1. A terminar o ciclo do Natal, a Igreja celebra o Baptismo do Senhor. Nas comunidades cristãs viveram-se festas extraordinárias: o Nascimento de Jesus, a Maternidade de Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, a Festa da Sagrada Família, a Epifania, isto é, a manifestação do Mistério de Jesus aos gentios guiados por uma Estrela. A fechar o ciclo do Natal, a liturgia convida as comunidades cristãs a celebrar o Baptismo do Senhor. Contam-nos os Evangelhos que Jesus, na proximidade de iniciar a sua missão, se isolou 40 dias no deserto da Judeia. Pagando o preço da natureza humana, sofreu as normais tentações do ter, do poder e do prazer. De facto, a tentação da fome é representada pela facilidade proposta de transformar as pedras em pão. A tentação do domínio sobre todas as coisas do mundo está significada no alto do monte de onde se vêem todos os povos da terra. A tentação da importância social é representada na subida ao pináculo do Templo. Jesus vence as três tentações da natureza humana, invocando sempre a Palavra de Deus. Vencido o poder do mal, regressa à Galileia onde encontra João Baptista. Sujeitando-se às correntes do tempo, pede também para ser baptizado. Começa ali a sua vida pública. O Baptismo de João era de penitência, o Baptismo que Jesus institui, para além de ser Baptismo na água, é-o também no Espírito e no fogo (Mt 3, 11). É este Baptismo que faz renascer o cristão para uma vida nova.
2. No Ano da Fé, os cristãos são convidados a rever a sua fidelidade baptismal. Pode afirmar-se, então, o que um autor refere neste ano consagrado aos cinquenta anos do Concílio Vaticano II: todos os cristãos poderão dizer no Baptismo renasci. Que quererá significar isto?
• No Baptismo recebi a vida de Deus – se é certo que a vida é sempre um dom de Deus, no Baptismo é a própria vida de Deus que é assumida pelo cristão. A vida humana enriquece-se então, com a extraordinária presença do Senhor que dá um sentido novo a todo o viver humano. Paulo poderá dizer aos Gálatas, “já não sou eu que vivo é Ele que vive em mim” (Gal 2, 20).
• No Baptismo tornei-me Filho de Deus – se há uma relação profunda de Deus com o ser humano a partir da concepção, é, porém, pelo Baptismo que o cristão entra oficialmente na família de Deus. Em Cristo e por Cristo, Filho Unigénito, torna-se filho adoptivo, chamando a Deus Pai e deixando-se conduzir pelo Espírito. Com razão Paulo diz “só os que se deixam conduzir pelo Espírito são de verdade filhos de Deus” (Rom 8, 14).
• No Baptismo comprometi-me com Jesus Cristo – a relação do cristão com Jesus fundamenta-se na fé. A fé é mais do que confiança, é mais do que conhecimento, como diria Santo Agostinho, a fé é um compromisso de vida. No Baptismo, o cristão compromete-se, não apenas a acreditar vagamente em Jesus e na sua doutrina, ele é chamado a aderir incondicionalmente ao projecto de Jesus. Se, como diz Tiago, a fé sem obras é morta (Tg 2, 26), então, as obras são um sinal do compromisso vivo com a Pessoa de Jesus Cristo.
• No Baptismo fui admitido na Santa Igreja – talvez pudesse dizer-se isto de outra forma, uma vez que o Baptismo é o rito solene de entrada oficial na Igreja, novo Povo de Deus. Para o cristão, ser Igreja implicará a sua referência a Cristo, a sua luta pela dignidade e liberdade humana, a sua atitude constante de amor fraterno, o seu desejo da felicidade verdadeira à luz de Jesus Ressuscitado (cf. LG 9).
• No Baptismo aceitei viver segundo o Evangelho – Jesus Cristo não pede um comportamento moral segundo regras pré-estabelecidas. O Evangelho reclama os cinco pilares da vida cristã: viver segundo a verdade, a justiça, a liberdade, o amor e a paz. É tudo isto que configura o cristão com o Evangelho que aceitou seguir.
Nestes cinco pontos compreende-se perfeitamente a afirmação de que no Baptismo renasci. É que, depois do sacramento da água baptismal, a vida daquele que se diz cristão transforma-se completamente.
