1. Todas as comunidades cristãs têm uma dimensão profética para anunciarem a Palavra de Deus, e têm também uma actividade litúrgica para celebrarem a fé que todos os seus membros dizem professar. Além disto, as comunidades têm também uma dimensão de serviço que realizam através do exercício da caridade. Bento XVI, na Carta Apostólica A Porta da Fé, di-lo expressamente: “O Ano da Fé será uma ocasião propícia para intensificar o testemunho da caridade”. O Papa cita mesmo o Apóstolo Tiago: “de que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano e um de vós lhe disser: ‘ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome’, mas não lhes dá o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé, se ela não tiver obras, está completamente morta”. Bento XVI vai mais longe ao dizer que “a fé sem caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente”. No contexto do Ano da Fé, as comunidades cristãs têm de renovar-se no serviço aos outros dedicando-se generosamente a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando, como primeiro, a quem atender e o mais importante a quem socorrer, porque é nele que se espelha o próprio rosto de Cristo (PF 14). Jesus deu-nos o testemunho do serviço e os cristãos têm o dever de servir os outros como irmãos:
• “Eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida, pela redenção de todos” (Mc 10, 45). Cristo afirma-se servidor sem condições. É a sua identidade. Todas as suas palavras e gestos estão voltados para os outros a quem serve, respondendo à necessidade de cada um.
• “Quem de vós quiser ser o primeiro, faça-se o último e o servo de todos” (Mc 10, 44). É esta a condição de quem quer ser discípulo de Jesus, que chega mesmo a acrescentar: “quem quiser ganhar a vida, acaba por perdê-la; só quem aceitar perdê-la, no serviço dos outros, poderá encontrar a verdadeira vida” (Mt 10, 39).
• “Dei-vos o exemplo, para que assim como eu fiz, vós façais também” (Jo 13, 15). Jesus tinha acabado de lavar os pés aos seus discípulos. Pediu-lhes então que também eles se servissem uns aos outros. Para o discípulo de Cristo, no esquecimento de si próprio, o outro está sempre em primeiro lugar.
• “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres” (Mt 19, 21). O homem rico não aguentou a exigência do serviço. Na vida do cristão, os pobres estão sempre em primeiro lugar. O seguimento de Cristo passa pela atenção aos pobres. Pode haver muitas formas de serviço, mas a caridade verdadeira pede o serviço a todos os outros.
• Também Zaqueu entendeu as palavras de Jesus naquele encontro cujo conteúdo ninguém conhece. Ao terminar, porém, o diálogo de intimidade com Jesus, logo pagou 4 vezes mais àqueles a quem defraudara e repartiu metade dos seus bens pelos mais carenciados. A caridade é criativa. É cada um, à sua medida que, interpelado por Cristo, vai descobrindo a sua maneira de servir.
Em todas as páginas do Evangelho se encontra Jesus a servir os seus irmãos. A mulher samaritana, o paralítico da piscina, o cego Bartimeu, a viúva de Naim, e tantos outros, ao cruzarem com Jesus, encontraram a solução para os seus problemas. É este exemplo o desafio permanente para os cristãos.
2. Fazer-se próximo é a melhor maneira de iniciar um caminho de serviço. É na parábola do samaritano que se entende melhor o que é servir fazendo-se próximo. Aquele estrangeiro viu o homem caído na estrada, teve compaixão dele, aproximou-se, cuidou-lhe das feridas, colocou-o na sua montada, levou-o à estalagem, pagou o que havia a pagar, e prometeu voltar para suportar todas as despesas que pudessem vir a ser feitas. É o modelo mais perfeito da caridade. O cristão só tem um caminho a seguir para crescer na fé: servir os outros que são uma presença viva de Cristo.
• Em casa há um mundo de relações de amor. O cuidado com os mais frágeis dentro da família, uma criança pequenina, um filho problema, um doente, tudo são desafios para uma doação sem condições para com aqueles que mais precisam.
