1. No Ano da Fé as comunidades cristãs são convidadas a dar prioridade à profecia. Como diz Bento XVI, não basta dizer “Eu creio”, é-se obrigado a dizer com os outros “Nós cremos”, porque a fé não é apenas pessoal, a fé é sempre comunitária. Faz parte de toda a acção pastoral deste ano aprofundar a fé, isto é, “a adesão incondicional à Pessoa de Jesus Cristo”, mas também, proclamar a fé, levando outros a reconhecer nos cristãos, homens e mulheres em que a fé tem obras. Não é possível, porém, conhecer e viver Jesus Cristo sem o recurso à Palavra de Deus. É pela Palavra que se reconhece a Pessoa de Jesus Cristo e se compreendem os desafios que Jesus Cristo nos faz. Porquê esta relação com a Palavra?
• Na Palavra reconhece-se que Jesus elogia a fé daqueles que a Ele aderem, mesmo que tenham estado longe. A fé do centurião, da cananeia, do cego de nascença, é reveladora do entusiasmo daqueles que um dia reconheceram Jesus e a Ele aderiram incondicionalmente. Jesus não faz qualquer milagre sem referir expressamente “porque acreditaste”. A fé de todos estes era bem mais do que confiança, tornou-se compromisso de vida.
• Na Palavra verifica-se que os Apóstolos não têm outro objectivo senão anunciar Cristo e Cristo Ressuscitado. Quantos os escutavam aderiam à comunidade. Quantos liam as suas cartas aceitavam mudar a vida. Assim, as primeiras comunidades cristãs viviam uma fé que se tornava sinal no meio do mundo.
• Na Palavra a Igreja revela-se densamente profética. Todo o anúncio da Boa Nova que Jesus Cristo tinha proclamado pela sua vida foi repetido à exaustão pela Igreja Primitiva nas primeiras comunidades. Através dos séculos a Igreja assumiu, depois, a importância da denúncia, quando necessário, e a força da proposta de valores para um mundo melhor.
• Na Palavra, recebida através da Carta aos Hebreus (cf. Heb 11 e 12), os cristãos de todos os tempos podem reconhecer a importância da fé nas suas vidas. Já os crentes, no Antigo Testamento, tinham conhecido Deus e a Ele aderido. Mas os cristãos vão mais longe porque descobrem o sentido da vida em Cristo Ressuscitado.
Ano da Fé é oferecido por Bento XVI à Igreja como desafio para cada um aprofundar a sua própria fé. Para além disso cada comunidade tem de revelar-se eminentemente profética, para que a Pessoa de Jesus Cristo seja anunciada a todos os povos como única fonte de salvação.
2. Como é possível crescer na fé? Um dia João Paulo II, na Carta Apostólica sobre a Catequese (cf CT 43, 44), afirmou que a grande maioria dos cristãos adultos não passava de catecúmenos. De facto, há imensos cristãos cuja cultura, na linha da fé, não ultrapassa a “4ª classe”, uma vez que estiveram na catequese pouco mais do que até à Primeira Comunhão. Não magoa ninguém dizer que mesmo entre os cristãos há uma ignorância religiosa impressionante. Também por isso, a proposta de Bento XVI para o Ano da Fé convida a que cada um descubra a melhor forma de conhecer a Pessoa de Jesus Cristo e a Ele aderir sem condições. Para crescer na fé há vários caminhos:
• A reflexão pessoal é indispensável com um bom orientador, com a leitura de um livro de referência, com alguns tempos de silêncio, pode cada um descobrir o melhor contacto com a Palavra de Deus, única fonte de conhecimento do mistério de Jesus. Os Evangelhos e as Cartas dos Apóstolos, estudados com uma orientação segura, permitem melhor conhecimento da Pessoa de Jesus. Depois, é mais fácil um compromisso cristão.
