UMA COMUNIDADE DE LIBERTAÇÃO – 11 Novembro de 2012

1. O desafio da fé é um convite à liberdade. A adesão à Pessoa de Jesus Cristo supõe uma procura constante da libertação, uma vez que só deixando definitivamente o mal, a comunhão total com Cristo pode atingir-se. A própria Igreja é sacramento de libertação, sinal eficaz da verdadeira liberdade dos filhos de Deus. No Ano da Fé celebra-se o 50º aniversário do Concílio Vaticano II. Na Constituição Lumen Gentium, ao definir Igreja como povo de Deus, diz-se expressamente que, na referência a Cristo, se exige sempre “como condição, a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus” (LG 9). Por outro lado, na Constituição Gaudium et Spes, sobre a presença da Igreja no mundo, a liberdade é definida como a imagem privilegiada de Deus no coração do homem. Finalmente, na relação da Igreja com o mundo, pede-se expressamente aos cristãos a liberdade no amar para a constituição de uma família, a liberdade no servir para a administração económica dos bens, a liberdade no pensar para uma cultura marcada pelos valores do Evangelho, a liberdade no relacionar-se para conseguir a paz entre os homens. Pode dizer-se sem receio que a Igreja renovada no Vaticano II é uma Igreja que liberta e salva.

2. A verdadeira liberdade é proposta aos cristãos inúmeras vezes nas páginas do Evangelho. Se Jesus veio ao mundo para que todos tenham vida e a tenham em abundância (cf. Jo 10, 10), isto implica no ser humano a liberdade na inteligência, na vontade e na capacidade de amar. De facto, são inúmeras as páginas do Novo Testamento que convidam à liberdade. Jesus, no mistério da incarnação, vem ao mundo com a total liberdade perante todos os poderes. Foi livre perante todos os bens, uma vez que viveu pobre; foi livre perante o poder religioso, pois, no templo nunca passou do átrio dos pecadores, não fazendo parte do grupo sacerdotal; foi livre perante os núcleos de influência, não se tendo aliado nunca com os fariseus, com os escribas, com os doutores da lei; foi livre perante os poderes políticos, pois recusou ser libertado por Herodes ou por Pilatos. Só um homem livre podia dizer o que Jesus disse ao proclamar a Boa Nova.

• “A verdade vos libertará” (Jo 8, 32). Esta expressão de Jesus no início da sua vida pública, revelava uma liberdade diferente, aquela que nasce na verdade e se realiza plenamente no amor. Só quem é fiel à verdade pode amar até ao fim.

• “Eu vim para dar a Boa Nova aos pobres, a liberdade aos cativos, a libertação aos oprimidos” (cf. Lc 4, 18). A missão de Jesus era mesmo um exercício de liberdade. Sem esta não é possível aderir à fé nem celebrar com todos os outros a caridade.

• Seguir Jesus Cristo exige a liberdade radical, “deixar o pai, os irmãos, as irmãs, a mãe, a casa e os campos” (cf. Mc 10, 29-30). É um convite radical o de Jesus, que se pode aceitar apenas na liberdade plena. Os cristãos são convidados a estar libertos das coisas, das pessoas e das situações.

• As Bem-Aventuranças são um hino à liberdade: Bem-aventurados os que têm um coração de pobre (Mt 5, 3). A pobreza, a capacidade de perdão, a construção da paz só são possíveis na verdadeira liberdade interior e na corajosa liberdade de acção.

• Paulo comentou esta liberdade fazendo a distinção entre a liberdade dos instintos e a liberdade do espírito. Frutos desta liberdade são o amor, a alegria e a paz (cf. Gl 5, 19-23).

• A liberdade é para Jesus o abandono completo à vontade do Pai. Repetidas vezes Ele pôde dizer “não se faça a minha vontade, mas somente a Tua, Pai” (Lc 22, 42).

Os cristãos têm de aprender a ser livres. No fundo, é repetir a atitude de Cristo no deserto: dominando a tentação do ter (tudo isto te darei), do poder (no alto do pináculo do templo) e do mais fácil (transforma as pedras em pão) (cf. Mt 4, 1-10). Jesus na liberdade, venceu a tentação. Esta é a proposta de liberdade feita ao cristão.

3. O exercício da liberdade tem duas vertentes: a liberdade interior, isto é, o domínio de si próprio em todas as situações, e a acção libertadora numa preocupação constante para levar a liberdade a toda a gente.

• A liberdade interior não é fácil, uma vez que a tentação tem sempre muito de aliciante no que de agradável contém. O cristão manterá, porém, uma luta permanente contra o pecado, e também contra as rotinas, a mediocridade e o comodismo. Este exercício de liberdade constitui um trabalho constante no crescimento espiritual.

• A acção libertadora nos ambientes em que se vive, convida a atitudes de grande exigência. Impõe-se a denúncia das situações de opressão, pede-se a solidariedade para ultrapassar momentos de crise e de angústia, reclama-se uma avaliação correcta dos problemas para que a resposta libertadora seja mesmo de salvação. Todo este trabalho supõe uma grande sensibilidade para a intervenção oportuna e eficaz.

• Organizar a acção libertadora é também responsabilidade das comunidades cristãs. Aliás, a acção social não é outra coisa. A Igreja intervém neste campo difícil indo ao encontro dos pobres, dos que sofrem, dos que estão sós, para os libertar de todo o sofrimento que os envolve. Esta acção é um paradigma da Nova Evangelização.

• A Igreja, nas suas comunidades maiores, as dioceses e a Igreja Universal, tem ainda uma responsabilidade de denúncia e de proposta que pode oferecer a liberdade a todos aqueles que no mundo estão em grande sofrimento.

A acção libertadora faz parte integrante da missão da Igreja, uma vez que, esta, perita em humanidade, tem de tornar-se necessariamente consciência do mundo.

4. A nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande quer, neste Ano da Fé, investir fortemente na libertação. O apoio espiritual às pessoas está voltado para a liberdade das consciências. O trabalho profético e de acção social pretende a libertação de todos os que sofrem, para que reencontrem o sentido da vida, na felicidade a que têm direito. Tudo isto é trabalho grande que com alegria queremos realizar.

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