1. Todos os anos, em Outubro, a Igreja consagra uma semana ao problema da educação. Compreende-se, porque acabam de abrir as escolas, as famílias querem orientar bem os seus filhos, e a Igreja não pode estar alheia ao crescimento integral que todo o processo educativo contempla. Uma comunidade cristã tem o dever de ser sensível ao processo de educação essencial para que cada pessoa se valorize sempre mais. As pessoas a educar, não são só as crianças, os adolescentes e os jovens. A educação visa todas as pessoas, qualquer que seja a sua idade, a sua cultura, o seu estado social, a sua formação. Poderá perguntar-se em que é que consiste a educação? Respondo com as palavras do Cardeal Saraiva Martins: “educar é formar integralmente a pessoa humana através da assimilação sistemática e crítica da cultura” (EC 26). De facto, toda a pessoa humana está em crescimento, todos precisam de se valorizar, de se integrar melhor no tecido social, de corresponder melhor nas actividades que desenvolvem, na realização pessoal indispensável para se ser feliz. Isto supõe a formação integral: física, psicológica, cognitiva, cultural, social, espiritual e mesmo religiosa. Não há ninguém que já esteja integralmente formado em todos estes aspectos. Precisa-se sempre de conhecer mais para se ser melhor. Vive-se porém, numa sociedade que perdeu valores, onde muita gente desistiu de aprender, considera-se ter feito todas as experiências, não precisar do apoio de ninguém, fechando-se numa mediania sem horizontes. É por isso que a comunidade cristã é responsável pela educação de todos. É tarefa da comunidade:
• Educar para a cidadania – não bastará conhecer os Direitos Humanos. É necessário pô-los em prática em cada dia. O respeito incondicional pela dignidade do outro, seja quem for, a capacidade de ajuda a quem mais precisa, a competência na tarefa que a cada um é confiada, a corresponsabilidade de um trabalho em comum, tudo são deveres de uma cidadania vivida na sociedade.
• A educação para valores – muitos cresceram na preocupação do ter, do poder e do prazer. É tempo de voltar-se para o respeito e a promoção da vida, o culto incondicional da verdade, o uso responsável da liberdade, a prática equilibrada do amor fraterno, a construção exigente da justiça e da paz. Tudo isto são valores que se perderam no egocentrismo de muitos.
• A educação da fé – membros de uma comunidade cristã, muitos têm dificuldade em levar a sua fé até às últimas consequências. Não tendo aprofundado a fé no tempo da sua maturação humana, há crentes que têm posições culturais e sociais de grande relevância, mas que não têm mais do que uma fé infantil. Conseguir alcançar uma fé adulta é responsabilidade de todos na comunidade que somos.
• Uma educação humana, livre e responsável – é a cada um que compete descobrir a melhor forma de crescer na vida humana e na vida espiritual e religiosa. Superando a ideia de que já se sabe tudo e que tudo se viveu, regressar a um processo educativo, dá a alegria de saber que toda a aprendizagem e experiência nova valem a pena.
Há sempre muita coisa para assimilar com a atitude crítica indispensável que permite discernir o que é bem e o que é mal, tendo depois a oportunidade de fazer as escolhas essenciais ao tempo novo que estamos a viver.
2. Numa comunidade cristã privilegia-se necessariamente a educação da fé, que, aliás, contém também a educação integral. Como diz S. Paulo, “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é justo, tudo o que é bom, tudo o que é santo, é tudo sinal da presença de Deus no mundo” (Fl 4, 8). O reconhecimento da presença de Deus por Cristo, na história humana, permite com facilidade descobrir todas as outras virtudes que tornam o homem feliz e transformam a sociedade numa convivência mais fraternal. A nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande quer dar este ano, que é o Ano da Fé, uma especial atenção à educação cristã. São inúmeras as iniciativas que estão em curso e para as quais convocamos todos os membros da comunidade.
