COMPROMETIDOS COM A VIDA – 13 de Maio de 2012

1. Foi João Paulo II que em 1981, após a Encíclica O Evangelho da Vida, quis instituir uma semana de estudo e de oração pelo valor e a inviolabilidade da vida humana. Definiu inclusivamente o seu objectivo: “suscitar nas consciências, nas famílias, na Igreja e na sociedade o reconhecimento do sentido e do valor da vida humana em todos os seus momentos e condições, concentrando a atenção de um modo especial na gravidade do aborto e da eutanásia, sem contudo menosprezar os outros momentos e aspectos da vida” (EV 85). A partir de 94 também em Portugal se celebra a Semana da Vida. Neste ano de 2012 a Semana da Vida, que decorre entre 13 e 20 de Maio, tem como grande tema o estarmos “comprometidos com a vida” . É certo que todos os seres humanos são votados à felicidade. A todos é devida a saúde suficiente, todos se enriquecem com a cultura, todos crescem na relação humana. Tudo isto, porém, supõe o respeito pela vida e simultaneamente pela dignidade e liberdade de cada um. No mundo contemporâneo marcado por aquilo a que João Paulo II chamou a “civilização da morte”, pelas muitas agressões à vida humana (cf. EV 4 e 10), os cristãos têm o dever de ser apóstolos da vida, de estar comprometidos com a vida. É preciso, porém, reconhecer a vida:

• Como um dom de Deus – uma dádiva de quem é o autor da vida, uma oferta a que cada um deve responder com maior generosidade sabendo que ninguém pode dispor da vida a seu belo prazer sacrificando-a no seu início ou no seu fim. A vida deve ser respeitada desde a concepção até ao seu fim natural.

• Como complexo bio-psico-social-cultural e espiritual – a vida humana não se esgota no equilíbrio físico ou psicológico. O ser humano é um ser integral em que todas as componentes são essenciais. Também a cultura, as relações e o encontro com Deus se tornam meio da construção do ser humano na sua totalidade.

• Como um direito e um dever – os direitos humanos nos artigos 3º e 25º consagram que a vida é inviolável, inalienável e indisponível. Todas as leis humanas, até a Constituição da República Portuguesa, consagram este direito e dever. Daqui resulta o respeito pela vida em qualquer circunstância.

• Como valor – que lhe dá um sentido profundo entre os valores humanos, a vida, podendo não ser valor absoluto, é, porém, o primeiro de todos os valores a partir do qual se desenvolve toda a riqueza do ser humano. O problema está em descobrir-lhe o sentido, o porquê, o para quê e como viver na fidelidade a tudo o que é essencial.

• Como desafio de qualidade – é João Paulo II que afirma ser a qualidade muito mais do que a suficiência económica, a beleza exterior ou o estatuto social. Afirma então que a qualidade implica as relações interpessoais, espirituais e sobrenaturais (cf EV 23). Esta visão permite compreender que até a saúde é muito mais do que o “bem estar bio-psico-social”. A saúde é a harmonia integral do ser humano, do respeito e promoção da vida em todos os aspectos, mesmo apesar de eventuais limites que a condicionam.

É tudo isto e muito mais a vida que de Deus se recebe através do amor dos nossos pais. É a esta vida que se tem o dever de ser fiel, agradecendo-a ao Deus Criador e Senhor.

2. O compromisso com a vida obriga a atitudes muito concretas. Não é só o estilo de vida que está em questão. É a própria relação com a vida que se torna fundante da felicidade. Quaisquer que sejam os limites que a vida tenha, com as doenças, com as deficiências, com as dificuldades económicas, com as marginalizações sociais e com tantos outros sofrimentos de que se não é responsável, a vida continua sendo sempre o primeiro valor, o ponto de partida para toda a realização humana. Estar comprometido com a vida, importa amá-la, defendê-la, promovê-la, santificá-la.

• Amar a vida – o dom da maternidade é a coisa mais bela a viver por uma mulher na expectativa do seu filho. Também o homem, pela comunhão do amor, sente que a sua vida se perpetua. Depois, o processo educativo tem tempos de alegria e tempos difíceis. Apesar das horas de incerteza a vida de alguém constitui sempre razão de profundo amor, quer para a acolher com alegria, quer para a salvar na eminência da rotura. Daí que todo o ser humano seja chamado a servir a vida com uma expressão de amor.

• Defender a vida – na sociedade contemporânea a vida humana está em risco. Antes do nascimento há quem se veja “obrigado” a recusar a vida. Na etapa final a síndrome da solidão gera muitas vezes o desejo de morrer. Neste e em muitos outros casos, a vida deve ser “salva”. Na medida em que se organizem respostas que dêem qualidade à vida daqueles que sofrem, é possível defender a vida com a verdade do amor, a fantasia da caridade, a solidariedade verdadeira.

• Promover a vida – não bastam as denúncias, nem os movimentos para evitar mortes prematuras quer no início, quer no termo da vida. É preciso ajudar cada pessoa a crescer, a descobrir o sentido da vida, a desenvolver-se, para ter uma vida humana com suficiente qualidade. Deste crescimento faz parte a valorização da inteligência, a participação no mundo do trabalho e na vida social.

• Santificar a vida – o ser humano é constantemente chamado a relacionar-se com Deus. Passa por aí a santificação da vida. No encontro pessoal com Cristo, na oração de cada dia, descobrem-se perspectivas novas de uma autêntica felicidade. Pode haver dificuldades, mas a comunhão com Cristo permite a ultrapassagem dos tempos mais difíceis. Foi Jesus quem no-lo disse nas Bem Aventuranças “Felizes mesmo que pobres e até mesmo perseguidos” (cf Mt 5, 1-12).

 Estar comprometido com a vida exige a cada cristão ser um verdadeiro “ministro da vida”, assim lhe chamou João Paulo II. Ser ministro é ser servidor, lutar pela vida até à exaustão, conseguir a mais vida dos outros até à solidariedade radical. Isto é um compromisso com a vida.

3. A Nova Evangelização exige também o culto da vida. Falar de Nova Evangelização é, no dizer de João Paulo II, descobrir novos métodos e novas expressões no anúncio do Evangelho. Em plena Semana da Vida poderá perguntar-se que atitudes diferentes a ter na actividade pastoral. Ao pensar na comunidade paroquial do Campo Grande, sugerem-se 4 propostas pastorais:

• O apoio à família para que ela se torne de verdade “um espaço social onde a vida nasce, cresce e se desenvolve até à felicidade de todos os seus membros” (CfL 40).

• A atenção à vida dos outros para que em todas as situações se respeite e se promova a dignidade e liberdade de cada um.

A solidariedade para com os mais pobres para poder restituir-lhes a dignidade perdida; de maneira especial urge ter atenção aos mais velhos, sobretudo se isolados nas suas casas e sem possibilidade de se relacionar com outros.

• O aprofundamento da fé, já que a vida humana supõe também uma constante relação com Deus, Criador e Senhor das nossas vidas; a oração e a celebração eucarística fazem o ser humano crescer celebrando a alegria de ser filho de Deus.

A Semana da Vida traz desafios incalculáveis. A criatividade pastoral permite inovar a fidelidade ao Evangelho, exige compreender até ao fim o apelo do Senhor “que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

4. A todos os organismos da Paróquia se pede que se seja servidor da vida.

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