
• Os companheiros de Emaús, possuídos de tristeza, nem sequer tinham reconhecido Aquele homem que os acompanhava. Foi à mesa, ao partir do pão, que se deram conta que Ele era o Senhor. Foram, de corrida, juntar-se a todos no Cenáculo, partilhando a certeza da Ressurreição.
• Os pescadores de Tiberíades julgavam ver na praia um outro trabalhador da faina. Afinal, João e Pedro, possuídos de esperança, acabaram por ver n’Ele o próprio Jesus, comendo os pães e os peixes assados na brasa, naquela praia diferente.
• Os 500 irmãos, no Monte das Oliveiras, escutaram conversas de despedida. A mensagem de Jesus era simples “Não olheis para o céu, olhai antes para o mundo que é urgente salvar”.
• Até Saulo, o perseguidor, na estrada de Damasco, foi surpreendido por Jesus Ressuscitado. Ele que não acreditava compreendeu que Jesus estava vivo e mudou radicalmente a sua vida. Tornou-se Apóstolo.
A Ressurreição de Jesus venceu a desilusão dos Apóstolos. No mundo de hoje há imensos homens e mulheres carregados de desilusão. A Ressurreição de Cristo é um grito de esperança, como Cristo ressuscitou tudo e todos vamos ressuscitar.
2. A Ressurreição de Cristo é o fundamento da nossa fé. Quem lê a Primeira Carta de S. Paulo aos Coríntios encontra um capítulo dedicado à Ressurreição de Jesus. É o capítulo 15. Com uma linguagem muito simples, Paulo interpela aqueles que não acreditam na Ressurreição, dizendo: “Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou, e, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé, a nossa pregação não tem sentido, somos os mais infelizes dos homens”. Paulo acrescenta logo depois “Mas Ele ressuscitou.” De alguma maneira o Apóstolo Paulo quer dissipar todas as nossas dúvidas, por muito grandes que elas sejam. Vale a pena perguntar porque duvidamos tantas vezes. As dúvidas que temos justificam-se. É, porém, necessário ultrapassá-las.
• São fruto da razão que quer explicar tudo, quando há inúmeras coisas que não podem compreender-se senão à luz da fé, da adesão incondicional à Pessoa de Jesus.
• São resultado de um ambiente agnóstico e, às vezes, hostil. Os cristãos sofrem imensas pressões que os levam a hesitar mesmo nas verdades essenciais da fé.
• São consequência das nossas crises, com inúmeros problemas por resolver, com sofrimento acumulado, que leva a considerar que se foi abandonado por Deus.
• São a expressão da nossa atitude espiritual que, em plena oração, se fica perplexo perante o mistério de Deus que transmite um amor que é difícil compreender.
Até os grandes santos tiveram dúvidas. Teresa de Ávila, Teresa de Calcutá, Inácio de Loyola, Francisco Xavier, todos nos revelaram as suas dúvidas, mas em todos prevaleceu sempre a fé na Ressurreição, o fundamento de toda a vida cristã.
3. Os cristãos são-no na medida em que vivem como ressuscitados. A Ressurreição de Cristo invade a vida do cristão. Paulo pôde mesmo dizer “Já não sou eu que vivo, é Ele que vive em mim” (Gl 2, 20), acrescentando mais tarde “O meu viver é Cristo” (cf. Gl 2, 20). Quando acreditamos na Ressurreição a nossa vida está “encharcada” de Cristo, isto é, o Senhor possui-nos com a sua alegria, e permite-nos transmitir aos outros a mesma alegria da Ressurreição. As consequências na vida de todos os dias são maravilhosas:
• Somos homens e mulheres de esperança, com a certeza de que nada e ninguém nos pode vencer. Mesmo passando pela provação, somos capazes de a ultrapassar para sentirmo-nos com Cristo verdadeiramente ressuscitados.
• Sabemos não estar sós nas nossas dores. Em todas as situações, também na pobreza, na doença, na solidão, o Senhor que é a Vida, dá dimensão nova à nossa própria vida, porque é fonte de alegria constante.
• Acreditamos que a morte não é o fim, porque “a vida não acaba apenas se transforma, e desfeita a morada do exílio terrestre adquirimos no Céu uma habitação eterna” (2Cor 5, 1). Como Cristo ressuscitou, todos ressuscitamos.
• Participamos já da Ressurreição de Jesus. Em tudo temos capacidade de passar da morte à vida, do pecado à graça, do sofrimento à esperança, da angústia à serenidade e à paz, da perplexidade à alegria sem fronteiras. Tudo isto é ressuscitar.
A grande síntese da vida cristã é a Ressurreição de Jesus. A ela se refere todo o nosso viver humano, seja na família ou na sociedade, no trabalho ou na comunidade cristã, sempre.
4. O Domingo de Páscoa, o dia da alegria geral. A nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande acolhe os catecúmenos, baptizados na Vigília Pascal; acompanha os doentes, levando-lhes a casa a imagem do Senhor para beijar; celebra a Eucaristia, o Mistério Pascal por excelência, afirmação da Ressurreição; convida todos à alegria, apesar das dificuldades, das crises, dos problemas de uma sociedade em sofrimento.
Neste Domingo de Páscoa desejamo-nos uns aos outros viver como ressuscitados