XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM~21 de Setembro de 2014

“NÃO FOI UM DENÁRIO QUE AJUSTASTE COMIGO?

LEVA O QUE É TEU E SEGUE O TEU CAMINHO.

EU QUERO DAR A ESTE ÚLTIMO TANTO COMO A TI.”

 (Mt 20, 13-14)

I LEITURA – Is 55, 6-9

O profeta Isaias apela à conversão do povo ao Senhor. «que é generoso em perdoar».

Leitura do Livro de Isaías
Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O, enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho e o homem perverso os seus pensamentos. Converta-se ao Senhor, que terá compaixão dele, ao nosso Deus, que é generoso em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus – oráculo do Senhor –. Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos estão acima dos vossos e acima dos vossos estão os meus pensamentos.
Palavra do Senhor.

SALMO – 144 (145), 2-3.8-9.17-18 (R. 18a)

Refrão: O Senhor está perto de quantos O invocam. Repete-se

Quero bendizer-Vos, dia após dia,
e louvar o vosso nome para sempre.
Grande é o Senhor e digno de todo o louvor,
insondável é a sua grandeza. Refrão

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. Refrão

O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade. Refrão

II LEITURA – Filip 1, 20c-24.27a

O comum dos homens tem medo de morrer. Paulo diz que, se não tivesse o encargo de anunciar o Evangelho, preferia partir – já – ao encontro do Senhor.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos: Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva quer eu morra. Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Mas, se viver neste corpo mortal me permite um trabalho útil, não sei o que escolher. Sinto-me constrangido por este dilema: desejaria partir e estar com Cristo, que seria muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça neste corpo mortal. Procurai somente viver de maneira digna do Evangelho de Cristo.
Palavra do Senhor.

ALELUIA cf. Actos 16, 14b

Refrão: Aleluia. Repete-se

Abri, Senhor, os nossos corações,
para aceitarmos a palavra do vosso Filho. Refrão

EVANGELHO – Mt 20, 1-16a

A parábola dos trabalhadores.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um pro­prie­tário, que saiu muito cedo a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a sua vinha. Saiu a meia-manhã, viu outros que estavam na praça ociosos e disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo’. E eles foram. Voltou a sair, por volta do meio-dia e pelas três horas da tarde, e fez o mesmo. Saindo ao cair da tarde, encontrou ainda outros que estavam parados e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’. Eles responderam-lhe: ‘Ninguém nos contratou’. Ele disse-lhes: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao capataz: «Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, a começar pelos últimos e a acabar nos primeiros’. Vieram os do entardecer e receberam um denário cada um. Quando vieram os primeiros, julgaram que iam receber mais, mas receberam também um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizen­do: ‘Estes últimos trabalharam só uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o peso do dia e o calor’. Mas o proprietário respondeu a um deles: ‘Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?’. Assim, os últimos serão os primei­ros e os primeiros serão os últimos».
Palavra da salvação.

XXV DOMINGO TEMPO COMUM – DEUS É RICO EM MISERICÓRDIA

Quando João Paulo II chegou ao pontificado, em 1978, quis logo escrever três encíclicas que fossem orientadoras de toda a sua acção pastoral. Escreveu a primeira sobre “Cristo Redentor do Homem”, escreveu a terceira sobre o Espírito Santo, “Senhor que dá a vida” e entre estas duas escreveu uma sobre o Pai que é “rico em misericórdia”. Ao ler os textos da liturgia de hoje é a essa encíclica que é necessário referirmo-nos. Deus não é apenas justo, está cheio de misericórdia. Num plano de justiça competiria a Deus dar a cada um aquilo a que ele tem direito, mas Deus que é Pai dá muito mais, porque a sua vida é amor misericordioso. No seu amor de Pai, Deus acolhe, escuta, compreende, perdoa e dá o mesmo amor a todos os homens. Em última análise é este o sentido da lindíssima parábola em que S. Mateus nos diz dos trabalhadores que foram contratados para a vinha.

São muitas as horas em que se é contratado. É o problema da vocação para o amor. São diferentes os tempos de trabalho, uma vez que o chamamento não depende da urgência das tarefas, mas da generosidade de quem contrata. A retribuição para o trabalhador da vinha é para todos a mesma, porque a medida não está no tempo de laborar, mas está no amor do Pai que a todos quer por igual. A medida humana, sobretudo na sociedade actual é a da justiça, com os mesmos direitos e “quem dera com os mesmos deveres”. A medida de Deus é bem diferente, está regulada pela misericórdia e pelo amor. É por isso que a retribuição é sempre a mesma, a comunhão definitiva com Deus na Bem-Aventurança. O problema está em ser-se digno desta misericórdia de Deus.

