UMA COMUNIDADE DE PROJECTO – 25 Novembro de 2012

1. Neste domingo em que a Igreja celebra a Festa de Cristo Rei, termina o Ano Litúrgico. Vai começar um ano diferente com desafios extraordinários para a acção pastoral. Poderá, então, perguntar-se que projectos para a Comunidade. O ser humano, que é um ser decididor e simbolizador, que tem que usar bem a liberdade e ter formas de expressão que sejam convincentes, é também um ser em projecto. Na vida do ser humano, ele realiza-se em três dimensões: o que está a viver, o que sonha, e o caminho para atingir os objectivos desejados. É a esta dinâmica que se chama o projecto descritivo (o ponto de partida), o projecto utópico (o que é desejado), o projecto intermediário (o conjunto de elementos que permitem atingir os objectivos). Se isto acontece em qualquer ser humano, esta é também a dinâmica de qualquer comunidade. Há a realidade já vivida, há objectivos novos que fazem crescer a própria comunidade, levando-a mais longe e há, finalmente, os meios essenciais a alcançar esses mesmos objectivos. Pode perguntar-se, nesta altura do ano, o que é que a comunidade paroquial fez. Ninguém pode, porém, satisfazer-se com o já realizado. É preciso ir mais longe, ir para o alto, deitar as redes para o outro lado (cf. Jo 21,6). O desafio da criatividade convida a comunidade a renovar-se, a ter novos objectivos, a descobrir novas metodologias, no fundo, a chegar mais longe. É esta dinâmica a que chamamos uma comunidade de projecto.
Ao ler o Evangelho reparamos que Jesus fez de igual maneira com os 72 discípulos. Escolheu-os e enviou-os dois a dois a todos os lugares, criou-lhes uma exigência de pobreza e de liberdade interior, deu-lhes a missão de instaurar a paz em toda a parte (cf Lc 10, 1-11). Depois, quando eles regressaram e contaram tudo o que acontecera, disse-lhes que o mais importante era o grande objectivo, “terem os seus nomes escritos no céu” (cf Lc 10, 17-20). Ao ler este episódio do Evangelho de Lucas, apercebe-se que já então Jesus compreendia que partia de um projecto descritivo para atingir um projecto utópico. O caminho, porém, era o do desprendimento, o da cura dos doentes, o da afirmação da paz.
Poderá perguntar-se, na Comunidade Paroquial do Campo Grande, qual o ponto de partida, o que já está a ser vivido.

• Na dimensão profética da comunidade – as catequeses de crianças estão cheias, os grupos de jovens fraternos são muitos, o “despertar da fé” é apaixonante, a catequese de adultos cresce continuamente, a preparação para o Crisma congrega cristãos comprometidos, e a preparação dos pais para o Baptismo dos filhos é uma constante. Apesar de tudo isto, pode-se chegar mais longe.

• Na dimensão litúrgica da comunidade – a Eucaristia Dominical traz à igreja cerca de 5 mil cristãos cada domingo. Se é encantador ver tantos que nos procuram, sente-se, porém, o desafio do que a cada um se oferece. A missa dominical não pode ser um preceito, tem de ser muito mais. Deverá tornar-se “sinal de unidade, vínculo de amor, banquete de alegria pascal” (SC 47). O conteúdo da homilia, a qualidade do canto, a serenidade do rito, convidam a chegar mais longe, de tal maneira que a assembleia dominical se torne uma exigência do ser cristão. As celebrações penitenciais, as vigílias e a devoção a Maria podem ser elementos litúrgicos a ter em conta.

