(Mt 22, 21)
I LEITURA – Is 45, 1.4-6
Deus é o Senhor de todos os homens.
Leitura do Livro de Isaías
Assim fala o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomou pela mão direita, para subjugar diante dele as nações e fazer cair as armas da cintura dos reis, para abrir as portas à sua frente, sem que nenhuma lhe seja fechada: «Por causa de Jacob, meu servo, e de Israel, meu eleito, Eu te chamei pelo teu nome e te dei um título glorioso, quando ainda não Me conhecias. Eu sou o Senhor e não há outro; fora de Mim não há Deus. Eu te cingi, quando ainda não Me conhecias, para que se saiba, do Oriente ao Ocidente, que fora de Mim não há outro. Eu sou o Senhor e mais ninguém».
Palavra do Senhor.
SALMO – 95 (96), 1.3.4-5.7-8.9-10a.c (R. 7b)
Refrão: Aclamai a glória e o poder do Senhor. Repete-se
Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira.
Publicai entre as nações a sua glória,
em todos os povos as suas maravilhas. Refrão
O Senhor é grande e digno de louvor,
mais temível que todos os deuses.
Os deuses dos gentios não passam de ídolos,
foi o Senhor quem fez os céus. Refrão
Dai ao Senhor, ó família dos povos,
dai ao Senhor glória e poder.
Dai ao Senhor a glória do seu nome,
levai-Lhe oferendas e entrai nos seus átrios. Refrão
Adorai o Senhor com ornamentos sagrados,
trema diante d’Ele a terra inteira.
Dizei entre as nações: «O Senhor é Rei»,
governa os povos com equidade. Refrão
II LEITURA – 1 Tes 1, 1-5b
«Recordamos a vossa fé, caridade e esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo»
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja dos Tessalonicenses, que está em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: A graça e a paz estejam convosco. Damos continuamente graças a Deus por todos vós, ao fazermos menção de vós nas nossas orações. Recordamos a actividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo, na presença de Deus, nosso Pai. Nós sabemos, irmãos amados por Deus, como fostes escolhidos. O nosso Evangelho não vos foi pregado somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a acção do Espírito Santo.
Palavra do Senhor.
ALELUIA – Filip 2, 15d.16a
Refrão: Aleluia. Repete-se
Vós brilhais como estrelas no mundo,
ostentando a palavra da vida. Refrão
EVANGELHO – Mt 22, 15-21
Perante o poder temporal, aqui representado por César, o imperador de Roma – que ao tempo de Jesus imperava também na Terra Santa – a atitude de Jesus é de respeito pela sua autonomia, mas reivindica, ao mesmo tempo, as exigências primordiais do serviço de Deus, às quais nada se pode antepor. E, ao mesmo tempo, denuncia a falta de sinceridade dos que O interrogavam; sem ela, ninguém se poderá dirigir a Deus.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-Lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».
Palavra da salvação.
XXIX DOMINGO TEMPO COMUM – TER DISCERNIMENTO
Na vida humana acontece muitas vezes uma certa perplexidade ficando-se com dificuldade em como decidir perante várias alternativas. Se tal acontece com coisas insignificantes, por vezes há situações em que é mesmo preciso escolher. Não é difícil fazer escolhas, quando o que está em causa é a maneira de vestir, ou o lugar onde passar as férias, ou o cinema a que gostará de ir. Há porém, situações em que o que está em causa é mais sério. Decidir sobre qual o curso a seguir, qual o momento de contrair o matrimónio, ou até, como preparar a distribuição de bens quando se pensa na herança que se vai deixar. Hoje, porém, a liturgia coloca-nos perante uma escolha muito mais importante, quando nos desafia com esta expressão: “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. É nestas circunstâncias-limite que é urgente fazer opções cristãs, preferir os valores espirituais, tudo o que vem de Deus, e não os interesses materiais que vêm tantas vezes de caprichos humanos.
Para fazer estas escolhas é sempre necessário discernimento. É o Espírito Santo quem ilumina o cristão para as escolhas a fazer. Com razão, Jesus no discurso da Ceia soube dizer aos Apóstolos que iria enviar o Espírito Santo, o Paráclito, para lhes ensinar toda a verdade, para lhes recordar o que lhes dissera e eles já tivessem esquecido, ou lhes comunicar aquilo que Ele, Jesus, não tinha tido tempo de lhes dizer (cf Jo 16, 13). O Espírito Santo era dado aos Apóstolos para que estes pudessem ter discernimento para anunciar a Boa Nova e difundir a Igreja. A conversa de Jesus com os fariseus é reveladora de todas as artimanhas que estes faziam para apanhar Jesus em contradição. Jesus, porém, guiado pelo Espírito, tinha sempre a resposta certa. Foi o que aconteceu quando lhe apresentaram uma moeda, perguntando-lhe se se devia pagar o tributo a César. Aparentemente a resposta era difícil, ou se agradava ao povo, dizendo que não, ou se agradava a César dizendo que sim. O sim revoltaria o povo, o não desagradava ao poder romano. Movido pelo Espírito, Jesus encontrou a solução “Dai a César o que é de César e dai a Deus o que é de Deus”.