• A catequese de infância tem mais de 600 crianças a crescer na fé. São 8 catecismos, em que ao longo de outros tantos anos, os pequeninos dos 6 aos 14 anos se iniciam no conhecimento de Jesus e na experiência comunitária da Igreja. Os 80 catequistas fazem caminho com estas crianças, também eles aprofundam a fé e se comprometem mais no Evangelho.
• Os jovens fraternos estão organizados em grupos que asseguram o acompanhamento de quase 350 jovens, dos 14 aos 25 anos; há grupos de reflexão, de debate, de experiência, que lhes permitem compreender que ser cristão não implica apenas aprender doutrinas, mas exige a prática dos grandes valores que é urgente implantar no mundo. Os momentos de oração e os tempos de serviço na acção social completam uma formação que lança estes rapazes e raparigas na construção urgente de um mundo novo.
• Os grupos de adultos para o aprofundamento da fé estão em pleno desenvolvimento. Pessoas há que querem receber o Baptismo, outras querem redescobrir a Igreja, muitas gostam do confronto que o debate proporciona, alguns optam por seguir um autor ou partilhar a leitura de um livro. Todos, à sua maneira, sentem que podem chegar mais longe na vida cristã cuja aventura se realiza na família, no trabalho, ou na intervenção social. Na comunidade há 7 grupos destes. Podem, porém, ser muito mais.
• A preparação dos sacramentos constitui outro núcleo importante da educação da fé. Os CPB preparam os pais e os padrinhos das crianças que vêm ser baptizadas. O grupo do Crisma reúne ao longo do ano mais de 50 pessoas que querem receber, no Pentecostes, a Confirmação. Os CPM juntam em debate dezenas de casais que preparam o Sacramento do Matrimónio. As equipas da Pastoral da Saúde ajudam os doentes a preparar a Santa Unção como desafio de esperança para uma saúde integral.
Tudo isto constitui um universo maravilhoso onde muitas centenas de cristãos aprofundam a sua fé e se tornam capazes de intervir na sociedade com os critérios que o Evangelho sabe dar.
3. A Comunidade educativa não se esgota no aprofundamento da fé. Há uma área que, ao ser privilegiada, se torna porta da fé para muitos que ainda se não sentem cristãos comprometidos. Na Carta Apostólica, Bento XVI, ao lembrar que a fé sem obras é morta, convida os cristãos à prática da caridade, com expressões que sejam sinal de que se acredita na Pessoa de Jesus Cristo. É claro que a fé sem obras é morta, mas também as obras devem desafiar a uma fé mais profunda. Este é extraordinário desafio para a pastoral na nossa comunidade cristã.
• O Centro Social Paroquial não pode limitar-se a expressões de simples solidariedade. Acolhem-se as crianças, e podemos perguntar-nos se ajudamos os pais na sua dimensão cristã. Acompanhamos os idosos e questionamo-nos como ajudá-los a descobrir a Pessoa de Jesus Cristo Salvador, uma vez que não há salvação em nenhum outro. Visitamos as pessoas que estão sozinhas em casa e será que lhes levamos também o conforto da nossa oração e da nossa esperança? Toda a acção social, na perspectiva cristã é envolvente, compromete no crescimento comunitário da fé.
• As Conferências de S. Vicente Paulo têm uma missão lindíssima herdada de Frederico Ozanan. O serviço dos mais pobres é um serviço integral que é capaz de dar o pão, mas se dispõe também a dar o pão da vida.
• A presença nos bairros, realizada das mais diversas maneiras, tem de ser também uma expressão viva da adesão à Pessoa de Jesus Cristo, elo dominante da cadeia de solidariedade que a comunidade cristã vive. “Estava só e visitaste-me” e quem visita, visita Cristo presente no irmão, mas torna-se também presença de Cristo que ama e que serve.
Quantas outras iniciativas de uma fé virada para a caridade, não poderiam ser contadas. Com criatividade muitas coisas surgirão neste Ano da Fé. Todos somos responsáveis por isso.
4. Nesta semana da educação cristã cada um tem o dever de descobrir como cresce na fé e como ajudará os outros a crescerem na fé também. É tempo de cada um se tornar mais cristão livre e responsável. Mãos à obra.