• A Eucaristia Dominical constitui uma oportunidade única para a escuta da Palavra de Deus e a sua interpretação para a gente do tempo actual. A Palavra de Deus não envelhece e o comentário na homilia é iluminador para um seguimento mais profundo de Cristo e da exigência que d’Ele emana para a intervenção no mundo contemporâneo. A Palavra na Eucaristia Dominical é “lição continuada”, elemento essencial para o crescimento na fé.
• A Catequese não é aprendizagem de doutrinas é “iniciação à vida cristã” (cf. CT 21). As crianças, os adolescentes, os jovens e mesmo os adultos têm na catequese a oportunidade única de conhecer Jesus, de forma sistemática. É daqui que se parte para os comportamentos cristãos no quotidiano. A catequese não dá teorias, convida à relação com uma Pessoa, a quem se entrega a vida para O seguir sem condições.
• Os grupos de estudo são caminho de aprofundamento da fé para os adultos. Comentando o autor, preparando um sacramento, enfrentando uma dificuldade, debatendo uma situação, reúnem-se alguns cristãos que vão confrontando a sua vida com a Palavra de Deus. A descoberta de novos caminhos é a melhor forma do aprofundamento da fé para a prática quotidiana na família, no trabalho, nas diversas situações da vida.
• As conferências bíblicas são de uma urgência extraordinária porque muita da cultura religiosa assenta mais nas pequenas devoções do que na Palavra de Deus. O Concílio Vaticano II exigiu à Igreja a referência constante à Palavra. Por isso, conhecer a Palavra de Deus é essencial para o aprofundamento da fé.
• O estudo do evangelista do ano é também muito importante porque, cada domingo uma página do Evangelho ilumina com toda a clareza a vida dos cristãos. Se a consagração na Eucaristia Dominical é indiscutivelmente o mais importante, o conhecimento da Palavra é forma essencial para o compromisso de vida. Daí a urgência de conhecer o Evangelho do ano.
São estas e muitas outras as formas de aprofundar a fé, enquanto conhecimento de Jesus Cristo que leva ao compromisso cristão em todas as situações e em todos os momentos. Será cada um de nós, membro desta comunidade, capaz de escolher a melhor maneira de aprofundar a sua adesão a Jesus neste Ano da Fé?
3. A Fé deve ser proclamada. Já Paulo dizia “ai de mim se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16). Quer cada cristão, quer as comunidades cristãs, uns e outras têm o dever de evangelizar. Como?
• Pelo testemunho cristão, acolhendo e compreendendo a todos, sendo solidário com os mais pobres, vivendo em comunhão com todos os cidadãos (cf. EN 21).
• Pela atitude dos pais e das famílias na educação das crianças, dos adolescentes e dos jovens, já que os pais são os primeiros catequistas, de quem depende a fé da família inteira.
• Pela missão dos educadores cristãos que não podem limitar-se a apoiar os seus alunos na área das ciências. No exemplo e na palavra oportuna podem ajudar os alunos a descobrirem a aventura de Jesus Cristo, como padrão apaixonante de vida.
• Pelas obras, sobretudo em gestos de acolhimento e de partilha, como sinal da fé vivida. Já S. Tiago dizia “mostra-me a tua fé sem obras, que eu prefiro mostrar-te as obras para conheceres a minha fé”.
• Pela acção na comunidade, uma vez que todos os cristãos devem descobrir a melhor forma de participar na vida da sua comunidade, porque esta acção faz crescer na fé e testemunha a fé.
Como é importante agradecer a Bento XVI a sua Carta Apostólica a Porta da Fé! Sobretudo os números 14 e 15 que sugerem o exercício da caridade e entrega total aos irmãos como expressão máxima da fé.
4. O Ano da Fé não pode aparecer para a Comunidade Paroquial do Campo Grande como um slogan inútil. No centro do nosso Programa Pastoral está uma oportunidade única para cada um valorizar a sua fé e para levar a todos a Pessoa de Jesus Cristo, “escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (1 Cor 1, 23).