1. Neste fim de semana começa o Novo Ano Litúrgico. A liturgia é o exercício da função sacerdotal de Cristo (SC 7). Para celebrar este sumo sacerdócio de Cristo, a Igreja estruturou o Ano Litúrgico com três ciclos: o do Natal, o da Páscoa e o Tempo Comum. É com a preparação do Natal que se inicia o Ano Litúrgico. A este tempo chama-se Advento que quer dizer “chegada”. Esta palavra vem da tradição romana. De facto, quando os imperadores iam a terras longínquas, a população do lugar destinava um tempo significativo de preparação para a chegada do grande senhor de Roma. A partir do séc. IV, quando o Cristianismo passou a ser aceite como religião, com a legitimidade do seu culto, a Igreja quis também que os cristãos se preparassem para a celebração do nascimento de Jesus. Preparar esse acontecimento, que passou a celebrar-se a 25 de Dezembro, foi escolhido um tempo de quatro semanas a que passou a chamar-se Advento. O Advento, então, é um tempo de preparação.
• A preparação do coração – cada cristão tem o dever de, na oração, nos sacramentos, na renovação da vida, se preparar para a chegada de Jesus, o grande Rei do universo. Jesus dá sentido à vida de cada cristão. Não se pode por isso celebrar o Natal sem uma renovação interior profunda que, cada um deve saber construir com alegria, mas também com exigência.
• A preparação da família – se o Natal recorda sempre a família de Jesus que veio de Nazaré para Belém e ali viu nascer o seu filho, também as famílias cristãs devem saber “fazer caminho” para que Jesus nelas nasça de verdade. O nascimento de Jesus nas famílias é muito mais do que presentes que se dão às crianças, filhoses que se comem na consoada, ou até, Missas do galo na igreja mais próxima. O nascer de Jesus na casa de cada cristão supõe um amor profundo entre todos, a oração repartida ao longo destas semanas de Advento, a descoberta dos mais pobres, dos mais sós, que precisam de gestos de partilha e de ternura. O Natal cristão, em família, tem mesmo de ser diferente de outros natais quaisquer.
• A preparação da comunidade cristã – a criatividade faz parte da acção pastoral. Justifica-se, então, perguntar como é que uma Paróquia se prepara para a chegada de Jesus. Se as liturgias devem ser mais vividas, se a partilha de bens tem de ser mais generosa, se a alegria pela vinda de Jesus tem que atingir a todos, há, porém, propostas que vale a pena serem vividas:
o retiro em etapas, em cada segunda-feira do Advento;
a jornada da reconciliação a 12 de Dezembro;
o lançamento de um livro, A Palavra para os Homens, inéditos do nosso Padre João Resina, que nos deixou mensagem de renovação cristã. A apresentação é a 13 de Dezembro;
a partilha de Natal, a 16 de Dezembro, com a generosidade de todos no apoio aos mais pobres da nossa comunidade neste tempo de dificuldades.
a feira de oportunidades com os grupos de jovens que a 2 de Dezembro estão a viver uma Venda de Natal com inúmeros artigos alusivos a esta quadra festiva. Com os resultados deste dia irão suportar as actividades de jovens e toda a experiência de evangelização em que estão empenhados.
e ainda, os enxovais, o roupeiro e os cabazes, tudo expresssões de ternura para quantos vivem na pobreza à espera de gestos de solidariedade.
Quantas iniciativas em curso para preparar como cristãos o Natal de verdade, de alegria e de paz!
2. O Ano da Fé traz à preparação do Natal alguns desafios. Foi o nosso Patriarca que o sugeriu na sua Carta Pastoral sobre o peregrinar na fé. Neste texto exigente, mas extremamente simples, para ser captado por qualquer, diz-se da importância da Palavra no aprofundamento da fé, da esperança e do amor. A Palavra na sua relação com a fé é revelação; a Palavra na sua relação com a esperança é promessa; a Palavra na sua relação com a caridade é intimidade, contemplação e amor. É a Palavra que nos revela Jesus Cristo que vai nascer, que afirma a certeza da ressurreição definitiva e a felicidade última na casa do Pai, que afirma o amor de intimidade com Deus que só na oração pode conseguir-se plenamente. Estes elementos são valor acrescentado para celebrar a preparação do Natal neste Ano da Fé. Por isto o nosso Patriarca nos convida a percorrer um caminho com quatro etapas:
• Acreditar em Deus uno e trino, em Cristo redentor, no Espírito santificador, na Igreja que convida à unidade e comunhão com Deus e com os irmãos.
• Celebrar a fé na oração, nos sacramentos e sobretudo na Eucaristia, sinal de unidade e de amor, banquete de alegria pascal, memorial da ressurreição de Cristo.
• Viver no quotidiano a fé que se professa, uma vez que não pode haver contradição entre a fé e a vida, mas tudo no ser cristão implica a configuração com Cristo, a transformação da ordem temporal.
• Proclamar a presença de Cristo no mundo, fonte de uma transformação profunda alicerçada na verdade, na justiça, na liberdade, no amor e na paz é missão de qualquer cristão. Já Paulo dizia “ai de mim se eu não evangelizar”.
É por estas quatro etapas que passa a experiência do Ano da Fé. No tempo de preparação para o Natal pode viver-se com exigência maior este caminho proposto pelo Patriarca de Lisboa.
3. Vale a pena apresentar subsídios para que cada um prepare bem o seu Natal. Vêm-nos propostas de todos os lados e algumas delas têm singular importância.
• Bento XVI acaba de editar o terceiro volume de Jesus de Nazaré. É o evangelho da infância. Os quatro capítulos deste volume permitem reflexão e oração para as quatro semanas do Advento. O Papa fala como teólogo, não como Supremo Pontífice. Por isso esclarece pontos duvidosos e confirma estudos que muitos biblistas vêm aprofundando. É uma obra notável. Acresce uma novidade interessante: pode adquirir-se um CD em que o texto é proclamado, podendo assim ser ouvido nas mais diversas circunstâncias.
• O Patriarca de Lisboa oferece aos cristãos um roteiro que poderá ser seguido através do site da internet www.patriarcado-lisboa.pt. É um comentário sobre o Vaticano II intitulado “Acreditar com o Concílio”. A sua publicação estará disponível cada quinta-feira. Acompanha-o também um video, já publicado a 19 de Novembro. É uma forma extraordinária de preparar o Natal, revendo o Vaticano II como desafio de “aggiornamento” da Igreja face ao mundo.
• A Constituição Lumen Gentium, primeiro documento conciliar, pode ser uma referência para o estudo que cada um queira fazer no Advento. Deixam-se quatro tópicos, um para cada semana, neste tempo de preparação para o Natal: olhar a Igreja como Povo de Deus (capítulo II), descobrir o papel dos leigos na Igreja (capítulo IV), ter consciência da vocação universal à santidade (capítulo V), redescobrir a ternura de Maria na vida da Igreja (capítulo VIII).
Estas podem ser formas de no Ano da Fé se conhecer melhor Jesus Cristo e se redescobrir a importância do Vaticano II na vida da Igreja.
4. Depende de cada um construir o Advento que lhe permita o Natal verdadeiramente cristão. Há um paganismo generalizado na celebração do Natal a que se chamou festa das famílias, férias de Inverno ou tempo da neve. Para os crentes não pode ser assim. O Natal é o tempo em que se celebra o nascimento de Jesus Cristo e só Jesus Cristo é referência para a vida do cristão.