O ESPÍRITO DE ASSIS – 22 Janeiro de 2012

1. A cidade medieval de Assis é um lugar de paz. Ali, no séc. XIII, nasceu o “Poverello”, assim chamado Francisco que sendo rico deixou tudo para servir os pobres imitando em tudo a Pessoa de Jesus. A cidade está plantada numa colina onde é dominada por dois grandes rochedos, a Rocca Maggiore e a Rocca Minore. A praça da cidade recorda ainda o tempo do paganismo com a Fonte de Minerva. Muito belas as três Basílicas sobrepostas. Na inferior, entre colunas de pedra que o circundam, o túmulo de Francisco. É um ambiente rústico extremamente pobre. A Basílica superior é uma explosão de arte dominada pelas pinturas de Giotto. Na Basílica intermédia celebra-se o culto para as multidões que diariamente sobem à cidade. Lugares de extrema beleza, a Pursiuncula, igreja que Francisco começou a reconstruir, o Convento de S. Damião, onde viveu Clara de Assis e os “carcceris” que a meia encosta são lugar de contemplação. Nesta cidade de Assis respira-se a paz. Por isso, João Paulo II escolheu esta cidade para ali realizar grandes encontros ecuménicos e de diálogo entre religiões. Em 1986 e em 2002 os Encontros de Assis permitiram um tempo novo da Igreja no diálogo com os outros cristãos, com as outras religiões, com todos os homens de boa vontade. Bento XVI, em Outubro de 2011, seguiu-lhe os passos e convocou um novo Encontro de Assis, onde puderam estar cerca de 300 delegados de muitas confissões religiosas para, em conjunto, todos rezarem pela paz. Falar de Ecumenismo na Semana da Unidade, entre 18 e 25 de Janeiro, implica a responsabilidade dos cristãos pelo diálogo, a reconciliação e a unidade.

• O diálogo – todas as pessoas são diferentes, os grupos religiosos são-no também, mas é possível encontrar pontos comuns a partir dos quais todos, em conjunto, podem construir um mundo melhor. O diálogo ecuménico entre cristãos, o diálogo interreligioso com todas as religiões, é elemento essencial à construção da paz.

• A reconciliação – foi violenta a rotura entre as igrejas cristãs quer no séc. XI com as Igrejas Ortodoxas quer no séc. XVI com as Igrejas Protestantes. Há que descobrir o tempo da aproximação que não é possível sem o reconhecer recíproco de que todos são um pouco culpados das separações que aconteceram. Pedir perdão e oferecer perdão é movimento de todos. O são Ecumenismo inspira-se na fidelidade incondicional a Jesus Cristo que no seu Evangelho pede insistentemente “que todos sejam um como Eu e o Pai somos um e assim o mundo acredite” (Jo 17, 20).

• A unidade – é um projecto difícil de alcançar mas que não pode ficar reduzido a uma utopia. Passo a passo, todas as religiões cristãs procuram a unidade. Se não se consegue no momento, há inúmeras situações em que a aproximação se está a dar: encontros com o Papa, visitas de João Paulo II e Bento XVI a diversos lugares com diálogo ecuménico concreto, acolhimento de grupos que se interrogam, celebrações comuns, programas pastorais ecuménicos, tudo são passos para a unidade que todos desejam, embora seja difícil de alcançar.

A semana da unidade, instituída em finais do séc. XIX por Paul Wattson, episcopaliano, foi aceite na Igreja Católica por Bento XV em 1935. Desde então, todas as confissões cristãs fazem oração sentida pela unidade dos cristãos.

