RECOMEÇAR – 16 de Setembro de 2012

1. Depois de umas férias que foram úteis para todos, uma vez que se descansou um pouco, a Comunidade Paroquial do Campo Grande vai retomar as suas actividades. Cada um traz consigo tudo o que viveu ao longo de dois meses. Nos olhos a vastidão do mar, no corpo o calor do sol, no coração os tempos de intimidade na relação com Deus e, também, a experiência colhida no convívio com muitos amigos, no passeio pelos campos, nos serões cheios de alegria, na festa que todas as férias oferecem. Agora, retomam-se as actividades pastorais da Paróquia, certamente com o entusiasmo que é a marca dos cristãos. É certo que há dificuldades provocadas pela situação difícil que se vive, mas este facto constitui mesmo um desafio para recriar a acção pastoral que se vai desenvolver. As áreas de trabalho que são propostas a qualquer comunidade cristã são 3: a profecia, a liturgia e a acção de caridade.

• A profecia vive-se no contacto permanente com a Palavra de Deus. Os cristãos têm que crescer na fé, devem conhecer sempre melhor a pessoa de Jesus Cristo, são convidados a assumir os valores cristãos em todas as situações de vida. Tudo isto só é possível no confronto constante com a Palavra de Deus. É o Evangelho que dita todas as atitudes do cristão. O Evangelho permite renovar constantemente a fé, acompanhada do testemunho cristão em todas as circunstâncias.

• A liturgia é “o exercício da função sacerdotal de Cristo” (SC 7). Através da oração e dos sacramentos, o cristão identifica-se cada vez melhor com a pessoa de Jesus Cristo. É essencial o encontro e a relação pessoal com o Senhor Jesus. Este encontro realiza-se plenamente na oração enquanto experiência vital de Deus. A liturgia pede também a celebração na comunidade cristã. A forma mais perfeita de viver este encontro da comunidade com Jesus é a celebração da Eucaristia, memorial da Sua Paixão, Morte e Ressurreição.

• A caridade é a expressão concreta da adesão incondicional à pessoa de Jesus. Se a fé sem obras é morta, os cristãos têm o dever das obras repassadas de amor ao serviço dos irmãos, sobretudo dos mais pobres. A caridade em iniciativas individuais e, sobretudo, no serviço organizado junto dos mais frágeis e que mais precisam, constitui elemento chave de toda a acção da comunidade cristã. Todos os gestos de partilha são afirmação de amor.

É nestes três campos de acção que se realiza o trabalho pastoral da nossa comunidade. Cada um de nós, além do trabalho pessoal realizado na busca da própria perfeição, tem que ir um pouco mais longe, descobrindo o campo onde pode intervir para ser Apóstolo. Com Jesus andavam três tipos de pessoas: os Apóstolos, os discípulos, a multidão. Na nossa comunidade paroquial o que é que cada um de nós quer ser? Apóstolo, com tarefas específicas, discípulo com participação nos grupos de aprofundamento da fé ou simplesmente multidão que gosta muito de estar, mas não se dispõe para acções concretas?

2. No grande aniversário do Concílio, celebram-se 50 anos da sua abertura. Bento XVI quis chamar ao ano que agora começa, Ano da Fé. Ofereceu-nos uma Carta Apostólica maravilhosa a que deu o título “A Porta da Fé”. Este documento de Bento XVI tem duas partes. A primeira, para reflectir sobre a fé, enquanto adesão à pessoa de Jesus Cristo. A segunda, para convidar os cristãos a testemunharem a sua fé sobretudo com obras de caridade. Também na nossa comunidade sentimos a necessidade de aproveitar o Ano da Fé para três linhas de acção: repensar a fé, viver a fé, anunciar a fé.

• O repensar a fé implica o aprofundamento da relação pessoal com Cristo. A fé é mais que sentimento, é muito mais do que um conjunto de ritos, mais ainda do que simples súplica a Deus nas aflições. A fé verdadeira é confiança, é conhecimento e é sobretudo compromisso. Não será cada um de nós chamado a aprofundar este ano a sua fé?

• O viver da fé convida a uma adesão incondicional a tudo aquilo que o Senhor tem direito de pedir. É o invadir da vida em todas as circunstâncias com os valores do Evangelho. Na vida familiar, na vida profissional, na cultura, ou na acção social, a fé exige uma referência constante aos valores do Evangelho. É preciso superar definitivamente o divórcio entre a fé e a vida, na vida de muitos cristãos (cf LG 31 e GS 10).

• O anunciar da fé constitui um apelo a ser Apóstolo. Pelo testemunho de vida e pela proclamação das verdades do Evangelho, os cristãos tornam-se Apóstolos, não tendo medo de se afirmar como tal e ajudando outros a aproximarem-se também da pessoa de Jesus. O mundo de hoje, que voltou as costas a Cristo e quase despreza a Igreja, precisa de cristãos Apóstolos que acolham e compreendam todos os homens e sejam solidários com os mais pobres e com os que mais sofrem (EN 21).

Atrevíamo-nos a pedir a todos os membros da nossa comunidade que lessem a Carta Apostólica, “A porta da Fé”, assumindo conscientemente que a porta da fé é Cristo e que é através d’Ele que se descobre um sentido novo para a vida.

3. Um convite à participação é o que a comunidade faz a todos os que nos procuram. A sociedade actual é uma sociedade de consumo e poucos produzem o necessário para o bem-estar de todos. Muitas vezes é assim também a vida dos cristãos. Consomem-se celebrações, súplicas, sufrágios, pedidos na aflição. Poucas vezes se tem uma presença continuada na vida da Igreja, participando nela na medida das possibilidades de cada um.

• Na profecia alguns podem optar por ser catequistas, leitores, explicadores de crianças com dificuldades, animadores de grupos de jovens ou adultos. Enquanto se ajudam os outros, cada um de nós aprofunda a sua fé e aprende melhor a ser cristão.

• Na liturgia cada um frequenta a Eucaristia de que mais gosta. Ali, porém, pode participar mais activamente como Ministro Extraordinário da Comunhão, ou como leitor oficial, mas pode também exercer tarefas mais simples, como cantor, ou pessoa que recolhe os dons no Ofertório. Na Liturgia dominical deveria privilegiar-se a entrada no templo ou a saída, enchendo o adro da igreja a conversar com os amigos que celebram a mesma fé.

• Na caridade são inúmeras as actividades a realizar. Através do voluntariado organizado podem servir-se refeições ao domicílio, acompanhar-se doentes às consultas e às urgências, fazer-se companhia às pessoas que estão mais sozinhas, prestar-se pequenos serviços que o Centro de Dia pede. Tudo isto são expressões de amor a que cada um não pode ser alheio. A caridade não consiste em dar “moedinhas aos pobrezinhos”; a caridade exige fazer-se próximo do outro e tentar resolver o seu problema. A isto chama-se amor.

Será que cada um dos cristãos que frequenta a nossa comunidade paroquial é capaz de descobrir onde pode tornar-se útil para o crescimento da Paróquia neste Ano da Fé?

4. Com muita amizade os que trabalhamos na coordenação de toda a nossa vida paroquial queremos saudar os que, regressados de férias, retomam a frequência habitual da nossa comunidade.

P. Vítor Feytor Pinto
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