Os cristãos encontrar-se-ão muitas vezes em situações difíceis em que é preciso avaliar as consequências da decisão a tomar. Só com a luz do Espírito a resolução será certa. É a isto que se chama discernimento. Isaías repete-o revelando que o Senhor é o único Deus, a única referência em todas as opções. Paulo di-lo a Timóteo pedindo-lhe que seja fiel ao Espírito Santo nas grandes decisões a ter na vida das comunidades cristãs a que ele preside. Jesus com a sua resposta convida a todos a que com serenidade e movidos pelo Espírito saibam escolher bem, não para benefício próprio, mas para o serviço do bem-comum. Com clareza Jesus soube dizer um dia: não podeis servir a dois senhores, ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro.
Out. de 2014
NA VIDA CRISTÃ, ACÇÃO E CONTEMPLAÇÃO
A liturgia deste Domingo está dominada por uma expressão de Jesus no Evangelho, respondendo ao doutor da Lei: “dai a César o que é de César e dai a Deus o que é de Deus”. Numa leitura superficial, pode julgar-se que é importante separar a vida espiritual do cristão da sua intervenção no mundo. Nada mais errado porque o cristão é cidadão do mundo e a sua espiritualidade levá-lo-à a intervir na história com todos os valores que colheu no Evangelho. Já no A. Testamento, Isaías pôde fazer o elogio de Ciro, a quem atribui a missão de libertar Israel do cativeiro da Bailónia (1ª leitura). Também Paulo, na Carta aos Tessalonicenses, faz deles o elogio, porque eles aceitaram a missão de levarem à sua cidade a riqueza que, por ele, tinham recebido de Cristo. Os cristãos de Tessalónica pregavam o Evangelho com palavras e obras poderosas (2ª leitura). É por isso que acção e contemplação se devem cruzar na eficácia pastoral dos cristãos.
1. O elogio de Ciro
Isaías, o grande profeta no tempo do cativeiro da Babilónia, sabe fazer a leitura dos acontecimentos, não apenas das questões religiosas, mas também da situação política e económica do seu povo. Está-se a mais de trinta anos do cativeiro da Babilónia, quando no horizonte do povo de Israel aparece um grande rei, Ciro, rei dos Persas. Isaías dá-se conta do valor desse homem poderoso que a pouco e pouco vai dominando todos os povos naquela região. Põe nele a sua esperança para libertar Israel. Ao fazer dele o elogio, considera-o o ungido do Senhor. Por ele o Senhor conseguirá a salvação das nações, protegerá Israel, seu povo, abrirá todas as portas. Se Ciro ainda não conhece o Deus de Israel, o Senhor já o conhece. Ciro permitirá, com a libertação de Israel, que Javeh seja conhecido de todos os povos. A força de Ciro foi tal que muitos o identificaram com o Messias, mas ele era apenas a imagem profética do Messias por chegar.
2. Separação ou complementaridade
Jesus já estava a ser perseguido pelos importantes de Israel. Em Jerusalém, fariseus e doutores da lei, tentavam apanhá-l’O em contradição para que o povo O não ouvisse. É neste contexto que lhe fazem uma pergunta extremamente delicada: “Deve pagar-se o tributo a César?” (Mt 22, 17). É claro que se Jesus respondesse afirmativamente o povo se revoltava porque ninguém quer pagar impostos. Jesus utilizou um jogo de grande inteligência. A moeda tinha a efínge de César. “Então dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). É uma resposta luminosa que não exclui a intervenção no mundo, com o pagamento de impostos, mas supõe a prioridade a dar ao projecto de Deus, que compromete também em colaborar nas iniciativas dos homens. É o desafio da complementaridade já que o ser cristão implica a contemplação e a acção. Um dia S. Tiago dirá “a fé (contemplação) sem obras (acção) é morta”. (cf.Tg 2, 17).
3. O elogio dos Tessalonicenses
Nesta carta, Paulo acompanha toda a acção que os Tessalonicenses estão a realizar na sua cidade. Por isso, dá graças a Deus pela missão que eles realizam, pela firmeza na proclamação do Evangelho e pela esperança que conseguem incutir em todos os que os procuram. Em Tessalónica, o Evangelho é pregado com “palavras e obras poderosas”(1Ts 1, 5b). é uma vez mais a síntese entre acção e contemplação.
Out de 2011
Monsenhor Vítor Feytor Pinto (in Revista Liturgia Diária, ed. Paulus)