2. Um tema original e diferente “todos seremos transformados pela vitória de Nosso Senhor Jesus Cristo” (cf 1 Cor 15, 51-58). Neste ano de 2012, a semana da oração pela unidade dos cristãos foi preparada por um grupo de trabalho composto por representantes da Igreja Católica Romana, da Igreja Ortodoxa e dos Antigos Católicos e Igrejas Protestantes em actividade na Polónia. Decidiu-se dar atenção a um tema que diz respeito ao poder transformador da fé em Cristo. Poderá perguntar-se porquê este tema. A história da Polónia tem sido marcada por uma série de derrotas e de vitórias. Quantas vezes foi invadida, quantas divisões do seu território, quantas opressões por poderes estrangeiros e sistemas hostis. A constante luta para vencer toda a escravidão e o desejo de uma liberdade plena são características da história polaca. Sempre que houve vitórias houve pessoas que perderam. Entre todos a reconciliação é uma urgência. Foi pensando assim que o grupo ecuménico que preparou a Semana da Oração pela Unidade escolheu um tema centrado no vencer que só em Cristo encontra o seu significado pleno. A experiência da Polónia é a experiência da humanidade inteira. Em toda a parte há divisões e roturas. Torna-se urgente a reconciliação entre todos. Também no campo religioso a unidade se tornou um desafio permanente, o que não é possível sem a transformação pela fé em Jesus Cristo para a vitória da unidade.

• Transformar-se – a mudança radical de vida é um imperativo para quem busca a reconciliação e a paz. As pessoas podem converter-se, os grupos podem renovar-se, os povos podem encontrar um sentido novo. Também as religiões se podem transfigurar a partir de modelos que se impõem no viver comum. Esta transformação radical é o normal caminho para a unidade. Foi Jesus que o afirmou ao dizer que quem quer ganhar tem que aceitar perder e só o que perde acaba verdadeiramente por ganhar (cf. Mt 16, 25).

• A fé em Jesus Cristo – a aceitação incondicional de Cristo molda o pensamento e a acção de cada um. Sendo uma referência em todas as religiões cristãs, a fé é um desafio para que todos sejam um em Cristo Jesus. O Evangelho é o mesmo, o Espírito é o mesmo, é o mesmo Deus que é Pai de todos. As diferenças circunstanciais podem ultrapassar-se, são tão relativas que não podem comprometer o essencial que é Jesus Cristo.

• Para a vitória da unidade – todos os cristãos têm o mesmo código, o mesmo livro de referência, a Sagrada Escritura. Se todos escutam a Palavra de Deus, é urgente que se encontrem para que, na interpretação da mesma Palavra, descubram os elementos que conduzem à unidade. É esta a vitória final, acreditar em Jesus Cristo, único Redentor e Salvador.

No grupo de trabalho invocam-se muitas situações em que, na diversidade, todos podem encontrar um projecto comum. É assim com a Taça da Europa em futebol, a realizar na Polónia, é assim com os mega concertos de rock realizados em toda a Europa, é assim com os Jogos Olímpicos de Londres. Se com estes programas é possível a unidade na diversidade, não será também possível a unidade na fé na pessoa de Jesus Cristo?

3. A oração pela unidade dos cristãos é um desafio a que as comunidades cristãs dêem o exemplo de unidade. Pode haver diferentes vocações, funções e carismas. Pode haver diversas sensibilidades, gostos e opções. Pode haver várias preocupações, critérios e tarefas. A comunidade cristã porém, é uma só e nela deve existir a componente que gera a unidade verdadeira, o amor fraterno que acolhe, compreende, perdoa, serve e se faz sempre disponível. Sem amor fraterno a unidade não é possível, por isso todos os cristãos são convidados ao perdão, ao reencontro, ao trabalho comum.

• Ao perdão – porque no caminho são normais as tensões e até as discórdias ou as roturas.

• Ao reencontro – uma vez que vale a pena começar sempre de novo. Os caminhos de aproximação não são da competência de ninguém, são um dever de todos. Reencontrar-se é a expressão mais lídima do verdadeiro amor.

• Ao trabalho comum – pois é nele que se encontra a alegria da realização. O individualismo não é criativo. A partilha de acções é enriquecedora. A dinâmica de grupo faz crescer nos objectivos que se pretendem. Não pode então ficar-se em projectos individualistas. Só de mãos dadas se chega mais longe.

É esta vida comunitária que constitui um novo paradigma em toda a acção pastoral vivida nas comunidades cristãs. Era assim a vida das primeiras comunidades, estavam todos unidos na doutrina dos Apóstolos, na fracção do pão e nas orações, punham tudo em comum e, por isso, aumentava o número dos que acreditavam (cf. Act 2, 42-47).

4. Que a Semana da Unidade seja para a nossa Comunidade Paroquial fonte de unidade verdadeira.

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