«MESTRE, QUAL É O MAIOR MANDAMENTO DA LEI? JESUS RESPONDEU:
AMARÁS O SENHOR TEU DEUS COM TODO O TEU CORAÇÃO (…).
O SEGUNDO, PORÉM, É SEMELHANTE A ESTE:
AMARÁS O TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO.»
(Mt 22, 36.39)
I LEITURA – Ex 22, 20-26
“Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás (…). Não maltratarás a viúva nem o órfão.”
Leitura do Livro do Êxodo
Eis o que diz o Senhor: «Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egipto. Não maltratarás a viúva nem o órfão. Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário, sobrecarregando-o com juros. Se receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr do sol, pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele? Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou misericordioso».
Palavra do Senhor.
SALMO -17 (18), 2-3.7.47.51ab (R. 2)
Refrão: Eu Vos amo, Senhor: sois a minha força. Repete-se.
Eu Vos amo, Senhor, minha força,
minha fortaleza, meu refúgio e meu libertador.
Meu Deus, auxílio em que ponho a minha confiança,
meu protector, minha defesa e meu salvador. Refrão
Na minha aflição invoquei o Senhor
e clamei pelo meu Deus.
Do seu templo Ele ouviu a minha voz
e o meu clamor chegou aos seus ouvidos. Refrão
Viva o Senhor, bendito seja o meu protector;
exaltado seja Deus, meu salvador.
O Senhor dá ao Rei grandes vitórias
e usa de bondade para com o seu Ungido. Refrão
II LEITURA – 1 Tes 1, 5c-10
“Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo”
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos: Vós sabeis como procedemos no meio de vós, para vosso bem. Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou não só na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus, de modo que não precisamos de falar sobre ela. De facto, são eles próprios que relatam o acolhimento que tivemos junto de vós e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos Céus o seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livrará da ira que há-de vir.
Palavra do Senhor.
ALELUIA – Jo 14, 23
Refrão: Aleluia. Repete-se
Se alguém Me ama, guardará a minha palavra, diz o Senhor;
meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada. Refrão
EVANGELHO – Mt 22, 34-40
O mandamento do amor, a Deus e ao próximo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».
Palavra da salvação.
XXX DOMINGO TEMPO COMUM – CUMPRIR OS MANDAMENTOS
Em qualquer sociedade são necessárias normas de comportamento que regulem as relações entre as pessoas. Ao longo dos tempos foram-se redefinindo as linhas fundamentais das leis que orientam a vida em comum. Os primitivos seguiam a Lei de Taleão, de “olho por olho, dente por dente”; mais tarde o Povo de Israel definiu como comportamento amar os amigos e odiar os inimigos; entretanto, Moisés, no Monte Sinai, recebe as Tábuas da Lei com 10 Mandamentos, estes reduziam-se a dois “Amar a Deus e amar o próximo”; Jesus Cristo irá muito mais longe, dizendo que o Mandamento novo está em amarmo-nos uns aos outros como Ele nos amou. A liturgia de hoje centra-se exactamente na importância das relações humanas, com normas precisas de comportamento.
Já o Livro do Êxodo referia expressamente a atenção privilegiada a ter com os órfãos e as viúvas. Estes eram ao tempo, os mais abandonados da sociedade. O Livro do Êxodo vai, porém, mais longe dizendo que a grande regra do comportamento humano está na atenção aos mais pobres. No concreto diz-se mesmo: se emprestares dinheiro ao pobre que vive junto de ti, não sejas usurário e se lhe pedires emprestada a capa restitui-lha antes do por-do-sol (cf Ex 22, 24-25). Os comportamentos humanos revelam-se nas atitudes que se têm com os mais pobres e os que mais sofrem.
O Evangelho é paradigmático quando o doutor da Lei pergunta a Jesus qual o primeiro mandamento. Jesus sabe que lhe fazem esta pergunta para o experimentar. Responde então, com a clareza das escrituras, dizendo que o primeiro mandamento é o mandamento do amor a Deus, mas logo acrescenta que o segundo mandamento é semelhante ao primeiro, amar o próximo. É curioso referir que em aramaico a palavra que significa semelhante é a mesma que se usa para exprimir igual. De facto, no dizer de Cristo o segundo mandamento é igual ao primeiro: amar.