3. Os rituais do Baptismo têm símbolos absolutamente extraordinários. É certo que qualquer sacramento é sinal que exprime a fé e a fortalece (cf. CDC nº 840). O Baptismo, porém, está revestido de símbolos que, de per si, significam grandes opções de vida. São três os sinais mais importantes do rito do Baptismo: a água, a luz, o óleo santo. Recordando cada cristão o seu próprio Baptismo, através da simbologia que ele trouxe consigo, pode renovar-se profundamente a opção de vida.
• A fonte baptismal – com o derramar da água sobre a cabeça do neófito, anuncia-se a purificação total do coração, que é liberto de todo o mal. Já Ezequiel dizia: “dá-me Senhor um coração puro, tira do meu peito o coração de pedra, põe nele um coração capaz de amar” (cf. Ez 36, 26). A água lustral do Baptismo purifica de todo o mal. O coração do cristão tem de ser necessariamente um coração bom, um coração que ama sempre mais.
• O círio pascal – é na luz da Páscoa que representa Jesus Ressuscitado que o neófito vai buscar a luz para toda a sua vida. O cristão não segue ideologias, filosofias, líderes. O cristão deixa-se iluminar com a luz de Cristo e é à Pessoa de Jesus que ele segue, sempre, incondicionalmente. Por isso o Baptismo se chama sacramento da fé, da adesão incondicional à Pessoa de Jesus!
• Os óleos santos, perfumados – o óleo do Crisma foi abençoado pelo Bispo em Quinta-feira Santa, tendo-lhe sido misturado o bálsamo que lhe dá especial perfume. A unção baptismal deixa simbolicamente este perfume na vida do cristão. O bálsamo é a expressão simbólica de que o cristão deve “dar testemunho de Cristo em toda a parte e, àqueles que lho pedirem, dar razão da esperança da vida eterna que há nele” (cf. LG 10).
No dia do Baptismo do Senhor, tem cada cristão oportunidade de rever o seu próprio Baptismo e até que ponto a ele tem sido fiel ao longo de toda a vida. É um desafio de renovação interior extremamente exigente. Mas só se o fizer poderá depois dizer “no Baptismo renasci”.
4. A Paróquia do Campo Grande acolhe todos que desejam ser baptizados, Tem mesmo uma equipa que prepara os pais das crianças pequeninas para que participem no Baptismo dos seus filhos. É um trabalho de formação que se desejaria pudesse influenciar todo o processo de educação que em casa vai desenvolver-se ao longo da vida da criança agora ainda pequenina. Não se esgota aí, porém, a preocupação pela abertura ao Baptismo de muitos que procuram a Paróquia com o desejo de ser cristãos. A Paróquia tem três propostas para o sacramento do Baptismo: os pequeninos, os adolescentes e jovens e os adultos.
• O Baptismo das crianças – são cerca de duzentos os pequeninos cujos pais trazem ao Baptismo em cada ano. Procura-se acolher estes pais com todo o amor, quando acabam de viver a alegria de ter um filho. Porque desejam que os pequeninos tenham desde o nascimento a bênção de Deus, são acolhidos pelo grupo de preparação para o Baptismo (CPB), recebendo dele a preparação para celebrarem este primeiro sacramento “dos seus meninos”.
• O Baptismo dos adolescentes e jovens – chegam à catequese da Paróquia crianças que ainda não receberam o Baptismo. Com um percurso de iniciação cristã, são preparados para celebrar este primeiro sacramento três ou quatro anos depois. É um trabalho lindíssimo das nossas catequeses que, por vezes, atraem também os pais a abrir-se aos desafios do Evangelho.
• O Baptismo dos adultos – os grupos de aprofundamento da fé de quantos vêm até à Paróquia para crescer na sua adesão à Pessoa de Cristo acolhem alguns que querem ser baptizados. Depois de várias reuniões para o conhecimento do mistério cristão, estes adultos são apresentados à comunidade, afirmam a sua fé e recebem o Baptismo na Vigília Pascal. Este é um dos momentos mais importantes e de maior emotividade na vida paroquial.
De muitas formas, então, a comunidade cristã tem as portas abertas para quantos, nos mais diversos caminhos da vida, querem conhecer Jesus Cristo para n’Ele se comprometerem em todas as situações da vida.
5. Com a Festa do Baptismo do Senhor termina o ciclo do Natal. Que neste Ano da Fé todos os cristãos da nossa comunidade tenham oportunidade de rever-se no seu Baptismo, ao ponto de que cada um possa dizer: “no Baptismo renasci”.