1. No tempo do Advento prepara-se, na comunidade cristã, o nascimento de Jesus. É o Natal que está no centro das semanas do Advento. Infelizmente, porém, na grande cidade dos homens, perdeu-se completamente o verdadeiro sentido do Natal. Basta ver os programas de televisão ou folhear jornais e revistas para se compreender que Jesus não está presente na vida das pessoas. Fala-se da árvore de Natal, apresenta-se o Pai Natal cheio de prendas, mesmo em tempo de crise, programam-se festas nas empresas, convidam-se as crianças para espectáculos de circo, mas Jesus não é referido por ninguém. Circula por aí uma carta atribuída a Nossa Senhora, em que Maria conta que assiste a todos os preparativos da festa mas lamenta que o seu Filho não seja convidado, quando afinal, é o dia do aniversário de Jesus. O Natal, neste século XXI, está cada vez mais longe do Menino que nasceu para ser o Salvador da Humanidade.
• Para os comerciantes o Natal é tempo de oportunidade económica. Os centros comerciais, como as lojinhas de bairro, todos esperam o negócio que salve o ano difícil.
• Para os autarcas o Natal é tempo de afirmação com miríades de luzes a brilharem nas ruas, inúmeros cantares a ecoarem pelas praças. É que a cidade tem que estar em festa.
• Para os mais pobres o Natal é tempo de receber alguns cabazes que trazem alimentos para a consoada e agasalhos para os pequeninos.
• Para as crianças o Natal é tempo de diversão em que esperam presentes que apesar de muito caros são “exigidos” aos pais para não perderem o “carinho” dos filhos.
• Para os sem-abrigo o Natal é o tempo de uma refeição farta servida nas ruas apesar do frio que a todos envolve.
• Para algumas famílias o Natal é tempo de cumprir tradições em que se reúnem as pessoas mesmo que desavindas e se fazem juramentos de paz muito duvidosos.
Em todos estes natais, Jesus não tem lugar. A Humanidade perdeu o sentido de Deus, foi esquecendo a presença de Jesus, caiu num materialismo assustador e até as festas de sabor religioso foram profanadas. É por tudo isso que o slogan deste Advento é, para a comunidade cristã do Campo Grande, uma busca de Natal verdadeiro centrado na Pessoa do Menino que vai nascer.
2. O Natal verdadeiro evoca o nascimento de Jesus Salvador. Na palavra do profeta “uma donzela conceberá e dará à luz um Filho ao qual será posto o nome de Emmanuel, que quer dizer Deus connosco” (Is 7, 14). Não há verdadeiro Natal sem a referência explícita à Pessoa de Jesus. É urgente recriar o Natal cristão, não apenas o Natal das tradições com o madeiro a arder à porta das igrejas, a Missa do Galo e a consoada. O Natal cristão pede mais, pede a conversão do coração porque Jesus nasceu.
• Natal cristão na coragem da renovação espiritual, conseguindo uma vida plenamente identificada com a Pessoa de Jesus.
• Natal cristão nas comunidades que se reclamam dos valores do Evangelho e, por isso, querem viver a justiça, o amor e a paz.
• Natal cristão no serviço aos mais pobres, sabendo que o que se faz ao mais pequenino dos irmãos é a Jesus que se faz (cf Mt 25, 40).
• Natal cristão no aconchego das famílias onde circula a reconciliação entre todos, o carinho com os mais pequeninos e a ternura para com os mais velhos.
• Natal cristão no recriar as velhas tradições de que a oração faz parte, numa confiança imensa em Jesus que nasce para salvar.
É a descoberta deste verdadeiro Natal que se torna uma urgência. Os cristãos não podem contentar-se com festas feitas de barulho, de promoção, de resposta ao capricho de crianças, de gestos de aparente solidariedade para com os pobres. Há que reencontrar o sentido verdadeiro do Natal para, como os anjos do presépio, poder cantar-se “Glória a Deus nas alturas, e na terra, aos homens, paz e boa vontade”.
3. A Partilha dos Afectos é a proposta da comunidade Paroquial do Campo Grande para este tempo de Advento. Num programa da TV para crianças perguntava-se a muitos pequeninos o que era o Amor. As respostas foram desconcertantes e reveladoras duma estranha mentalidade permissiva. As canções acompanhavam o mesmo ritmo de futilidade. Vale a pena perguntar se não é tempo de redescobrir o Amor, como “oportunidade de sair de si para ir ao encontro de outros e os fazer felizes” (Cf Erich Fromm). A vida realiza-se no jogo dos afectos e os cristãos, em cada Natal, são convidados a ensaiar gestos de amor que perdurem para sempre. Isto implica um trabalho que se propõe a todos os membros da nossa comunidade: descobrir a quem amar, como o amar, o porquê de tanto amor neste Natal.
• A quem amar: numa espiral de ternura é preciso começar por amar os mais próximos, depois, os que mais precisam mesmo que estejam distantes e ainda os que nos interpelam embora difíceis. A todos importa amar, como Jesus um dia veio pedir: “dou-vos um mandamento novo, que ameis” (cf. Jo 13, 34).
• Como amar: este é o desafio da partilha sabendo que a partilha do coração é mais urgente que a partilha das coisas. Partilhar o tempo, a palavra, a fé; partilhar também o pão, as preocupações, as sobras de uma economia modesta; partilhar a vida, com todos aqueles que, mais próximos, caminham connosco na busca de um futuro melhor.
• Porquê amar: porque o outro, quem quer que seja, é meu irmão, porque ele é a presença viva de Jesus, porque é necessário construir uma nova humanidade em que todos sintam que é possível ser feliz.
No jogo dos afectos assumido incondicionalmente vai permitir-se a cada um a descoberta de como construir o Natal verdadeiro onde a fraternidade e a paz têm o primeiro lugar. Neste jogo de afectos não se exclui a Pessoa de Jesus a quem se ama de tal maneira que por Ele e com Ele é possível transformar a vida.
4. Faltam 20 dias para o Natal. Cada um tem tempo de provocar a grande conversão, deixando o Natal pagão que actualmente se vive, e convertendo-o em Natal cristão, marcado pelos valores do Evangelho. É neste esforço que a Comunidade Paroquial do Campo Grande propõe a todos um slogan para este tempo de Advento: “Natal Verdadeiro/ Partilha de Afectos”.