AS VOCAÇÕES – DOM DO AMOR DE DEUS – 29 de Abril de 2012

1. Uma das semanas da Páscoa, entre o terceiro e o quarto domingo, está consagrada à oração pelas vocações. Estes dias de reflexão e de súplica pelas vocações sacerdotais e religiosas terminam no Domingo do Bom Pastor. É claro que o Bom Pastor na Igreja é Jesus Cristo. Porém, quem representa nas comunidades cristãs a pessoa do Bom Pastor é o sacerdote que preside aos destinos da vida comunitária quer com a proclamação da Palavra, quer com a celebração da Eucaristia e quer ainda com a coordenação da caridade, isto é, no apoio aos mais pobres e aos que mais sofrem. Por tudo isto a Igreja inteira durante esta semana está a pedir a Deus “muitos e santos sacerdotes”. Todos sabem que hoje há uma grande falta de vocações sacerdotais e religiosas. Perguntar-se-á: porquê? Talvez se pudessem alinhar algumas das causas mais significativas:

• A sociedade contemporânea perdeu o sentido de Deus. Tanto na cultura, como na organização da própria comunidade, tem-se a sensação que Deus não tem lugar, foi remetido para a relação pessoal da responsabilidade de cada um mas sem projecção no viver comum.

• O culto do mais fácil marca todos os comportamentos. Quer no processo educativo, quer nas diversas actividades, o facilitismo contraria muitas vezes as normais exigências da vida. Torna-se por isso difícil a escolha de uma vida que implica muitos sacrifícios.

• A família nuclear esgota-se numa fecundidade limitada, com um ou dois filhos. Os casais têm então a sensação de perder um filho quando ele pensa realizar-se numa vocação de consagração. O resultado é este: as famílias tornam-se obstáculo às vocações.

• O projecto de muitos jovens centra-se nas ideias sedutoras do mundo actual voltado para o dinheiro, o poder e o prestígio, afirmados como valores absolutos. Uma consagração pede exactamente o contrário, o ideal da pobreza e do serviço.

• Até as catequeses de crianças e jovens sentem a dificuldade de apresentar modelos de consagração. O sacerdócio e a vida religiosa raras vezes fazem parte da formação dos grupos de cristãos mais novos. Quase se tem “medo” de falar destes sonhos de vida, eventualmente, com receio de “incomodar” as famílias.

• Os problemas da Igreja, trazidos muitas vezes para os jornais, e envolvendo as comunidades cristãs, levam muitos a não confiar suficientemente na estrutura humana com que a Igreja é governada. Também estes erros contrariam a vontade de alguns se consagrarem no serviço da Igreja.

São estas e muitas outras as razões pelas quais há muito poucas vocações sacerdotais e religiosas. É preciso forçar a acção de Deus para responder ao apelo de Jesus: “A messe é grande e os operários são poucos, pedi ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe” (Lc 10, 2).

2. Poderá perguntar-se: o que é a vocação? A resposta mais simples é dizer que se trata de uma chamada de Deus. O Papa Bento XVI, na sua mensagem para o Dia Mundial das Vocações, prefere dizer que “as vocações são um Dom do amor de Deus”. Se é um dom, é absolutamente gratuito. Se é de Deus encontra no Alto a força suficiente para a realização plena da vida. Houve por estes dias um jovem que, interrogado sobre a vocação, dizia que ela consiste em “ser chamado a olhar o mundo com amor”. Interessante esta visão de um jovem que fala do dinamismo do olhar, da importância do mundo a transformar e do amor, a única força capaz de construir felicidade. A vocação contém ideias que facilmente podem apaixonar um jovem:

• É uma chamada feita por Deus e que pede uma resposta do homem que se envolve depois numa missão salvadora. Foi assim com Pedro, com Paulo, com todos os Apóstolos, com todos os santos.

• É um Dom do amor de Deus que envolve o homem no seu próprio projecto. Sabe-se isto pela Palavra de Jesus: “ide por todo o mundo; fazei discípulos em todas as nações (…) Estarei convosco até aos fins dos tempos” (Mt 28, 19-20).

• É um olhar de amor sobre o mundo. Deus convida o homem a ver tudo de outra maneira, com os seus próprios olhos. E o olhar de Deus é um olhar de ternura, de compreensão, de perdão, de comunhão total com Ele. A vocação permite compreender que todas as coisas são do homem, mas que o homem é de Cristo, e Cristo é do Pai (cf. 1 Cor 3, 23).

• É a experiência da alegria do encontro com Deus que ama. De facto, não é possível responder à vocação sem uma plena e perfeita identificação com Cristo nesse sonho de vida por que se opta. A vocação não é uma profissão, é uma identificação com Cristo, revelação do amor do Pai.

• É, finalmente, uma leitura da vida à luz da fé, centrada na profundidade da oração, na escuta da Palavra de Deus, na inserção na vida da comunidade cristã.

Em todas estas formas de ver a vocação, compreende-se que o sacerdote é chamado a evangelizar, a celebrar a Eucaristia e a praticar a caridade fraterna, ensinando todos os outros a seguirem por este mesmo caminho.

3. É urgente que a comunidade cristã se organize para a oração pelas vocações sacerdotais e missionárias. É preciso forçar o coração de Deus. Também a nossa Paróquia tem o dever de investir nas vocações sacerdotais e religiosas. Entre nós há extraordinária generosidade: muitas crianças frequentam a catequese, centenas de jovens estão nos grupos fraternos, milhares de pessoas vêm habitualmente às celebrações dominicais, todos participam na partilha de bens, há voluntários a oferecer o seu tempo nas mais diversas actividades, a generosidade é imensa em todos os sectores. Mas, pode perguntar-se: porque não estamos a gerar vocações? É certo que alguns sacerdotes descobriram aqui a sua entrega à Igreja para serviço no mundo todo: o Padre César Chante é pároco na diocese do Algarve; o Padre Filipe tem a coordenação dos sacerdotes Verbum Dei; o Padre Valter está à frente da Paróquia de S. Pedro em Alcântara; o Padre Bernardo é formador de sacerdotes em Madrid; o Padre Gonçalo é o pároco da Sé de Leiria. Sentimos alegria pelos sacerdotes que se formaram na nossa comunidade mas, agora, as vocações entre nós estão mais difíceis. Temos de forçar o Céu:

• Para que os jovens descubram a vocação sacerdotal e religiosa como objectivo da vida para a felicidade pessoal e para o serviço a todos os outros.

• Para que as famílias, pela sua vida cristã, desafiem os filhos, sem medo, à consagração.

• Para que os grupos de iniciação e crescimento na vida cristã (catequese) apontem caminhos de entrega na “messe” que é grande e pede sempre mais trabalhadores.

• Para que o exemplo dos sacerdotes e religiosos da comunidade frutifique em novas vocações.

• Para que os grupos de acólitos e outros servidores da liturgia descubram a beleza do sacerdócio que lhes permitirá um dia celebrar a Eucaristia, centro de toda a comunidade cristã.

• Para que se tenham muitas iniciativas em que os mais novos descubram a beleza do servir a Igreja e servir também os mais carenciados.

O testemunho dos padres que têm passado pela nossa comunidade deve poder ajudar os jovens a consagrar-se numa vocação. Basta recordar o Padre Armindo e o Padre João que já nos deixaram, para compreender que o ser padre e o ser religioso é sempre um desafio de esperança e de alegria.

4. Digamos todos a mesma oração: “dai-nos muitos e santos sacerdotes, dai-nos muitos e santos religiosos”.

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