TEMPO DE MANIFESTAÇÃO – 8 Janeiro de 2012

1. Nas páginas do Evangelho, há muitos acontecimentos que são reveladores da divindade de Jesus. São verdadeiras Epifanias, momentos em que Jesus se manifesta como Filho de Deus. Aos homens não era possível aperceberem-se de que Jesus era diferente. Foi necessário surgirem sinais que por si só revelavam que Jesus, menino, adolescente ou adulto era o Messias, enviado por Deus como Salvador de toda a Humanidade. É a estes sinais que se pode chamar Epifanias, tempos fortes de manifestação.

• A manifestação de Jesus Menino, na visita dos Magos vindos do Oriente, anuncia que a mensagem de Jesus é universal.

• A manifestação de Jesus adolescente, no templo de Jerusalém, discutindo com os doutores tendo apenas 12 anos, é um sinal de que Ele se abandonava à vontade do Pai, Senhor da eterna sabedoria.

• A manifestação de Jesus já adulto, no Baptismo do rio Jordão, permite ao precursor anunciá-l’O a todo o povo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

• A manifestação de Jesus Senhor e Mestre, no alto do Monte Tabor, leva os discípulos a conhecerem que Ele é mesmo o Filho muito amado de Deus.São inúmeras as epifanias em que Jesus se revela e através das quais se pode conhecê-l’O na sua humanidade e na sua divindade enquanto Filho do Homem e Filho de Deus.

2. Na cena dos Reis Magos, a lenda mistura-se com a realidade. A história cruza-se com a tradição. O texto do Evangelho é enriquecido com a narrativa dos Apócrifos. De facto, o que a catequese dos Magos pretende dizer é que a mensagem de Jesus é universal, para todos. Se o presépio respira alegria, justiça e paz, são estes valores que devem ser anunciados a todos os homens, como caminho para uma felicidade diferente, aquela que nasce no coração de cada um.

• O mistério de Jesus chega aos três continentes então conhecidos, a África, a Ásia e a Europa. De facto, os Magos têm cores diferentes, um é branco, outro é preto, outro amarelo.

• A proposta de simplicidade e pobreza que se respira no presépio é para todas as idades da vida. Dos Magos, um é ainda jovem, outro é adulto e o terceiro é um velho de barbas longas.

• O sinal de Jesus, a estrela, move-se do Oriente para o Ocidente, atingindo todos os meridianos conhecidos pelos cientistas do tempo.

• As ofertas trazidas ao presépio são reveladoras das atitudes normais em todos os humanos. O poder a colocar aos pés do Rei dos reis está simbolizado no ouro; o sofrimento que é para os homens o pão de cada dia é representado pela mirra; a adoração como reconhecimento do Deus em que se acredita é significada pelo incenso.

Esta extraordinária catequese anuncia com clareza a universalidade da mensagem anunciada por Jesus. Compreende-se a expressão do salmista “todos os povos da terra viram a salvação do nosso Deus”.

3. Os cristãos de hoje devem aprender a anunciar Jesus, manifestando-O como Senhor Universal. Todo o cristão tem a obrigação de ser Apóstolo. Cada palavra, cada gesto, cada atitude pode ser uma epifania, uma manifestação de Jesus Salvador. Perguntar-se-á, como é que isto se faz?

• Pelo testemunho de vida – são os valores cristãos que pautam a relação de cada um com Deus, com os outros e com as coisas. A coerência de vida faz parte do anúncio do Evangelho. A autenticidade nas atitudes significa que a verdade é a marca do cristão.

• Pela acção profética e evangelizadora – ninguém pode calar o que ama e aquele por quem deu a vida. Falar de Cristo e do seu Evangelho vai permitir a construção de um mundo justo e fraterno, de felicidade para todos os homens.

• Por gestos de caridade fraterna – as pessoas do mundo de hoje podem não entender muito as palavras e os ritos de uma liturgia eventualmente eloquente. Mas compreendem os actos de amor para com os pobres e os que mais sofrem. O amor aos irmãos é o sinal privilegiado do amor a Deus.

• Pela oração, marcada de simplicidade e de fé – desde o silêncio como linguagem na relação com Deus até às manifestações religiosas nos grandes santuários, todas as formas de oração se tornam expressão de intimidade com Deus. E o Senhor devolve-nos a nossa prece com certezas de misericórdia e de paz.

• Pela organização das comunidades cristãs – o acolher, o servir, o ajudar são sinais fortes da presença de Deus na vida das pequeninas ou grandes comunidades. Cada gesto é uma epifania, sinal de universalidade.

A Festa da Epifania é alguma coisa que se repete na vida de todos os cristãos. Descobrir a forma concreta de manifestar Jesus é o segredo que a cada um desafia. É que não se pode calar o que se ama.

4. Há múltiplos lugares onde a mensagem de Jesus Cristo deve ser proclamada. Seria um erro reduzir a profecia ao espaço das igrejas, ao momento das procissões, ao tempo forte das peregrinações a santuários conhecidos. Para que Cristo seja tudo em todos e em todas as coisas torna-se imperioso anunciá-l’O na vida quotidiana.

• A epifania na família passa pela unidade dos cônjuges, pela relação com os filhos, pelo acolhimento dos mais velhos, pela atenção aos vizinhos, pela cordialidade e amor que gera comunhão.

• A epifania no trabalho supõe a competência de cada um, a eficácia no serviço a prestar, a colaboração nos programas e nas acções a desenvolver, a alegria no estar em comum no mesmo projecto.

• A epifania no grupo social passa pelo difundir amizade, pelo estar atento às dificuldades dos outros, aceitar as sugestões, as iniciativas, os interesses de terceiros, o receber cada um com um sorriso, com uma mão que se dá, com uma amizade que se vive.

• A epifania na comunidade cristã desafia a que não se seja um espectador que cumpre rotineiramente preceitos, nem um consumidor que vem apenas buscar a própria salvação, nem um actor que procura protagonismo. Na comunidade cristã cada um é agente que participa segundo a sua capacidade e possibilidade na vida comunitária, na profecia, na liturgia, na acção social.

A comunidade cristã do Campo Grande quer ser uma epifania através da qual Cristo se manifesta à cidade.

Os patronos da Comunidade Paroquial do Campo Grande são os Santos Reis Magos. Não sabemos quem são, não sabemos de onde vieram, não sabemos para onde partiram. Sabemos, porém, que seguiram uma estrela, que essa estrela é Cristo e que Jesus os levou a voltar a casa por outro caminho. Cada um de nós, guiado pela estrela, deverá descobrir o seu “outro caminho”.

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