• Os avós também fazem parte da família. O cuidado com os mais velhos não pode reduzir-se à garantia da cama, mesa e roupa lavada. O jogo dos afectos é insubstituível para aqueles que foram fonte de vida e muitas vezes se vêem abandonados num lugar qualquer. O cuidado dos avós, para um envelhecimento activo, é uma expressão muito viva do serviço de gratidão a que os mais velhos têm direito.
• No prédio, ou no bairro, há conhecidos que adoeceram ou cujos anos os fecharam em casa. Quebrar a sua solidão, estabelecer com eles uma conversa agradável, proporcionar-lhes um passeio, oferecer-lhes um livro, ou simplesmente, aparecer de surpresa, tudo isto e outras coisas são formas de serviço que provocam a felicidade.
• O voluntariado organizado e os gestos de amizade permitem um serviço eficaz para quantos estão marcados pela doença, pela velhice, pela sensação de inutilidade, mas também, pelo desemprego ou marginalização. O serviço é presença, é atenção aos problemas do outro, é palavra oportuna, e às vezes até é silêncio reconfortante.
É urgente reinventar o amor. Não foi por acaso que Jesus disse “amai-vos uns aos outros como Eu próprio vos amei. Por isto vos reconhecerão como meus discípulos”(Jo 13, 14).
3. A Comunidade Paroquial do Campo Grande quer ser uma comunidade de serviço. Foi para isso que se criou o Centro Social Paroquial há 17 anos. É para isso que desde há 40 anos estão em acção as Conferências de S. Vicente de Paulo. É ainda por isso que se faz uma assistência permanente aos bairros mais pobres “a Quinta das Murtas” e a “Quinta das Fonsecas”. É para isso que se acolhem com amor todos os que nos procuram. É a fé exercida em gestos concretos de caridade.
• O Centro de Dia acolhe centena e meia de pessoas mais velhas que passam o dia na nossa casa, com actividades das mais diversas que lhes permitem sentirem-se bem.
• A Creche é uma experiência extraordinária de apoio às famílias mais novas. Com muitos ou poucos recursos, crianças pequeninas estão connosco o dia inteiro rodeadas da maior ternura.
• O Jardim de Infância recebe quase uma centena de crianças que, dos 3 aos 6 anos, estão a aprender a conhecer a vida e a relacionar-se com os outros e até a descobrir a fé. Muitas são pobres que não teriam outro lugar para crescer.
• O Clube de Jovens tem uma centena de rapazes e raparigas que precisam de ser ajudados nos seus estudos e, simultaneamente, se iniciam numa educação que lhes permite entrarem no mundo com segurança.
• A Visita Domiciliária é uma iniciativa de apoio integral aos que já não saem de casa. A par das refeições e do arranjo da casa, todos estes têm também o apoio na sua fé, no conhecimento de Jesus e na prática da oração.
• As Conferências de S. Vicente de Paulo ajudam dezenas de famílias que, ao longo do ano, carecem de respostas integrais para os seus problemas humanos. Não são esmolas que se dão, é a vida de todos que se reparte. A experiência de Frederico Ozanam, no cuidado com os mais pobres, está bem presente na nossa comunidade de serviço.
• O Fundo de Solidariedade é uma iniciativa de 4 anos que tem resolvido inúmeros problemas dos mais carenciados, que para pagarem a renda de casa, a água, a luz e o gás, e mesmo o telefone, precisam de ajudas pontuais que, com grande gratuidade, conseguem prestar-se.
A Folha Informativa não pode conter todas as experiências de serviço que a comunidade do Campo Grande pretende realizar, mas a caridade verdadeira não se faz com palavras, exige gestos claros de autêntica fraternidade.
4. A nossa comunidade é profética, é litúrgica, é eucarística e missionária, mas é também uma comunidade de serviço. E é pelo testemunho de amor que dizemos a toda a gente que temos fé.