1. O cristão revela-se pelos sinais que dá da sua fé. Não são as orações que exprimem a fé de um crente. Estas são súplica ou acção de graças a Deus que é Pai e a Jesus que é Redentor. As peregrinações e as procissões também não são sinal do ser cristão. Podem, com a sua beleza, exprimir a fé dum povo, mas não são o testemunho vivo da fé pessoal de cada um. Há, porém, acontecimentos que o cristão vive de uma maneira diferente pelo facto de pautar a sua vida pelos valores do Evangelho. Os cristãos do tempo presente vêem-se envolvidos em inúmeros acontecimentos nos quais vale a pena exprimir a sua fé. Foi assim no tempo de Jesus. Os sinais que dava eram reveladores de que Ele era o Filho de Deus.
• O Menino Jesus: aos pastores, os anjos disseram para subirem a Belém onde encontrariam um Menino deitado numa manjedoura. Era o sinal dado aos homens de que o Salvador estava a chegar (cf. Lc 2, 12).
• O sinal de Jonas: os fariseus e os doutores da lei pediam a Jesus um sinal, garantia de que Ele trazia uma mensagem para os homens do seu tempo. Jesus respondeu que não daria outro sinal senão o do profeta Jonas. “Destruí o templo e eu reedificá-lo-ei em três dias” (cf. Mt 16, 1-4). Falava do seu corpo, anunciava a Ressurreição.
• As trevas e as tempestades: na parte final do seu Evangelho Jesus avisa que irão surgir dificuldades. Eles deverão manter com serenidade a fidelidade ao essencial. Simbolicamente é o anúncio do fim do mundo, profeticamente é o anúncio da queda de Jerusalém. (cf. Mt 24, 3).
• Milagres e prodígios: foram muitos os sinais dados por Jesus e pelos Apóstolos. Jesus disse aos discípulos de João que lhe perguntavam quem era Ele: “ide dizer a João o que vistes e ouvistes, os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados e os mortos ressuscitam”(Mt 11, 4-5). Eram os sinais de que Ele era o Messias.
• Muito podia contar-se: é com esta afirmação que João termina o seu Evangelho. “Há ainda muitas coisas que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que o mundo não teria espaço para os livros que se deveriam escrever” (Jo 21, 25).
Jesus Cristo deu inúmeros sinais de que era o Filho de Deus e que vinha para salvar o mundo. À semelhança d’Ele e perante as mais diversas situações do mundo actual, os cristãos são convidados a dar testemunho de Cristo, tornando-se também eles um sinal de Ressurreição e, por isso, um sinal de esperança.
2. Neste nosso tempo, os cristãos têm de marcar a diferença. Os sinais que dão da sua fé deverão ser visíveis, ao ponto de toda a gente poder entender, quais as razões de esperança que os animam. Antes de mais, os cristãos têm de estar presentes na cidade. Levam uma vida igual à dos outros na família, na profissão, na vida económica, na intervenção política. A matriz do seu empenhamento, porém, está nos valores do Evangelho que vivem e que proclamam. Os cristãos têm de intervir positivamente na cidade, com sinais diferentes, apesar da dificuldade das situações. Esta semana trouxe-nos situações difíceis. Pode perguntar-se como é que os cristãos as encaram, como é que as vivem.
• O mistério da morte: deixou-nos uma mulher profundamente cristã que era membro da nossa comunidade. Foi uma mãe exemplar, uma profissional competente, uma política corajosa, sempre a pautar-se pelos valores do Evangelho. Ao despedir-se de todos, num (in)vulgar artigo de jornal, soube dizer-nos “seja qual for o desfecho (da minha doença), como o Senhor é meu pastor, nada me faltará” (DN 7.7). Mesmo perante a morte os verdadeiros cristãos dão sinal de não ter medo.