Os Apóstolos tentam viver o mandamento do amor e é por isso que Paulo pede aos cristãos de Tessalónica que sejam seus imitadores como ele o é de Jesus Cristo. O mistério de Jesus centra-se no amor que o levou a dar a vida por todos os homens. O amor para os cristãos, continua a ser o dar a vida pelos outros. É esta a norma que regula uma sociedade dominada pelos valores do Evangelho. Infelizmente, na sociedade contemporânea, perderam-se estas referências e o resultado são as tensões, os ódios, as violências, as guerras. Os cristãos têm como única Lei, o amor, amar os outros, amar a todos, amar sempre.
Out. de 2014
O MANDAMENTO DO AMOR
A organização da sociedade supõe sempre regras de conduta que possibilitem uma normal relação entre as pessoas, digamos numa autêntica cidadania. Foi sempre assim desde o Código de Amurabi, escrito na pedra 2500 anos a.C., até à Carta das Nações que em 1948 consagrou os Direitos Humanos. Mais do que normas morais ou regulamentos fechados são precisas referências éticas que, em todas as situações, defendam e promovam a liberdade e a dignidade de todo o ser humano. Estas regras de conduta aparecem claramente no Livro do Êxodo com a defesa intransigente dos mais fracos (1ª leitura), são muito claras no Evangelho que propõe dois únicos mandamentos, o amor a Deus e ao próximo (Evangelho) e merecem o elogio de Paulo que aos Tessalonicenses pede que sejamos seus imitadores no cumprimento da Palavra que se recebe pelo Espírito Santo (2ª leitura). Toda a liturgia deste domingo consagra o mandamento do amor.
1. O mandamento novo é o amor
A proposta dos Mandamentos na história do Povo de Israel e na proposta de Jesus Cristo, vem-se simplificando até uma fórmula radical: “dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros” (Jo 13, 34). No Deuteronómio, constam mais de 600 regras que os israelitas tinham que cumprir para serem fieis a Javeh. Esta complexidade de normas deu origem ao farisaísmo radical. Não era a lei feita para o homem, como dirá mais tarde Jesus Cristo, era o homem feito para a lei. Moisés, no caminho do deserto, subiu ao Monte Sinai e ali recebeu as Tábuas da Lei, com apenas 10 Mandamentos (cf Ex 20). Moisés guiava o povo pelos caminhos da liberdade e, por isso, sintetizava em 10 orientações os grandes princípios da vida em comum, na relação com Deus e na relação de uns com os outros. Quando Jesus vem, Ele diz claramente que não vem revogar a Lei, antes completá-la. Porém, reduz tudo a dois mandamentos, “Amar a Deus e amar o próximo” (cf Mt 22, 37-39). Mais tarde João no seu Evangelho reduz tudo ao mandamento do amor naquela Palavra de Jesus “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros como eu próprio vos amei” (Jo 13, 34). A partir daqui há um só mandamento, o mandamento do amor.
2. Previlegiar os mais pobres
Desde o Povo de Israel até aos nossos dias, o mandamento do amor admite e propõe um previlégio, o de amar prioritariamente os mais carenciados. É assim no Livro do Êxodo em que os estrangeiros, as viúvas, os órfãos, os pobres devem receber gestos de amor. Há que proteger o pobre como o faz Deus que é cheio de misericórdia. Esta ideia será enriquecida por Jesus ao pedir que se tenha um coração de pobre disponível para os que sofrem (cf. Mt 5, 3). A Igreja continuará a fazê-lo através dos séculos até Paulo VI quando ao falar da evangelização nos tempos modernos, dizia que é preciso acolher e ser solidário com os mais pobres e os que têm mais dificuldades (cf. EN 21). O verdadeiro amor irá previlegiar sempre os mais carenciados.
3. Importa ser sempre testemunha do amor
Paulo na Carta aos Tessalonicenses reconhece como estes o souberam imitar nas atitudes de amor universal. Esta prática do amor alicerça-se sempre na Palavra de Deus, mesmo no meio de muitas tribulações e recebe uma força maior no Espírito Santo, Ele próprio o amor entre o Pai e o Filho no mistério de Deus. Baseados no testemunho de Paulo também os Tessalonicenses são testemunhas de amor na Macedónia, na Acaia, em todas as outras terras. Fica claro que o cristão dá sempre testeumnho do amor universal.
Out de 2011
Monsenhor Vítor Feytor Pinto (in Revista Liturgia Diária, ed. Paulus)