1. Nos primeiros dias do Tempo Comum, a Igreja convida os cristãos a participarem em três liturgias que se centram nos mistérios mais importantes da vida da Igreja. São três dias de festa consagrados à Santíssima Trindade, primeiro domingo do Tempo Comum, ao Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (na quinta feira seguinte) e ao Sagrado Coração de Jesus (na sexta-feira da outra semana). A Igreja convida os cristãos a reverem a sua fé num Deus Uno e Trino, a assumiram a riqueza da Eucaristia, como compromisso da vida cristã e a celebrarem o amor inexcedível de Jesus Cristo na sua Paixão. Estes mistérios foram vividos intensamente na Semana Santa. Porém, na proximidade da celebração da Paixão e Morte de Jesus não era tempo de explosão de alegria. Por isso, logo depois de Pentecostes, foram propostas estas três festas para os cristãos se alegrarem na fé, no amor eucarístico e na loucura de Jesus ao dar a vida a vida pela redenção da humanidade.
2. O Mistério da Santíssima Trindade
Foi em Abraão que Deus se revelou Trindade. Junto ao carvalho de Mambré apareceram-lhe três jovens que quiseram fazer uma Aliança com Abraão. Seria o primeiro de um Povo mais numeroso do que todas as estrelas do céu. Um ano mais tarde ele e Sara iriam ter um filho (cf Gn 17, 6), o grande sinal da Aliança que Deus com ele firmava. Deus Uno e Trino confirmou a Aliança, Isaac, nascido da promessa, continuaria a missão de Abraão. Depois, Jacob seria o líder do Povo de Israel, detentor da fé nesse Deus Uno e Trino que se revelara a Abraão. Várias religiões se referem a Abraão (judeus, cristãos e muçulmanos), mas só os cristãos assumiram a certeza de um Deus Uno e Trino. O mistério da Trindade.
• Durante séculos nas catequeses se disse que o Pai é Criador, o Filho é Redentor e o Espírito Santo é santificador. Não é, porém, assim. É a Trindade na sua plenitude, Pai, Filho e Espírito Santo que realiza a criação, a redenção e a santificação.
. A Criação operada por Deus Pai é também realizada pelo Filho. N’Ele todas as coisas foram criadas (Jo 1, 3). Também desde o início o Espírito colabora na criação “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1, 2).
• A Redenção é realizada pela Trindade Santíssima desde a promessa dos profetas até ao envio do mensageiro, Gabriel, a Maria. A Redenção parte da vontade do Pai: “Deus amou de tal forma o mundo que lhe deu o seu próprio Filho” (Jo 13, 16). Também o Espírito esteve presente neste projecto Redentor de Deus: “o Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra” (Lc 1, 35). O Mistério da Redenção é depois operado por Cristo na sua Paixão, Morte e Ressurreição.
• A Santificação é operada também pela Trindade. Jesus com uma clareza extraordinária afirma “se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos, e eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito, para que esteja convosco o Espírito da Verdade” (Jo 14, 15-16). A santificação do homem é assim realizada pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. “Se alguém me tem amor, meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele morada” (jo 14, 23).
O Mistério da Trindade revela que o Filho de Deus procede do Pai e que o Espírito Santo vem do amor permanente entre o Pai e o Filho. São estas processões de que se fala na teologia que geram a comunhão à qual também os homens são associados como filhos de Deus.
3. O Mistério do Corpo e Sangue de Cristo.
A Eucaristia está no centro da vida do cristão e no centro da vida da Igreja. É para ela que se caminha, é dela que se vem para poder transformar o mundo. Numa síntese notável o Concílio Vaticano II define Eucaristia com 5 afirmações que definem a sua importância. Sabemos que foi Jesus que prometeu dar-nos o pão do céu, compreendemos que Jesus na Última Ceia tenha repartido o pão com os discípulos dizendo, isto é o meu Corpo, também aceitamos o desafio de Jesus feito à Igreja nascente ao dizer-lhe “fazei isto em memória de mim”. Como é que então a Sacrosanctum Concilium, do Vaticano II define a Eucaristia?
• É sinal de unidade. Este o elemento essencial para a celebração, que todos queiram estar unidos em Igreja, superando todas as divisões e concretizando a súplica de Jesus: “que todos sejam um, como Eu e Tu ó Pai somos um; por isto o mundo acreditará que Tu me enviaste” (Jo 17, 21-22).
• É vínculo de amor. O amor que se tem a Deus e se tem aos irmãos nunca é completo, pode sempre aperfeiçoar-se mais. Se nasce na justiça e se frutifica no perdão, a Eucaristia é fonte de unidade indispensável para viver em Igreja. Então, ela faz os cristãos viverem no amor.
• É sacramento de piedade. A nossa relação com Deus deve crescer constantemente. A piedade consagra a experiência vital de Deus e é nesse sentido que a Eucaristia realiza uma comunhão mais profunda com o Senhor em que se acredita e que dá sentido às nossas vidas.
• É banquete de alegria pascal. Esta definição consagra a Eucaristia como alimento que frutifica, mas também como festa que realiza a alegria de todos os crentes, que se dizem cristãos de verdade.
• É memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Quem participa na Eucaristia entra definitivamente num hino de acção de graças, pelo dom de Cristo que lhe foi feito pelo Pai para que participasse na Redenção. Compreende-se que Jesus tenha dito “Fazei isto todos os dias em minha memória” (Lc 22, 19).
Esta visão da Eucaristia leva facilmente a compreender que é nela que está centrada a nossa vida de cristãos e que a ela se refere toda a vida da Igreja. Celebrada a Eucaristia, o cristão tem que levá-la para a vida, para assim transformar o mundo.
4. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus
Várias vezes, nas suas encíclicas, os Papas recomendaram esta devoção. Pio XII escreve mesmo a Encíclica Haurietis Aquas, sobre o culto do Sagrado Coração de Jesus. Margarida Maria Alacoque tivera visões extraordinárias de Jesus com o coração trespassado pela lança. A Igreja aceitou este desafio de amor. Para compreendê-lo, na próxima Folha Informativa tentaremos descobrir o sentido da Festa e a riqueza do Apostolado de Oração nas nossas comunidades cristãs.
O meu voto é que a nossa Paróquia viva estas festas e integre nelas também a celebração do Santo Crisma que vai ter lugar a 8 de Junho. Será óptimo que nestes grandes acontecimentos estejam a maioria dos cristãos da Paróquia.
P. Vítor Feytor Pinto Prior