1. As comunidades cristãs celebram nestes dias a Ressurreição de Cristo. O sepulcro vazio e as aparições aos discípulos são sinais de que Jesus venceu a morte, está vivo. A Ressurreição é o fundamento da fé cristã. Foi o Apóstolo Paulo que soube dizer com uma enorme clareza “há por aí quem diga que não há ressurreição dos mortos. Mas se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, a nossa vida não tem sentido, a nossa pregação é vã e somos os mais infelizes dos homens. Mas Ele ressuscitou e como Ele ressuscitou todos com Ele havemos de ressuscitar” (cf. 1Cor 15, 16-17). Nesta carta aos cristãos de Corinto, cidade em que muitos não acreditavam na ressurreição, Paulo soube dizer que o essencial na fé cristã é reconhecer Cristo Ressuscitado.
• Jesus tinha-o anunciado, quando os fariseus lhe perguntavam com que autoridade afirmava a sua doutrina. Ele respondeu: “não vos será dado outro sinal senão o sinal de Jonas” (Mt 16, 4). Como Jonas teve três dias dentro do “cetáceo” e depois voltou à vida, também Jesus depois de três dias no coração da terra voltaria à vida.
• Jesus disse-o expressamente quando enfrentou os sacerdotes do templo ao provocá-los com estas palavras: “destruí o templo e Eu o reedificarei em três dias” (Jo 2, 19). Falava do templo do seu corpo, anunciando assim a Ressurreição.
• Maria Madalena vai ao sepulcro, que encontra vazio, e pergunta ao jardineiro onde pôs o corpo do Senhor. A resposta foi uma expressão de vida. Afinal o jardineiro era Jesus (cf. Jo 20, 1).
• Os discípulos de Emaús fazem o caminho da desilusão até à aldeia já longe de Jerusalém. Um companheiro de caminho interpela-os pela sua tristeza. Eles contam o seu sofrimento pela perda de Jesus. Já em casa, ao partir do pão reconheceram que afinal com eles estava o Senhor (cf. Lc 24, 13 ss.).
• Os pescadores do Lago de Tiberíades tinham voltado à faina porque Jesus morrera. Na praia vêem um outro pescador que lhes pediu para deitarem as redes para o outro lado. Afinal aquele companheiro do mesmo mar era Jesus (cf. Jo 21,6).
• No Cenáculo, os discípulos refugiam-se em tempo de saudade. Mas, com as portas fechadas, por duas vezes Jesus lhes aparece. Convida-os a acreditarem sem condições, concede-lhes o Espírito da Verdade e convida-os a serem agentes de perdão (cf. Jo 20, 22-23). Com Jesus Ressuscitado os discípulos tornaram-se Apóstolos.
• No Monte das Oliveiras, os 500 irmãos rodeiam Jesus. Ele convida-os a anunciarem o Evangelho a toda a criatura, com a certeza de que ficaria com todos até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 16-20). Afinal, Jesus vivo seria uma presença constante na vida de todos aqueles que O seguiam.
É extraordinariamente belo o Evangelho da Ressurreição. Saber que Ele está vivo e acompanha todos os que n’Ele crêem constitui o alicerce da construção de toda a comunidade cristã. E com esta a possibilidade da transformação do mundo. Se Cristo ressuscitou, todos podem ressuscitar e a humanidade inteira ressuscita também.
2. Jesus Ressuscitado é para todos fonte de vida. Os que com Ele cruzaram naqueles 40 dias depois da Páscoa, ou que por Ele foram influenciados logo a seguir, todos sentiram que a sua vida mudou radicalmente, tornando-se fonte de esperança e serviço de amor nos seus ambientes.
• Os Apóstolos consagraram-se definitivamente à loucura do Evangelho. Conduzidos pelo Espírito, dando testemunho da Ressurreição, souberam levar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos oprimidos e a alegria aos que sofrem.
• Paulo foi surpreendido na estrada de Damasco. À presença inesperada de Jesus soube responder “que queres que eu faça?” (Act 22, 10). Aquele que era perseguidor tornou-se apóstolo dos gentios.
• Cornélio, centurião romano, e os seus amigos, depois de escutarem Pedro, abriram-se à certeza do Ressuscitado. Eles que eram pagãos aceitaram o Evangelho e foram baptizados.
• Os cristãos da comunidade de Jerusalém, com a certeza de Jesus Ressuscitado, souberam viver unidos na fracção do pão, nas orações e na doutrina dos apóstolos. Aprenderam até a porem tudo em comum. Por isso, a comunidade crescia sempre mais.
• Os mártires dos primeiros séculos, com a certeza da Ressurreição de Cristo, foram capazes de dar a vida confessando a fé sem qualquer medo dos tormentos. As perseguições romanas permitiram a afirmação do Ressuscitado.
• Os cristãos de todos os tempos alicerçam a sua vida na certeza da Ressurreição. Pode haver dificuldades, podem sobrevir os sofrimentos mais diversos, pode mesmo surgir na vida de muitos a certeza da perseguição por se ser cristão. A vitória de Cristo sobre a morte dá a força para confessar a fé até ao fim.
Se a Ressurreição de Cristo foi a expressão máxima do amor, até ao dom da vida, a imitação de Cristo supõe viver intensamente toda a dimensão do ser cristão, quer na relação com Deus, quer na relação com os irmãos, quer mesmo na relação com o mundo. Tudo o que o cristão vive fundamenta-se na Ressurreição de Cristo Jesus.
3. A Ressurreição transforma completamente a vida das pessoas que aceitam viver ao ritmo de Cristo. A maneira de viver dos cristãos está em tudo pautada por participarem na Ressurreição.
• Vencer o mal é ressuscitar. Uma consciência bem formada permite discernir entre o bem e o mal. A opção do cristão é sempre a escolha do bem, deitando fora tudo aquilo que considera maldade, fruto dos egoísmos.
• Lutar pela justiça é ressuscitar. O cristão não pode deixar de dar a cada um aquilo a que ele tem direito. Lutar pela vida, pela verdade, pela liberdade, pelo amor, são obras de ressurreição.
• Construir a paz é ressuscitar. O mundo de hoje está marcado pela violência, que tantas vezes provoca a destruição e a morte. As divisões, as tensões, os ódios, as guerras, são fonte de enorme sofrimento no mundo contemporâneo. Fazer ressurreição será gerar a unidade, o perdão, a reconciliação, a solidariedade, tudo formas concretas de conseguir a paz.
• Dar o perdão é também ressuscitar. O que foi a Ressurreição de Cristo senão um gigantesco acto de perdão? A morte na cruz reclamava um sinal claro de que o perdão fora concedido. Com a Ressurreição há a certeza de que todos os pecados foram perdoados. Cada homem tem de aprender também a perdoar.
• Repartir o pão é, ainda, ressuscitar. Sobretudo em tempo de incerteza, quando as austeridades se multiplicam. Saber partilhar o pão, a palavra, a atenção, o sorriso, é uma forma privilegiada de provocar o mundo novo, verdadeiramente ressuscitado.
Todos os cristãos se devem considerar coautores da Ressurreição. O seu estilo de vida na família, no trabalho, na relação social, deverá ter a marca da Ressurreição. É fundamental ser fiel à verdade, à justiça, à solidariedade, ao amor, para construir uma sociedade justa e fraterna em que todos se sintam ressuscitados, verdadeiramente felizes.
4. Desejo a todos os membros da nossa comunidade paroquial uma Páscoa cheia de alegria, capaz de levar a todos a certeza da Ressurreição de Cristo.