«QUEM AMA O PAI OU A MÃE MAIS DO QUE A MIM, NÃO É DIGNO DE MIM… QUEM NÃO TOMA A SUA CRUZ PARA ME SEGUIR, NÃO É DIGNO DE MIM.» (Mat 10, 37-38)
I LEITURA – 2 Reis 4, 8-11.14-16a
Através do profeta Eliseu, Deus retribui a generosidade dum casal.
Leitura do Segundo Livro dos Reis
Certo dia, o profeta Eliseu passou por Sunam. Vivia lá uma distinta senhora, que o convidou com insistência a comer em sua casa. A partir de então, sempre que por ali passava, era em sua casa que ia tomar a refeição. A senhora disse ao marido: «Estou convencida de que este homem, que passa frequentemente pela nossa casa, é um santo homem de Deus. Mandemos-lhe fazer no terraço um pequeno quarto com paredes de tijolo, com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada. Quando ele vier a nossa casa, poderá lá ficar». Um dia, chegou Eliseu e recolheu-se ao quarto para descansar. Depois perguntou ao seu servo Giezi: «Que podemos fazer por esta senhora?». Giezi respondeu: «Na verdade, ela não tem filhos e o seu marido é de idade avançada». «Chama-a» – disse Eliseu. O servo foi chamá-la e ela apareceu à porta. Disse-lhe o profeta: «No próximo ano, por esta época, terás um filho nos braços».
Palavra do Senhor.
SALMO – 88 (89), 2-3.16-17.18-19 (R. 2a)
Refrão: Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor. Repete-se
Ou: Eu canto para sempre a bondade do Senhor. Repete-se
Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor
e para sempre proclamarei a sua fidelidade.
Vós dissestes:
«A bondade está estabelecida para sempre»,
no céu permanece firme a vossa fidelidade. Refrão
Feliz do povo que sabe aclamar-Vos
e caminha, Senhor, à luz do vosso rosto.
Todos os dias aclama o vosso nome
e se gloria com a vossa justiça. Refrão
Vós sois a sua força,
com o vosso favor se exalta a nossa valentia.
Do Senhor é o nosso escudo
e do Santo de Israel o nosso rei. Refrão
II LEITURA – Rom 6, 3-4.8-11
Pelo baptismo, diz S. Paulo, somos inseridos em Cristo, na Sua morte e ressurreição. Não se trata de uma figura de estilo: o cristão tem de morrer para o pecado e ressuscitar para uma vida diferente; e isso o coloca no caminho da ressurreição para sempre.
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos: Todos nós que fomos baptizados em Jesus Cristo fomos baptizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo Baptismo na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. Se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos; sabendo que, uma vez ressuscitado dos mortos, Cristo já não pode morrer; a morte já não tem domínio sobre Ele. Porque na morte que sofreu, Cristo morreu para o pecado de uma vez para sempre; mas a sua vida, é uma vida para Deus. Assim, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus.
Palavra do Senhor.
EVANGELHO – Mt 10, 37-42
Jesus recorda a todos, que Deus é Deus. E isso significa que, para todo o homem, Deus tem de ser a referência fundamental.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim. Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: Não perderá a sua recompensa».
Palavra da salvação.
XIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – Comentários do Pe. João Resina in “A Palavra no Tempo II”
Até ao ano 70, as autoridades judaicas, embora mantivessem uma oposição de fundo, não hostilizavam os judeus que se convertiam a Jesus e se baptizavam. Por sua vez, estes novos convertidos continuavam a considerar-se como fazendo parte do povo judeu. Entre os anos 66 e 70, há em toda a Palestina um ambiente de insurreição contra o poder romano. Em 70, os romanos cercam Jerusalém, fazem uma grande mortandade, destroem a cidade e o Templo, e sujeitam toda a Palestina a um domínio de ferro. As autoridades judaicas afirmam que isto é um castigo de Deus porque os cristãos perver-teram a doutrina, e decretam que todo o judeu que se tenha feito discípulo de Cristo será expulso da sinagoga e deverá ser rejeitado pela própria família.
O Evangelho de S.Mateus é escrito nestes anos. E recorda a palavra do Senhor: “Quem ama o pai ou a mãe… o filho ou a filha… mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz para me seguir, não é digno de mim”. (Do Evangelho deste domingo, Mat 10,37-42). Não se trata de medir intensidades de sentimentos. O Senhor não precisa de ser amado de maneira afectiva. Exige, sim, que aquele que acreditou nEle não volte atrás, mesmo perante a ameaça de perder o amor, a amizade e o apoio dos seus.
Note-se que, em Jesus, há duas atitudes que se completam. Por um lado, fez-se nosso irmão, cansou-se nos nossos caminhos, entrou na fila dos pecadores que aguardavam o baptismo de João, aceitou a nossa morte. Por outro lado, não tem medo de recordar que é o Senhor. “Ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o queira revelar”(Mat 11, 27). “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). “Antes de Abraão existir, Eu sou” (Jo 8, 58). “Quando o Filho do homem vier na sua glória…dirá aos da sua direita: vinde, benditos de meu Pai,…porque eu tive fome e vós destes-me de comer…”(Mat 25,31-46). “Todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia” (Mat 7,24-27). “A todo aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai...” (Mat 10, 33). É claro que estas atitudes são coerentes, e precisamos das duas para entender quem é Jesus.
Por outro lado é um facto que vivemos num mundo que tolera mal a autoridade. Pensamos que “ninguém é mais do que eu”, aceitamos que haja governos porque “nós próprios os elegemos”, cada vez achamos mais intolerável que alguém, mesmo que seja Deus, possa dizer-nos o que é bem e o que é mal. Ao mesmo tempo, toleramos desigualdades gritantes. No fundo, importa-nos muito pouco que 40% da população mundial viva na miséria e 10% possa estragar impunemente.
Mas é este o nosso mundo, é a este mundo que Jesus nos envia. Parece claro que, se queremos anunciar Aquele que morreu na cruz, temos de “tomar a nossa cruz”. Creio que é a mensagem da Igreja neste domingo.
A segunda leitura (Rom 6,3-11) ensina coisa parecida, de modo mais aplicado. Muitos dos cristãos da época de S.Paulo tinham vivido no paganismo; muitos deles ter-se-iam habituado à vida dissoluta da sociedade romana. S.Paulo recorda-lhes que ao serem imersos na água do baptismo aceitaram “morrer para o pecado” e começar uma vida nova com Cristo.
Hoje, a vida do mundo voltou a ser como era então, e muitos cristãos têm entrado nesse estilo. Temos até uma dificuldade suplementar: a liberdade de costumes é reivindicada como uma exigência da razão. Mais do que nunca, precisamos de comunidades cristãs que testemunhem duma liberdade e duma alegria maiores.