• Na dimensão social da comunidade – o Centro Paroquial com as suas múltiplas actividades não esgota os gestos de solidariedade que a comunidade paroquial pode viver. O apoio aos bairros mais pobres, a preocupação com todos que no tempo de crise mais sofrem, a partilha através do fundo de solidariedade são já, a par das Conferências de S. Vicente de Paulo, respostas de proximidade a tantos que sofrem o flagelo da solidão e da pobreza. Pastoral Social e da Saúde constituem já alguma resposta, mas é preciso chegar mais longe, porque há muita gente que precisa de nós.
Este projecto descritivo é muito linear. Como se gostaria que todos os que passam pela nossa casa viessem conhecer toda a actividade que aqui se realiza nos 39 projectos que estão em curso. Compreender-se-ia então que, se muito está feito, muito mais há a fazer, podendo assim chegar-se mais longe.

2. Que projecto utópico no Ano da Fé é uma pergunta que, necessariamente, tem que fazer-se. Em cada sector da vida paroquial, vale a pena descobrir com criatividade coisas novas que façam crescer na fé os cristãos e a própria comunidade. Está em questão a fé pessoal e a fé comunitária. Foram-nos dados subsídios extraordinários para o nosso aprofundamento da fé e o compromisso em Jesus Cristo.

• A Porta da Fé – a Carta Apostólica de Bento XVI, aprofundando extraordinariamente o sentido da fé cristã, traz consigo um desafio admirável, ao dizer que a fé sem obras é morta. Citando S. Tiago, o Papa diz mesmo que não basta ter fé, é preciso mostrá-lo pelas obras e estas centram-se na atenção aos irmãos, sobretudo os mais fracos e os que mais sofrem. A fé sem a caridade não existe (cf. PF 14).

• A Peregrinação da Fé – o nosso Patriarca ofereceu-nos um texto maravilhoso em que refere o caminho da fé com 4 etapas: acreditar (na Pessoa de Jesus Cristo), celebrar (pela oração fundamentada na Palavra), viver (com uma coerência radical, ligada aos valores do Evangelho) e proclamar (sobretudo através do testemunho cristão). Qualquer cristão da nossa comunidade tem o dever de fazer este caminho para chegar mais longe, num projecto de vida mais exigente.

• O Sínodo dos Bispos sobre evangelização – na conclusão do Sínodo, foram dadas à Igreja algumas recomendações. São desafios para chegar mais longe: descobrir no mundo de hoje novas formas de evangelização (n. 6), evangelizar a família (n. 7) e conseguir que os jovens possam encontrar-se com Cristo (n. 9); estabelecer um novo diálogo com a cultura e com a experiência humana de todas as religiões (n. 10); a contemplação do mistério em que a proximidade dos mais pobres é reveladora do verdadeiro rosto de Cristo (n. 12).

Quando se diz projecto utópico não se está a falar de coisas impossíveis. Aqui, utópico é o que está mais longe e que qualquer um tem o dever de alcançar. Nesta perspectiva, ninguém pode ser indiferente às palavras de Bento XVI, do Patriarca de Lisboa, ou das conclusões do Sínodo dos Bispos.

3. Algumas linhas de força para um projecto intermediário que nos leve à renovação procurada. O Apocalipse diz mesmo “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). Alcançar um projecto utópico é possível. Como?

• Aprofundando a fé pessoal e comunitária na adesão incondicional à Pessoa de Cristo.

• Redescobrindo o papel dos leigos na vida da Igreja e do mundo.

• Criando pequenos grupos de reflexão e acção espalhados pela cidade.

• Reafirmando a nossa unidade, com a reconciliação profunda se necessária.

• Renovando as celebrações litúrgicas, centradas na Palavra de Deus e na contemplação do Mistério a celebrar.

Accionando os mecanismos de uma solidariedade activa que seja salvação para todos.

A criatividade pastoral pode e deve sugerir muitas outras coisas que, certamente, aparecerão como formas de nova evangelização.

4. Certamente todos nos demos conta já da pancarta que está à porta da igreja. É o Cristo Redentor anunciado pelos quatro evangelistas. Neste Ano da Fé é exactamente este o nosso objectivo: que todos cresçamos até à medida de Cristo e que, inspirados nos evangelistas, saibamos levar os valores cristãos a toda a cidade onde vivemos.

Comments are closed.