1. Quando Paulo chegou a Éfeso pela primeira vez, encontrou na comunidade judaica um grupo já aberto ao anúncio do Evangelho. Perguntou-lhes se tinham recebido o Espírito Santo, ao que eles responderam nunca ter sequer ouvido falar dele. Foi, então, que Paulo lhes falou do Espírito de Deus, lhes impôs as mãos e os baptizou (cf. Act 19, 1-7). Algo se passa com os cristãos do tempo presente que, muitas vezes, nem sequer ouviram falar do Espírito. Todos, porém, fomos baptizados na água e no Espírito, e o amor foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Mas quem é afinal o Espírito Santo? Numa síntese teológica pode dizer-se simplesmente que é a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Se o Filho de Deus procede do Pai, do amor entre o Pai e o Filho procede o Espírito Santo. É este amor que nos torna de verdade filhos de Deus. De facto, só os que se deixam conduzir pelo Espírito são de verdade filhos de Deus (Rm 8, 14). O Espírito Santo foi-nos prometido por Jesus que no-l’O entregou no dia da Ressurreição. Depois, manifesta-se na manhã de Pentecostes e acompanha e anima a vida de toda a Igreja e de cada cristão.
• O Espírito Santo foi prometido aos discípulos: “o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará toda a verdade e vos recordará tudo aquilo que eu vos disse” (Jo 14, 24-26). Segundo esta promessa o Espírito Santo estará sempre com os discípulos para os encaminhar no anúncio da Boa Nova.
• O Espírito Santo foi dado aos Apóstolos: na tarde do dia da Ressurreição, Jesus soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados , ficarão perdoados” (Jo 21, 22-23). A entrega do Espírito Santo coincide com a Ressurreição de Cristo. Vai ser o Espírito Santo a animar, a partir daí, a vida dos Apóstolos.
• O Espírito Santo manifesta-se no dia do Pentecostes: a cidade de Jerusalém foi acordada com o sopro do vento. Sobre os Apóstolos surgiram línguas de fogo. Três mil homens aproximaram-se do Cenáculo e, Pedro, movido pelo Espírito, anunciou Cristo Ressuscitado. (Cf. Act 2, 41) Converteram-se a Cristo Ressuscitado todos os que escutaram a mensagem de Pedro. A partir de então, pela força do Espírito, a Boa Nova é ensinada aos povos.
• O Espírito Santo é dado aos cristãos: em cada Baptismo o adulto ou a criança recebem o Espírito. No sacramento do Crisma recebem a plenitude do Espírito. É o Espírito Santo que conduzirá a vida da Igreja, sobretudo nos sucessores dos Apóstolos e nos dons concedidos ao sacerdócio.
Durante um tempo a catequese centrava-se em Deus Pai, Criador e Senhor. Mais tarde a Igreja abriu-se ao anúncio de Jesus Cristo, Filho de Deus, Redentor e Salvador. Só recentemente na Igreja se compreendeu a importância do Espírito Santo para ensinar toda a verdade, e levar à recordação de tudo o que Jesus disse e que eventualmente se tenha esquecido. Com razão, Paulo, na Carta aos Romanos, veio dizer que “só os que se deixam conduzir pelo Espírito, só esses são verdadeiros filhos de Deus”.
2. O Espírito vem à Igreja e a cada cristão com os seus sete dons. Já Isaías falava do dom da sabedoria, do dom do entendimento, do dom da ciência, do dom do conselho, do dom da fortaleza, do dom da piedade e do dom do temor de Deus (cf Is 11, 1-2). Estes dons, concedidos ao “rebento novo”, figura do Messias, são por Jesus oferecidos a todos os cristãos. De facto, o ser humano é um ser espiritual, dotado de inteligência, de vontade, de sensibilidade, precisa de ser enriquecido nessas suas originais qualidades. Daí os dons do Espírito Santo que o iluminam, o fortalecem e o movem.
• Com o Espírito Santo a inteligência é enriquecida com três dons: pela sabedoria, aproximamo-nos do mistério de Deus; pelo entendimento, compreendemos melhor os desafios que de Deus nos vêm; pela ciência, vemos toda a história humana com uns olhos diferentes, a visão de Deus.
• Com o Espírito Santo a vontade recebe novos estímulos: pela fortaleza, conseguem superar-se as maiores dificuldades que o cristão pode encontrar pelo caminho; pelo conselho, consegue-se o discernimento suficiente para escolhas que dão um sentido novo a toda a vida.
• Com o Espírito Santo a sensibilidade adquire o equilíbrio indispensável para bem se relacionar com Deus: pela piedade, descobre-se o amor que põe o crente em comunhão com Deus; pelo temor, aceita-se o fascínio da inquietação por não se amar Deus o suficiente.
Viver ao ritmo destes 7 dons, dá ao cristão a intensidade espiritual de que ele precisa para entrar no projecto de Deus e lhe ser fiel em todos os momentos da vida. “Vem Espírito Santo, enche o coração dos teus fiéis, e acende neles a chama do teu amor”.
3. Dar fruto em abundância é pedido insistente de Jesus: “Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi, para que deis fruto e esse fruto permaneça” (Jo 15, 16). Mas é o Espírito do amor que gera o dar fruto. Isto mesmo, Paulo afirma na sua Carta aos Gálatas, ao enumerar os frutos do Espírito Santo: “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio de si mesmo” (Gl 5, 22). Com esta expressão é oferecido ao cristão um código de liberdade. Não a liberdade dos instintos, mas a liberdade dos filhos de Deus.
• O amor, fruto do Espírito, permite a plena relação com Deus e com os irmãos, sem reservas, com entrega total.
• A alegria, fruto do Espírito, convida a uma harmonia interior em todas as situações, porque a confiança em Deus supera todas as dificuldades.
• A paz, fruto do Espírito, chama à reconciliação que só o perdão generoso consegue levar a cabo. Perdoar em qualquer situação dá uma paz imensa na relação com todos.
• A paciência, fruto do Espírito, pede uma enorme capacidade de compreensão de todos os outros, sejam quem forem e uma serenidade completa nas adversidades mais inesperadas.
• A bondade, a mansidão e a benignidade, frutos do Espírito, criam relações humanas verdadeiramente cristãs, em que a tolerância, a solidariedade e a simplicidade são palavras de ordem para a construção de uma sociedade nova.
• O domínio de si próprio, fruto do Espírito, sendo o exercício mais difícil, é caminho de fidelidade para viver até às últimas consequências o sonho de Deus na vida de cada um.
Os frutos do Espírito são uma recompensa a todos aqueles que souberam identificar-se plenamente com a vontade de Deus no seu caminho humano.
4. Na nossa comunidade paroquial celebramos o Dia de Pentecostes. Neste ano a celebração do Sacramento da Confirmação será mais tarde, a 8 de Junho. Apesar disso, é neste dia do Espírito Santo que cada um deve reflectir sobre a influência do Espírito nas suas vidas. “Vinde ó Santo Espírito/ vinde, Amor ardente/ acendei na terra/ vossa luz fulgente…Vossos sete dons/ concedei à alma/ do que em vós confia:/ virtude na vida/ amparo na morte/ no Céu alegria.”
P. Vítor Feytor Pinto Prior