UMA COMUNIDADE EUCARÍSTICA – 14 de Outubro de 2012

1. Na Carta Apostólica, A Porta da Fé, Bento XVI diz que “o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir, como a mulher samaritana, ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde jorra a água viva” (cf. Jo 4, 14). Daí o Papa conclui: “devemos adquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus e do pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos”(cf. Jo 6, 51). Bento XVI refere assim explicitamente a Eucaristia como suporte e expressão da fé. Neste Ano da Fé, uma comunidade cristã tem de viver da Eucaristia, como fonte de uma relação nova e constante com Deus e com os irmãos. Foi o Concílio Ecuménico Vaticano II que definiu a Eucaristia revelando as exigências que ela comporta para a vida cristã: “a Eucaristia é sinal de unidade, é vínculo de amor, é sacramento da piedade, é banquete de alegria pascal, é memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo” (SC 47). Ao cristão não basta ir à missa ao domingo para cumprir um preceito. Não basta também acompanhar os gestos rituais sem se deixar possuir pelo mistério da Eucaristia. Não basta ainda, fazer da Eucaristia uma festa para dar mais brilho aos casamentos ou aos baptizados. A Eucaristia, vivida em plenitude, compromete as vidas dos cristãos e das comunidades.

• É sinal de Unidade – quantos participam na celebração dominical ou na missa diária, estão comprometidos em viver a unidade, superando todas as divisões, conseguindo as reconciliações necessárias, construindo a comunhão total que é o grande sinal da Igreja.

• É vínculo de Amor – o mandamento novo é uma exigência de amor sem fronteiras. Celebrar a Eucaristia provoca um amor acrescido a todos quantos nela participam. Este amor é a marca da vida do cristão. Radicado na justiça, muitas vezes exigindo o perdão, o amor pela Eucaristia torna-se universal, não exclui ninguém. Sentados à mesa eucarística, todos somos irmãos.

• É sacramento de Piedade – a nossa relação com Deus exige necessariamente intimidade. Se Deus é Pai que nos foi revelado por Cristo, falarmos a Deus torna-se uma exigência. Todos os sacramentos são sinal da nossa fé, mas a Eucaristia é sacramento de uma relação mais profunda. Através dela afirmamos a fé e nela nos fortalecemos. Por isso se proclama “mistério admirável da nossa fé”.

• É Banquete de Alegria Pascal – a Eucaristia constitui sempre uma festa. Cristo venceu a morte e os cristãos referem-no no mistério da Eucaristia, por isso se celebra sempre a Alegria Pascal. Até mesmo uma “missa de defuntos” é fonte de alegria, porque acreditamos na Bem-Aventurança eterna.

• É Memorial da Paixão, Morte e Ressurreição – celebrar a Eucaristia é reviver a Última Ceia, acompanhar de novo Jesus na agonia no Horto, sofrer a Sua condenação, estar com Ele no mistério da cruz, para com Ele ressuscitar para a vida verdadeira. A Eucaristia é síntese do mistério de Cristo, Salvador.

Devia ser “proibido” ir à missa para cumprir um preceito. Vamos à Eucaristia para celebrar o mistério de Cristo Ressuscitado. Assim, a presença na Eucaristia, não é nunca uma obrigação, é, antes, a expressão do amor que temos ao Pai por Cristo, e do amor que temos por Cristo, a todos os irmãos.

2. Celebrar a Palavra e a Páscoa é a grande síntese do mistério eucarístico. Cristo, na sua peregrinação pela terra, celebrou dois actos sacerdotais: proclamou a Palavra de Deus, a Boa Nova do Reino, e convidou todos a segui-l’O. Depois, foi incompreendido, foi perseguido, condenado e morto na cruz. Depois ressuscitou. Vivia a Páscoa nova. Não no sacrifício do cordeiro pascal celebrado pelos hebreus na saída do Egipto, mas oferecendo a sua própria vida no altar da cruz. Curiosamente, os dois actos sacerdotais de Cristo relacionam-se no mesmo mistério de amor. Foi a Palavra proclamada que provocou a sua condenação à morte. Qualquer homem que dissesse e fizesse o que Jesus disse e fez, no seu tempo, seria condenado à morte. Simplesmente a Páscoa de Cristo não acabou na morte, porque Ele ressuscitou. A Eucaristia que celebramos, em qualquer altar do mundo, convida os cristãos a viverem a Palavra, Boa Nova do Evangelho, e a celebrarem a Páscoa, provocando em tudo a Ressurreição. O ritual litúrgico, com que se celebra a Eucaristia, contém estes elementos.

• A Palavra de Deus – nas leituras é o próprio Deus que fala. Escutar, aprofundar, descobrir caminhos novos é uma exigência cristã para quem participa neste mistério de fé. O Senhor tem sempre algo de novo para nos dizer e cada um tem o dever de o descobrir.

• O Ofertório – leva-se ao altar o pão e o vinho para repartir com todos os que estão presentes. Recorda-se a intimidade da Última Ceia. Para além das oferendas, porém, é cada um que se entrega, para ter a própria vida consagrada a Deus, por Cristo.

• A Consagração – o momento central da Eucaristia repete as palavras e os gestos de Jesus. O pão e o vinho, oferecidos pelos homens, transfiguram-se no Corpo e Sangue de Jesus. Neste momento central da Eucaristia, qualquer cristão sente a necessidade de se tornar também não apenas pão e vinho para os outros, mas presença viva de Cristo, em qualquer circunstância.

• A Comunhão – “tomai e comei é o meu Corpo, tomai e bebei é o cálice do meu Sangue”. Estas palavras sacramentais são um convite a sentarmo-nos todos à mesma mesa e a participarmos do mesmo Corpo e Sangue de Jesus. Comer e beber é desafio à intimidade mais profunda e ao compromisso maior. Íntimo d’Ele não posso deixar de, com Ele, me comprometer na vida de cristão.

• Ide em paz – é um rito de despedida. Quase preferia dizer “ide e levai a paz a toda a gente”. É que o cristão é, em todas as circunstâncias, um portador da paz.

A comunidade cristã não pode deixar de ser eucarística. Centrada em Cristo, transfigurada em Cristo Ressuscitado, a comunidade é reveladora de que Cristo está vivo na cidade. A Eucaristia tornou-se o ponto de referência de todos os cristãos e o ponto de partida para a evangelização da cidade inteira.

3. Eucaristizar a vida é um desafio feito aos cristãos. Se as características da Eucaristia, no dizer do Concílio, são “a unidade, o amor, a piedade, a alegria e a memória de Cristo Ressuscitado”, o cristão tem o dever de transportar estes valores para a sua vida de todos os dias. Com estes cinco valores como seriam diferentes as famílias, os ambientes de trabalho, os tempos de intervenção social e política, a oportunidade da partilha de bens, a necessária construção da paz. Realizar esta acção de levar os valores eucarísticos para a vida de cada um é um extraordinário desafio neste ano da fé. É urgente eucaristizar a família, a cultura, o trabalho, a intervenção, para que a sociedade seja outra, para que a humanidade seja melhor. Que cada um descubra como eucaristizar a sua própria vida.

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