VIVER EM COMUNHÃO – 29 Janeiro de 2012

1. A celebração da Semana da Oração pela Unidade dos Cristãos faz pensar na comunhão de todos na unidade da fé e do amor. Para além do diálogo ecuménico e interreligioso é dentro das próprias comunidades cristãs que esta unidade e comunhão se devem viver. Aliás, a unidade entre os cristãos é o sinal que permitirá ao mundo acreditar na divindade de Cristo e na verdade da própria Igreja.

• “Que todos sejam um como Eu e o Pai somos um, e, por isso, o mundo acreditará” (Jo 17, 20). Com uma enorme clareza, Jesus declara que a eficácia da evangelização depende do amor e da comunhão entre todos os cristãos.

• “Que a minha comunhão convosco seja comunhão também com o Pai e com o Seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1,3). A relação de amor entre os cristãos é o testemunho da relação deles com Deus; e a relação de intimidade com Deus é o sustentáculo do amor fraterno.

• “Um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo, um só Deus e Pai de todos” (Ef 4, 5-6). A total comunhão entre os cristãos fundamenta-se na mesma fé em Jesus Cristo Salvador, nos mesmos sacramentos que são sinais da fé, numa autêntica vida em comunhão que tem o amor como vínculo da unidade.

• “Fomos baptizados para sermos um só corpo” (1 Cor 12, 13). O Baptismo incorpora-nos na Igreja para sermos um só corpo; temos como cabeça Cristo e somos membros uns dos outros. Como o corpo é um só, os cristãos devem ser um só em Jesus Cristo.

• “Unidos na doutrina dos Apóstolos, na fracção do pão e nas orações” (Act 2, 42). A experiência das primeiras comunidades cristãs revelavam uma completa unidade no amor, de tal maneira que até punham em comum tudo o que tinham e não havia necessidades entre eles.

• “Um só coração e uma só alma” (Act 4, 32). Uma expressão tão simples definia com clareza a vida dos primeiros cristãos. Esta realidade impressionava outros que se dispunham, por isso, a aderir à mesma fé.

Poderiam continuar a citar-se os inúmeros apelos à unidade que constitui a matriz dos cristãos. Esta comunhão eclesial, vivida nas comunidades cristãs, é o melhor testemunho da verdade do Evangelho. Cada comunidade cristã tem de lutar constantemente para que esta comunhão se consiga, não apenas a nível mundial ou diocesano, mas sobretudo a nível local onde as pessoas estão mais próximas, onde o amor é mais visível e o testemunho da unidade é mais urgente.

2. Não é nada fácil viver em comunhão. De facto, qualquer comunidade tem inúmeras diversidades. Aceitá-las é um exercício constante. Sobre esta capacidade de encontro e de comunhão têm trabalhado ao longo dos tempos muitas ciências, a psicologia, a sociologia, as relações humanas, as ciências políticas. As comunidades cristãs têm na doutrina do Evangelho o padrão de conduta que levará mais facilmente à comunhão total. É claro que a comunhão e a unidade acontecem na diversidade. Procurar a unidade não está em reduzir todos ao mesmo padrão. Está, antes, em enriquecer-se cada um com os valores que recebe do outro. Este exercício, porém, não é nada fácil.

• É preciso aceitar que o outro é diferente. Respeitá-lo na sua diferença, não querer competir com ele, saber que ele tem valores importantes para todos, são atitudes essenciais para o caminho de comunhão.

• A diversidade de vocações é característica de uma comunidade cristã. Uns são sacerdotes, outros religiosos, outros leigos. Uns são crianças e jovens, são adultos ou mais velhos, têm família ou estão mais sós. Há diversas situações de cultura, de vida social e de fé. Amar-se na diversidade, tendo um coração universal, é um desafio para a comunhão.

• São também diferentes os dons, as funções, os carismas. É por isso que muitos trabalham na profecia, enquanto outros se dedicam à liturgia ou ao serviço da caridade. Todos, porém, são essenciais numa Igreja que evangeliza e que salva.

• Acresce ainda a diversidade de temperamento com influência na maneira de sentir, de reagir e de actuar. Compreender cada um e integrá-lo plenamente na vida de uma comunidade com tantas diversidades não é tarefa fácil.

Compreender tudo isto e conseguir integrar todos na mesma atitude de amor, com o acolhimento de todos, com a compreensão dos mais difíceis, com o perdão que tantas vezes se impõe, com a reconciliação que se torna necessária, é desafio extraordinário que gera a comunhão indispensável. O pedido de Jesus ouve-se continuamente: “que todos sejam um”.

3. A dinâmica da unidade e da comunhão tem exigências muito concretas. É preciso passar da palavra aos actos, assumir cada um a sua responsabilidade no amor, não considerar os outros causadores de roturas, partir com generosidade ao encontro de soluções para que a comunhão fraterna se consiga. Vale a pena sugerir atitudes fundamentais para a comunhão:

• O respeito pelo outro seja ele quem for, dando atenção à sua dignidade e liberdade em qualquer circunstância.

• Sentir o outro como verdadeiro irmão a quem se escuta, a quem se acolhe, a quem se serve.

• Ter um coração universal que não faz acepção de pessoas, que trata a todos por igual.

• Descobrir na capacidade de perdão o verdadeiro segredo do Cristianismo, já que Jesus veio para perdoar e por isso deu a vida.

• Colocar o outro sempre em primeiro lugar vencendo os radicais egoísmos que estragam todas as relações humanas.

• Sacrificar-se pelos outros sempre que necessário, uma vez que há mais alegria em dar-se do que em receber atenções.

• Finalmente, identificar-se plenamente com Cristo, exemplo máximo de amor fraterno que na Ceia soube dizer “como Eu fiz, façam vocês também” (Jo 13, 15).

Se cada um for capaz, na comunidade cristã, de educar-se para estas atitudes, a comunhão consegue-se e a vida da comunidade torna-se fonte de felicidade para todos.

4. Luther King, ao lutar pela dignidade dos mais pobres, os negros americanos, soube dizer “I have a dream”, eu tenho um sonho. Também na nossa comunidade do Campo Grande eu tenho um sonho que todos sejamos um só.

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