O Livro de Isaías explica bem porque é que Deus não se pauta pela justiça, mas pela misericórdia, quando diz que os pensamentos de Deus são diferentes dos pensamentos dos homens, que os caminhos de Deus são muito diferentes dos caminhos humanos. Deus tem projectos para os quais chama o ser humano. Ao entrar neles, os homens têm apenas que tentar compreender o que Deus lhes pede, seguindo depois com alegria os caminhos, às vezes difíceis, que Deus lhes propõe.

A Carta aos Filipenses confirma este projecto de Deus numa síntese maravilhosa: “O meu viver é Cristo, e para mim morrer é lucro” (Filp 1, 24). Depois deste dito de Paulo compreende-se facilmente que os critérios de Deus são muito diferentes dos critérios humanos. Para Deus, na sua relação com os homens, só conta a misericórdia, isto é, um amor cada vez maior.

Set. de 2014

CHAMADOS A PARTICIPAR NO SONHO DE DEUS

Na sociedade actual todos sentem a necessidade de tomar parte nas diversas iniciativas que lhe são próximas. Particicpa-se na vida política, na vida social, na vida económica, e até na família ou no trabalho cada um gosta de ser chamado a participar. Esta ideia do querer participar não é de hoje. Já no princípio Deus quis que o homem participasse no seu projecto. Disse ao primeiro par humano: “Crescei, multiplicai-vos, dominai a terra” (Gen 1, 28). Deus queria colaboradores. A partir daí os homens são convidados a participar também no projecto de Deus. Se a Redenção e a Salvação do homem se concretizam no Reino de Deus, compreende-se que Jesus tenha querido associar a si muitos que iriam proclamar o anúncio da Boa Nova do Reino.

O Evangelho de hoje conta uma parábola muito significativa, a dos trabalhadores convidados para a vinha. Sem dúvida, diferentes, mas todos com a missão de produzir frutos que fossem úteis para toda a comunidade. Isaías fala-nos desse projecto alertando-nos para que os nossos pensamentos e os nossos caminhos a serem correctos, são pensamentos e caminhos de Deus. S. Paulo depois, aos Filipenses, dá o exemplo de si mesmo dizendo que o seu viver é Cristo com a garantia de que trabalha exclusivamente para o anúncio do Evangelho.

1. O projecto de Deus
Isaías centra a sua profecia no que é essencial. Deus tem um projecto que se vai realizando através dos séculos. Concretizou-se no Povo de Deus, iniciado em Abraão, Isaac e Jacob, com dificuldades que também por Deus foram superadas como aconteceu na libertação realizada por Moisés, com uma renovação constante que atinge a plenitude do tempo no Servo de Javeh, Jesus Cristo, Senhor. É neste caminhar que Isaías refere a presença de Deus: “os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus” (Is 55, 8). Pertence então ao homem procurar o Senhor, invocar o Senhor, converter-se ao Senhor. Ele poderá então entrar no projecto de Deus.

2. Chamados a entrar neste projecto
Há dezoioto parábolas do Reino, todas elas descrevendo a forma pela qual trabalhamos para o Reino, colaboramos na construção do Reino, respondemos ao apelo de Deus cujo Reino está próximo. A parábola de hoje é paradigmática. Os trabalhadores chegam a horas diferentes, têm experiências diferentes, são até gratificados de maneira diferente, mas todos eles estão ao serviço do mesmo projecto. A relação com Deus, o senhor do campo, é uma relação de ternura em que a justiça é superada pela misericórdia, de tal maneira que todos acabam por se sentir felizes, realizados, porque puderam colaborar no projecto de Deus. Os cristãos têm o dever de construir um tempo novo, a partir da realidade que vivem. O ser cristão não está apenas em relacionar-se com Deus, por Cristo. O ser cristão implica tratar da ordem temporal para ali construir o Reino de Deus. Todo o cristão é chamado, com uma missão específica, a implantar os valores do Evangelho, no mundo concreto que é o seu.

3. Centrar a vida em Cristo
Para participar no projecto de Deus o cristão centra-se na pessoa de Jesus Cristo. É este o testemunho de Paulo, para quem “viver é Cristo e morrer é lucro”, expressão luminosa que define a consagração de Paulo ao Evangelho. Daí que ele fale no seu corpo, que ele entrega ao trabalho de Apóstolo, que gasta em viagens constantes para anunciar Jesus, que consagra à Boa Nova do Reino. Paulo em expressão que contagia todos os cristãos afirma depois, que tem uma única preocupação a de viver de maneira digna do Evangelho que anuncia.

Set. de 2011

Monsenhor Vitor Feytor Pinto in “Revista de Liturgia Diária” – ed. Paulus

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