1. A visita dos Reis Magos ao presépio de Belém, para verem o Menino Deus, é uma catequese extraordinária que afirma a universalidade da mensagem evangélica. De facto, Mateus descreve esta vinda dos Magos com um realismo extraordinário. Vieram de longes terras, seguiram uma estrela, conversaram com Herodes, adoraram o Menino, ofereceram ouro, incenso e mirra e, depois, avisados pelo anjo, voltaram às suas terras por outro caminho. A narrativa tem depois inúmeros pormenores que permitiram aos teólogos considerar esta história não como um acontecimento, mas antes como catequese que, nas primeiras comunidades cristãs, revelou que Jesus veio para todos e não apenas para alguns. Se é certo que o Messias era esperado pelo Povo de Israel, a realidade concretizou-se de outra forma e “todos os povos da terra viram a salvação do nosso Deus”. Reveladores da universalidade da mensagem são algumas notas sublinhadas pelo texto de Mateus.
• Os Magos do Oriente vêm dos três continentes conhecidos: a Europa, a Ásia e a África. Ao tempo, não tinham sido descobertos ainda nem o Continente Americano nem a Oceânia. Assim, todos os povos da terra são chamados à salvação.
• O Menino nasceu para todos, independentemente da sua condição social. Foi acolhido pelos Magos da mesma maneira como fora acolhido pelos pastores. Nasceu também para todas as raças, brancos, negros, amarelos. Todos caminharão para Belém. É a diversidade de raças o sinal da universalidade.
• Jesus veio para todos, qualquer que seja a sua idade. Os três Magos têm idades diferentes. Um é um velho de barbas venerandas, outro é um homem maduro, já marcado pela vida e o terceiro é um jovem cheio de esperança. Baltazar, Melchior e Gaspar são o símbolo da humanidade toda que Jesus quer salvar.
• Os Magos trazem consigo ouro, incenso e mirra. Estes símbolos anunciam o mistério da vida de todos os homens. Se é importante a estabilidade económica de cada um, simbolizada no ouro, se é indiscutível que ao longo da vida todos têm tempo de sofrimento simbolizada na mirra, é indispensável que cada ser humano se relacione com Deus em todas estas situações, e daí a adoração pelo incenso; o facto é que a mensagem de Jesus em tudo isto deve estar presente.
• São todos os homens convidados a seguir uma estrela e a Estrela do Oriente não é outra senão Jesus com os valores que anuncia indicando o caminho da humanidade.
Esta maravilhosa história narrada por S. Mateus no seu Evangelho quer dizer simplesmente que Jesus veio para todos e que a sua mensagem é universal.
2. A viagem empreendida pelos Magos foi longa e, naturalmente, cheia de peripécias e dificuldades. É assim, aliás, com todos os humanos. A viagem da vida que todos empreendem, nunca é fácil. O importante é saber viver essas situações segundo o projecto que a cada um se apresenta como caminho de felicidade. Os Magos tinham um objectivo, encontrar-se com Jesus. Este encontro alteraria radicalmente a sua vida. Na história contada por Mateus, ultrapassaram as dificuldades e, depois de avisados, optaram, no regresso à sua terra, por seguirem “outro caminho”. As dificuldades dos Magos são o símbolo das dificuldades dos cristãos.
• A distância – se vieram de muito longe para ver Jesus, não lhes foi fácil a dureza da viagem ao longo de dois anos. Qualquer que seja a cultura do homem contemporâneo, nunca lhe é fácil o encontro responsável com Jesus. Ciclicamente surgem crises de fé, e com generosidade é preciso ultrapassá-las.
• A diversidade – os Magos tinham origens diferentes. Depois de cruzarem as suas vidas cada um precisou de uma grande humildade para aceitar os outros na sua identidade própria. Entre os humanos a dificuldade maior está na capacidade de ser tolerante, de aprender a dialogar até conseguir, com justiça, celebrar com todos os outros, diferentes, o mistério do amor.
• Os adversários – estar com Herodes revestia-se de extraordinária prudência para quem queria ser informado. Encontraram, porém, um homem sedento de poder, que não o queria ver posto em causa. Os Magos não se aperceberam que estavam perante um adversário. Hoje, todos os homens têm situações deste género. É importante discernir as situações, avaliar as atitudes, tomar decisões fortes, porque só assim se alcança o objectivo, ser fiel à loucura do Evangelho.
• O discernimento – aconselhados, os Magos regressaram às suas terras por outros caminhos. Nesta aparente nota de redacção está contido um dos elementos mais nobres da vida humana, a capacidade de mudança, a abertura da vida à conversão. É que nem sempre se é capaz de seguir por outro caminho.
Esta catequese traz consigo desafios fabulosos para a maneira de ser dos cristãos. Daí que o importante não está no considerar histórico este episódio dos Reis Magos, mas antes, uma catequese maravilhosa que orienta a maneira de ser cristão no mundo que não é fácil, e onde as dificuldades se multiplicam. Os cristãos são chamados a enfrentar situações difíceis mas que conseguem ultrapassar porque guiados pela Estrela.
3. A Comunidade Paroquial do Campo Grande tem como patronos os Santos Reis Magos. Também a Sé Catedral de Colónia, bem como outras 30 comunidades paroquiais espalhadas pelo mundo, têm os Santos Reis Magos como padroeiros. A tradição celebrada ao longo dos séculos recriou estas figuras que colocamos junto ao presépio de Belém. Não há destes uma canonização, mas a referência aos Santos Reis Magos constitui um convite a uma exigência cristã que tem marcas pastorais do maior interesse. É por isso que a Comunidade Paroquial do Campo Grande tem o dever de seguir as pegadas dos Magos.
• Promover a universalidade constitui o primeiro desafio. Como Paróquia da cidade não acolhe apenas os residentes neste território do Campo Grande. Está aberta a todos os que nos procuram. Também não se limita a acolher os crentes, quer servir os não crentes, bem como as pessoas de outras confissões religiosas.
• Viver a parábola da partilha é outro apelo dos Magos. Repartir o ouro, é um convite à preocupação pelos mais pobres, pelos que têm fome ou estão desempregados, ou sofrem a violência da crise que caiu sobre todos. Agitar o turíbulo com o incenso é um gesto de adoração. A Paróquia em todas as suas liturgias faz apelo à oração comunitária com adoração, acção de graças e súplicas a Deus. Finalmente, acompanhar os doentes e os que sofrem, marcados pela mirra da dor, é um serviço de proximidade e de ternura que só a caridade cristã consegue realizar plenamente.
• Seguir Jesus sem condições foi o segredo dos Magos que reconheceram no Deus Menino a Estrela de Belém. Neste Ano da Fé os cristãos não têm alternativa: são chamados a conhecer Jesus profundamente para poderem segui-l’O depois na exigência do Evangelho.
A grande lição dos Magos está na sua simplicidade porque, apesar da sua importância, souberam adorar Jesus feito Menino. São o sinal de que só é possível seguir Jesus na simplicidade de vida.
4. Neste dia dos Santos Reis Magos, nossos padroeiros, vale a pena reler a história que S. Mateus nos contou para cada um descobrir a melhor forma de seguir a Estrela que é Jesus Cristo Senhor.