UMA COMUNIDADE PASCAL – 4 de Novembro de 2012

1. No mês de Novembro há duas festas que se relacionam com o extraordinário mistério da Ressurreição, digo mais, que convidam os cristãos à alegria pascal. São o Dia de Todos os Santos e o Dia de Fiéis Defuntos. De facto, como Cristo ressuscitou, sabemos que todos vamos ressuscitar. O fundamento da fé cristã está na Ressurreição de Cristo, quase poderia dizer-se que tudo o resto é complementar. Crer na Ressurreição é acreditar que Jesus venceu a morte e chama todos os homens à eternidade da Bem-Aventurança. S. Paulo, em conversa com os coríntios, explica-o de uma forma luminosa: “Alguns de entre vós dizem não haver ressurreição dos mortos. Mas se não há ressurreição, Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a nossa fé. E nós somos os mais infelizes dos homens” (cf 1Cor 15, 12-14). Paulo, porém, acrescenta logo depois: “Mas não, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos” (cf 1Cor 15, 20-21). O próprio Cristo o tinha anunciado ao dizer que, subindo a Jerusalém, seria condenado e sofreria a morte, mas que ao terceiro dia iria ressuscitar (cf. Lc 18, 31-33). Vale a pena percorrer os caminhos da Palavra de Deus.

• A promessa de Jesus:
 Eu sou a Ressurreição e a vida. Quem crê em mim não morrerá jamais (Jo 11, 25).
 Eu sou o pão da vida quem comer deste pão viverá eternamente (Jo 6)
 Não fiqueis preocupados. Na casa de meu Pai há muitas moradas e Eu vou preparar-vos um lugar (Jo 14)

• Paulo repetidas vezes fala aos cristãos da certeza da Ressurreição. É uma insistência que muda radicalmente a atitude perante a morte:
 Como Cristo ressuscitou todos vamos ressuscitar (cf. 1Cor 15, 16-17).
 A vida não acaba apenas se transforma. E desfeita a tenda do exílio terrestre adquirimos no céu uma habitação eterna (2 Cor 5, 1).
 No que se refere aos defuntos não fiquem tristes como os pagãos que não têm esperança. Como Cristo ressuscitou, todos ressuscitaremos com Ele (1 Tess. 4, 13).

• Também no Apocalipse João profetiza proclamando os novos céus e a nova terra, onde todos estão diante do Cordeiro para O aclamar.
 Quem são os 144 mil assinalados? São os que vêm da grande tribulação, lavaram as suas vestes no sangue do Cordeiro e dão glória a Deus para todo o sempre (Ap 7).

A Igreja celebra nestes dias todos os santos, mesmo desconhecidos, e todos os defuntos a quem se está unido nesta comunhão que ultrapassa o tempo. Celebrar a ressurreição daqueles que partiram é dar dimensão pascal à nossa fé. Precisamente, porque a vida para além da vida, em que acreditamos, só é possível na Páscoa de Cristo, na vitória de Cristo sobre todas as mortes.

2. A Festa de Todos os Santos evoca a santidade a que são chamados todos os cristãos. A santidade, no dizer do Concílio, consiste na comunhão plena e perfeita com Cristo (LG 50). A vida cristã é um caminho constante para chegar à santidade. Esta comunhão com Cristo, durante a vida, revela-se nas palavras, nas atitudes, nas acções que geram vida. Cada um, a seu modo, deve ser incondicionalmente fiel a Jesus Ressuscitado. Assim, na vida da Igreja, se multiplicam os santos.

• Eram santos os membros das primeiras comunidades cristãs. Desde a comunidade de Jerusalém a todas as comunidades evangelizadas por Paulo, os cristãos consideravam-se santos porque viviam em plena comunhão com Cristo. O nome de cristãos só apareceu em Antioquia na aproximação de judeus e gentios, já chamados pelo mesmo nome.

• Foram santos todos aqueles que, através dos séculos, se viram aclamados pelo povo pela sua vida de serviço aos irmãos e de comunhão com Deus. Não havia processos de canonização, era o povo que reconhecia a santidade dos homens e mulheres que, ao serviço do Evangelho, tinham dado toda a vida.

• São santos os que a Igreja reconhece com virtudes extraordinárias que podem tornar-se modelo para todos os fieis. Canonizados, tornam-se referência para quantos os consideram intercessores junto de Deus.

• São também santos todos os que, embora desconhecidos, viveram uma fé profunda, uma relação de proximidade com Jesus, uma experiência de fidelidade à Igreja, um trabalho a bem-fazer que a todos atingiu. Entre estes santos desconhecidos estão certamente os nossos pais, alguns dos suportes da nossa fé, muitos que nos precederam numa vida cristã exigente e anunciadora da felicidade.

A Festa de Todos os Santos envolve uma multidão de crentes que, tendo-nos deixado, continuam a ser referência na nossa vida cristã. Vale a pena conversarmos com eles, pedindo-lhes insistentemente que intercedam por nós junto de Deus.

3. A Festa dos Finados é também festa da ressurreição. Porque acreditamos na vida para além da vida, este dia constitui para todos memória, súplica, saudade e partilha.

• Memória – como é bom recordar os inúmeros acontecimentos que vivemos com aqueles que já nos deixaram. Um ou outro momento de sofrimento não pode apagar as inúmeras situações de alegria em que vivemos juntos. Sabê-los vivos, constitui alento para todos os caminhos que ao longo da vida vamos percorrendo.

• Súplica – sabemos que ninguém é perfeito e, por isso, reconhecer a fragilidade de alguém que nos deixou, reclama uma oração intensa que possa reparar momentos mais difíceis e consagrar a felicidade que o amor de Deus garantiu.

• Saudade – é certo que não podemos ficar tristes como os pagãos que não têm esperança. A ausência, porém, daqueles que nos são queridos traz uma enorme saudade que só uma comunhão de amor entre aqueles que ficámos, compensa.

• Partilha – já o Livro dos Macabeus falava da importância do repartir de bens pelos mais pobres como forma de sufrágio. Oferecer alguma coisa de nós aos que precisam é repetir os gestos que os nossos já não podem realizar. Pela nossa partilha fraterna, continuamos os inúmeros gestos de amor que os que estão com Deus gostariam de ter. Nós somos os braços daqueles que estão com Deus para multiplicar amor junto dos que mais sofrem.

O Dia de Fiéis Defuntos não pode ser um dia envolto em tristeza. É, ao contrário, um tempo de gratidão pela maravilha daqueles que nos precederam na fé, permitindo-nos caminhar também nós para a santidade verdadeira.

4. Que estes dias, para nós, cristãos, sejam diferentes. Sejam de festa sem barulho, mas com o sorriso de quem crê.

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