• O lixo económico: não sabíamos que podíamos ser classificados de “lixo”. Só porque o País sente dificuldades e, ao mesmo tempo, se compromete a ultrapassá-las, multiplicam-se os artigos de jornal, as declarações oficiais, os grupos que atacam e aqueles que defendem, mas é o País inteiro em sofrimento. É neste ambiente que se escutou a voz do Patriarca com palavras de compreensão para os sacrifícios pedidos e o convite a todos para colaborarem no trabalho de recuperação a realizar. Os cristãos vivem com serenidade situações tão difíceis que, como diz Jesus, “quem quer ganhar acaba por perder, e só aqueles que aceitam perder ganharão de verdade”(Mt 10, 39). Não se aceita ser “lixo” mas damo-nos as mãos para restaurar a nossa identidade.
• As mudanças políticas: dizia-se, não há muito tempo, “o povo é quem mais ordena” (sic). Mas o povo que sofre as dificuldades é capaz de se organizar para ultrapassá-las. O trabalho urgente não é só de responsabilidade política, é também, sobretudo, de autêntica cidadania. De mãos dadas com as escolhas do povo os cidadãos organizam-se e contribuem para o bem-comum. Este é o grande sinal de que o País precisa para juntos todos contribuírem para a mudança urgente ultrapassando sobretudo os interesses de pequenos grupos.
• O desemprego: sofre-se a partida de milhares de jovens para trabalharem noutros lugares. É tempo de tentar investir mesmo com risco, criar novas iniciativas, novas empresas, ter imaginação para converter a crise em oportunidade de futuro. Os cristãos não podem estar à espera de que os outros resolvam os seus problemas. Podem e devem organizar-se para encontrar as saídas necessárias que a muitos permitirão uma nova esperança de vida. Os gestos novos são o sinal dos cristãos.
Muitas outras coisas têm de ser analisadas pelos responsáveis, no governo, nas autarquias, nos sindicatos, nas empresas, em todos os organismos da cidade. São precisos, porém, sinais de iniciativa, de coragem, de solidariedade, que alimentem a esperança com sinais claros que permitam acreditar. Se nem sequer temos medo da morte, como cristãos, não podemos também ter medo de pequenas ou maiores dificuldades que se atravessem no nosso caminho. Os cristãos, a nível pessoal ou das suas comunidades, têm uma palavra a dizer.
3. Sinais comunitários também são importantes. Há atitudes das comunidades da Igreja que se tornam imprescindíveis nesta hora. A tentação dos fundamentalismos, e dos proselitismos estéreis, não ajudam a estabelecer laços de comunhão, de caridade e de partilha. Jesus deu extraordinário testemunho de acolhimento e compreensão para com todos. Homem ou mulher, judeu ou pagão, importante na cidade ou gente simples, Jesus estava com todos, falava com todos, com todos repartia a sua vida. É talvez esta uma atitude inovadora para os cristãos desta “25ª hora”. Vivem-se tempos de aproximação, de sacrifício, de partilha generosa. Quem melhor pode fazê-lo senão os cristãos comprometidos? São sinais para toda a cidade o acolhimento universal, o perdão sem fronteiras, o diálogo construtivo, a par da caridade na justiça, da participação na vida colectiva e da alegria serena.
Os próximos meses não vão ser fáceis. Os sacrifícios pedidos, podendo ser económicos, têm repercussões no nosso viver comum: na educação dos filhos, no acompanhamento dos mais velhos, na resposta a situações limite e no acompanhamento de momentos de desespero. É em todas estas situações que o cristão se mantém sereno, predispondo-se a dar e a servir sem qualquer recompensa. Estes são sinais cristãos de que a cidade precisa.
4. É esta a última mensagem que, como prior, vos deixo antes de partirmos para férias. Ensaiem, nos próximos meses, algumas experiências que possam tornar-se sinal de que são cristãos no mundo contemporâneo.
A Folha Informativa só voltará a publicar-se a 17 de Setembro. Até lá Boas Férias e o desejo de a todos ver regressar, cheios de energia, para um novo ano pastoral.