UMA COMUNIDADE ORANTE – 30 de Setembro de 2012

1. Para o aprofundamento da fé, é essencial a oração. E o que é a oração? É o encontro com Deus, é o diálogo com Deus, é a experiência vital de Deus. O encontro cria a relação pessoal, o diálogo permite abrir o coração, a experiência de vida gera a comunhão total. No Ano da Fé, Bento XVI recomenda intensamente a oração porque ela alicerça uma fé consciente, livre, responsável e comprometida. Há quatro dimensões na oração:

• A oração pessoal – quem acredita na Pessoa de Jesus Cristo e O ama ao ponto de consagrar-lhe a vida, como cristão, não pode deixar de recolher-se, com frequência, a conversar com Ele. Pode chamar-se a esse tempo, meditação, contemplação, acção de graças, mas este encontro é sempre oração pessoal. Um cristão deverá reservar diariamente ao menos um quarto de hora para, no silêncio, dialogar com Deus.

• A oração comunitária – quando há um grupo de cristãos que, por qualquer razão, têm uma relação próxima, é muito importante consagrarem um certo tempo para lerem a Palavra de Deus e a interpretarem entre si. Pode ser em família, na oração conjugal ou familiar. Pode ser num grupo de trabalho para preparar a acção em que se está envolvido. Pode ser numa equipa pastoral antes de iniciar a reunião que vai programar ou avaliar acções. A isto chama-se oração comunitária. Lêem-se alguns versículos do Novo Testamento e cada um revela aos outros o impacto espiritual que em si provocaram. Finalmente, retiram-se lições de vida, para a vida comunitária em que todos estão inseridos. É uma oração partilhada de incalculável valor.

• A oração na comunidade – as assembleias litúrgicas permitem envolver a comunidade inteira na oração. Não é apenas no tempo da Eucaristia, embora esta seja a expressão máxima da oração em comunidade, por ser sinal de unidade, vínculo de amor, banquete de alegria e memorial da ressurreição de Cristo. A comunidade tem, porém, outras orações que a todos envolvem: as exposições do Santíssimo, as reconciliações, as vigílias, a reza do rosário, as festas dos santos padroeiros, tudo isto são orações da comunidade. O tempo mais forte, porém, da celebração litúrgica em comunidade, é o Tríduo Pascal.

• A oração na vida – o quotidiano do cristão está impregnado da presença de Deus. Seja no trabalho ou em tempos de repouso, seja no autocarro ou no metropolitano, seja no início da manhã ou no cair da tarde, elevar o pensamento a Deus que nos ama, dizer uma pequenina oração de memória, ou até ler de fugida um versículo da Palavra de Deus, são formas expressivas da relação que com Deus se tem e que marca a vida de cada cristão.

Neste Ano da Fé, valorizar a oração é um convite feito a cada crente para que consciente do amor que Deus lhe tem, saiba cada um, retribuir com generosidade o amor que de Deus recebe.

2. A oração contém as mesmas etapas que Santo Agostinho atribuía à fé. É fácil a oração confiança, uma vez que na debilidade do ser humano, o recurso a Deus é sempre salvador. É mais difícil a oração conhecimento. De facto, como é que pode amar-se o que não se conhece? Toda a oração supõe um aprofundamento da relação com Deus a quem se ama. Se é certo que Deus nos conhece, desde antes do nascimento, é certo também que o cristão está muito longe de conhecer suficientemente a Deus que o ama. O mais exigente, porém, é a oração compromisso. Depois do diálogo com Deus, cada um descobre o que lhe é pedido e, em todas as situações, deve ser fiel. Esta terceira forma de oração projecta-se na vida de família, na relação de trabalho, no empenhamento social e político, em todas as situações da vida. uma oração com estas dimensões reclama a escuta da Palavra porque só nela se encontra o que Deus tem direito de pedir. É por isso que a Dei Verbum, do Vaticano II, diz que “a Deus falamos quando rezamos, e a Deus escutamos quando lemos a sua Palavra”. É com estas três dimensões, confiança, conhecimento e compromisso que a Carta Apostólica, “A Porta da Fé”, nos convida a reler o Credo, fazendo dele oração constante.

• “Eu creio” é a fé da Igreja professada por cada crente, principalmente por ocasião do Baptismo.

• “Nós cremos” é a fé da Igreja confessada pelos Bispos reunidos em Concílio, ou, de modo mais geral pela assembleia litúrgica dos crentes.

• Para que todos acreditem: uma vez que “Eu creio” é também a Igreja nossa Mãe que responde a Deus pela sua fé e nos ensina a dizer: “Eu creio, nós cremos”.

• Uma fé purificada para que os cristãos não sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé, considerando esta, apenas, como pressuposto óbvio da sua vida.

A oração do cristão, como a oração da comunidade, tem que assumir o Credo como a grande síntese da sua fé, devendo por isso ser convertida em vida, na relação com Deus, por Cristo, na relação com todos os homens na força do Espírito.

3. A oração comprometida não pode ficar-se numa contemplação espiritualista. Já S. Tiago dizia “a fé sem obras é morta” (Tg 2, 17) acrescentando logo depois, “se tu me dizes que tens fé sem obras, eu prefiro mostrar-te as obras para que conheças a minha fé (Tg 2, 18). Nesta perspectiva, toda a oração move a Igreja para responder aos grandes problemas do mundo. Das páginas mais bonitas da Carta Apostólica, Bento XVI afirma que o Ano da Fé será uma ocasião propícia para intensificar o testemunho da caridade. O Papa acrescenta mesmo que a fé sem caridade não dá fruto e a caridade sem fé seria um sentimento sempre à mercê da dúvida. Dentro desta perspectiva a oração tem que estar encharcada de caridade.

• A oração abre a porta do coração para ver os mais pobres, os que mais sofrem, os que estão sozinhos, os que precisam de uma palavra e um gesto de esperança.

• A oração convida à partilha uma vez que levar a Boa Nova implica não ter duas túnicas, ter só um par de sandálias, não levar bolsa, nem bordão, estar apenas preocupado para oferecer a paz (cf. Lc 10).

• A oração convida ao discernimento para as escolhas necessárias quando se dá e quando se recebe. A oração pacifica os mais pobres e inquieta os que podem dar-se. Quem faz oração cria exigências no exercício da caridade.

• A oração solidariza o cristão com todos aqueles que com angústia procuram a verdade e o bem. A oração permite que cada cristão, conduzido pelo Espírito, tenha a palavra e o gesto que se impõe para provocar à sua volta ressurreições.

Pela fé, enriquecida na oração, cada um reconhece o Senhor Jesus vivo e presente, na nossa vida, na vida dos outros e na história. Torna-se necessariamente construtor do mundo novo, um mundo de justiça e paz.

4. A comunidade cristã do Campo Grande quer estar fortemente envolvida no dinamismo deste Ano da Fé. Que cada um se valorize na sua oração pessoal e comunitária. Que toda a comunidade se enriqueça na liturgia de cada domingo, e nas muitas celebrações de cada dia. A nossa comunidade quer ser uma comunidade orante.

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