(Mt 16, 24)
I LEITURA – Jer 20, 7-9
«Vós me seduzistes, Senhor,…»
Leitura do Livro de Jeremias
Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir; Vós me dominastes e vencestes. Em todo o tempo sou objecto de escárnio, toda a gente se ri de mim; porque sempre que falo é para gritar e proclamar: «Violência e ruína!». E a palavra do Senhor tornou-se para mim ocasião permanente de insultos e zombarias. Então eu disse: «Não voltarei a falar n’Ele, não falarei mais em seu nome». Mas havia no meu coração um fogo ardente, comprimido dentro dos meus ossos. Procurava contê-lo, mas não podia.
Palavra do Senhor.
SALMO – 62 (63), 2.3-4.5-6.8-9 (R. 2b)
Refrão: A minha alma tem sede de Vós, meu Deus. Repete-se
Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro.
A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro,
como terra árida, sequiosa, sem água. RefrãoQuero contemplar-Vos no santuário,
para ver o vosso poder e a vossa glória.
A vossa graça vale mais do que a vida;
por isso, os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores. RefrãoAssim Vos bendirei toda a minha vida
e em vosso louvor levantarei as mãos.
Serei saciado com saborosos manjares,
e com vozes de júbilo Vos louvarei. RefrãoPorque Vos tornastes o meu refúgio,
exulto à sombra das vossas asas.
Unido a Vós estou, Senhor,
a vossa mão me serve de amparo. Refrão
II LEITURA – Rom 12, 1-2
«Recomendo-vos, irmãos que vos ofereçais a Deus avós próprios».
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, como culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela renovação espiritual da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito.
Palavra do Senhor.
ALELUIA – cf. Ef 1, 17-18
Refrão: Aleluia. Repete-se
Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
ilumine os olhos do nosso coração,
para sabermos a que esperança fomos chamados. Refrão
EVANGELHO – Mt 16, 21-27
Pela cruz virá a salvação e a libertação do homem. Seguir Cristo é renunciar a si mesmo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-O à parte, começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!». Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe: «Vai-te daqui, Satanás. Tu és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens em vista as coisas de Deus, mas dos homens». Jesus disse então aos seus discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Que poderá dar o homem em troca da sua vida? O Filho do homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras».
Palavra da salvação.
XXII DOMINGO TEMPO COMUM – VOCAÇÃO E RADICALIDADE
Às vezez tem-se a sensação que Deus pede demais. Parece aos que mais se dão nos caminhos da fé que mais é pedido. Multiplicam-se as dificuldades, aparecem inúmeras provações, é-se confrontado com as mais diversas crises, acontecem doenças, insuficiências económicas, problemas na educação dos filhos, e chega a perguntar-se “que mal fiz eu, ó Deus, para ser tratado assim.” Teresa d’Ávila, a reformadora do Carmelo, ao referir os sofrimentos vividos por tantos dos melhores cristãos, exclamava, agora sei porque é que tens tão poucos amigos. Toda esta linguagem que humanamente se compreende, que tende a atribuir a Deus todas as coisas negativas que nos acontecem, não é porém, assim. A dor e o sofrimento estão colados à natureza humana. São o limite nascido da nossa imperfeição. O desafio está em saber pela nossa relação com Deus como suportar o sofrimento, vivê-lo e até ter capacidade para oferecê-lo. Aliás, Jesus, no mistério da crucifixão, foi o primeiro a oferecer o sofrimento pela redenção de toda a humanidade.
Ao ler o Evangelho da liturgia de hoje, compreende-se a radicalidade que é pedida a quem quer seguir Jesus Cristo até ao fim. No diálogo com os discípulos, Jesus é muito claro: se alguém quiser seguir-Me renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me” e acrescenta ainda, “quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la, mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la.” E a terminar este projecto de radicalidade chega mesmo a dizer “que importa ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua vida”. A vocação do cristão parece fácil mas não poide ficar-se em comodismos estéreis. Pedro julgava testemunhar o seu amor a Jesus convidando-O a não subir a Jerusalém, mas Jesus pediu expressamente que ele se afastasse, porque a missão que recebera do Pai, deveria ser vivida até ao fim, até à crucifixão no Calvário. A radicalidade da vida de Jesus iria projectar-se no convite à radicalidade que Jesus fazia aos seus.
Pode perguntar-se, porém, se será possível uma entrega total da vida se ela não está cimentada num grande amor. Sentiu isso já no Antigo Testamento Jeremias que diz na sua profecia, “vós me seduzistes; Senhor, e eu deixei-me seduzir; vós me dominastes e vencestes”. O profeta foi capaz de enorme sofrimento porque estava centrado num grande amor. É esta a atitude do cristão dominado pelo amor de Jesus ao segui-l’O pode viver a radicalidade em todas as expressões. É o pedido que Jesus faz aos seus discípulos que O amam e que Ele ama. S. Paulo oferece hoje uma síntese perfeita: “peço-vos irmãos, que pela misericórdia de Deus, vos ofereçais a vós mesmos como vítima santa (…) para viverdes o que é bom, o que Lhe é agradável, o eu é perfeito” (Rm 12, 1-2).
Monsenhor Vítor Feytor Pinto (in Revista LiturgiaDiária, ed. Paulus)
Veja também “Comentários à Liturgia Dominical”