«TODOS DAVAM TESTEMUNHO EM SEU FAVOR
E SE ADMIRAVAM DAS PALAVRAS CHEIAS DE GRAÇA
QUE SAÍAM DA SUA BOCA.»
(Lc 4, 22)
I LEITURA – Jer 1, 4-5.17-19
A vocação de Jeremias. É um erro entender este texto como se significasse que o homem é uma simples peça num jogo de xadrez que Deus joga. Deus que é livre, cria pessoas livres. Convida algumas, como convidou Jeremias, para uma colaboração muito próxima. Jeremias terá de agir.«E Eu estou contigo».
Leitura do Livro de Jeremias
No tempo de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as nações. Cinge os teus rins e levanta-te, para ires dizer tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles, senão serei Eu que te farei temer a sua presença. Hoje mesmo faço de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e uma muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e dos seus chefes, diante dos sacerdotes e do povo da terra. Eles combaterão contra ti, mas não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te salvar».
Palavra do Senhor.
SALMO -70 (71), 1-2.3-4a.5-6ab.15ab.17 (R. cf. 15ab)
Refrão: A minha boca proclamará a vossa salvação. Repete-se
Em Vós, Senhor, me refugio,
jamais serei confundido.
Pela vossa justiça, defendei-me e salvai-me,
prestai ouvidos e libertai-me. Refrão
Sede para mim um refúgio seguro,
a fortaleza da minha salvação.
Vós sois a minha defesa e o meu refúgio:
meu Deus, salvai-me do pecador. Refrão
Sois Vós, Senhor, a minha esperança,
a minha confiança desde a juventude.
Desde o nascimento Vós me sustentais,
desde o seio materno sois o meu protector. Refrão
A minha boca proclamará a vossa justiça,
dia após dia a vossa infinita salvação.
Desde a juventude Vós me ensinais
e até hoje anunciei sempre os vossos prodígios. Refrão
II LEITURA – Forma longa – 1 Cor 12, 31 – 13, 13
Um dos textos célebres de S. Paulo sobre a caridade
Leitura da Primeira Epístola do Apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Aspirai com ardor aos dons espirituais mais elevados. Vou mostrar-vos um caminho de perfeição que ultrapassa tudo: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita. A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O dom da profecia acabará, o dom das línguas há-de cessar, a ciência desaparecerá; mas a caridade não acaba nunca. De maneira imperfeita conhecemos, de maneira imperfeita profetizamos. Mas quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como criança. Mas quando me fiz homem, deixei o que era infantil. Agora vemos como num espelho e de maneira confusa, depois, veremos face a face. Agora, conheço de maneira imperfeita, depois, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade.
Palavra do Senhor.
II LEITURA – Forma breve – 1 Cor 13, 4-13
Leitura da Primeira Epístola do Apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O dom da profecia acabará, o dom das línguas há-de cessar, a ciência desaparecerá; mas a caridade não acaba nunca. De maneira imperfeita conhecemos, de maneira imperfeita profetizamos. Mas quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como criança. Mas quando me fiz homem, deixei o que era infantil. No presente, nós vemos como num espelho e de maneira confusa; então, veremos face a face. No presente, conheço de maneira imperfeita; então, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade.
Palavra do Senhor.
ALELUIA – Lc 4, 18
Refrão: Aleluia. Repete-se
O Senhor enviou-me a anunciar
a boa nova aos pobres,
a proclamar aos cativos a redenção. Refrão
EVANGELHO – Lc 4, 21-30
Encontros e desencontros entre Jesus e os homens.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus começou a falar na sinagoga de Nazaré, dizendo: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir». Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam das palavras cheias de graça que saíam da sua boca. E perguntavam: «Não é este o filho de José?». Jesus disse-lhes: «Por certo Me citareis o ditado: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. Faz também aqui na tua terra o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum». E acrescentou: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra. Em verdade vos digo que havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia. Havia em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum deles foi curado, mas apenas o sírio Naamã». Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga. Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.
Palavra da salvação.
NINGUÉM É PROFETA NA SUA TERRA – Comentários de Monsenhor Vítor Feytor Pinto*
Na roda do ano, a liturgia convida muitas vezes a reflectir sobre a profecia. Não estão em questão apenas, os profetas do A.T., mas todos os cristãos são convidados também a profetizar. A Palavra de Deus neste domingo mostra-nos Jeremias chamado por Deus a ser profeta. O Povo de Israel estava em grande sofrimento, o profeta dá a garantia de que Deus não esquece o seu povo. Haverá, porém, muitos que não compreendem Jeremias, que preferem mesmo marginalizá-lo. Deus, porém, reafirma a sua confiança, para que realize a sua difícil missão de falar em nome de Deus, mesmo que muitas vezes encontre reacções naqueles que continuam a recusar o que Deus lhes pede. É perante o sofrimento do povo que Jeremias profetiza denunciando o que está mal, propondo valores novos e de esperança, dando o exemplo com a certeza de que Deus nunca falta. Quando Jesus começou a sua vida pública, iniciou também um caminho de profecia. Ele falava em total comunhão com o Pai. Para além de cumprir as profecias antigas, trazia propostas novas que seriam o fermento da redenção. Um dia, entrou na sinagoga de Nazaré, a terra onde vivera, onde todos o conheciam, foi-lhe entregue o Livro das Escrituras que abriu em Isaías, leu a proposta de salvação: “dar a Boa Nova aos pobres, a libertação aos oprimidos, a alegria aos que sofrem.” Todos se maravilhavam com a sua palavra. Jesus afirmou então, que a profecia de Isaías se concretizava na sua Pessoa, dar a Boa Nova aos pobres era a sua missão. Foi então que alguém levantou a voz para dizer, “mas este é o filho de José, o carpinteiro”. Começaram então a recusar a sua mensagem e a querer expulsá-lo da sinagoga. Jesus pôde apenas dizer: ninguém é profeta na sua terra.
Se no tempo presente é difícil anunciar a verdade, a justiça, o amor, quando isto se faz diante de conhecidos, anunciar a mensagem torna-se muito mais difícil. É que os que conhecem a beleza da profecia, mas têm dificuldade em aceitá-la, mais facilmente recusam quando marginalizam o profeta. É este o mistério do cristão que procura anunciar a Palavra de Deus entre os seus amigos. As palavras que hoje se usam com frequência, exprimem a dificuldade de profetizar: “bem te conheço”, “vai contar isso para outro lado”, “bem prega Frei Tomás”, “há muito te conheço de gingeira”. O facto de ser difícil profetizar no meio de conhecidos e amigos, não dispensa o cristão de anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo.
Compreende-se que a liturgia deste domingo ofereça ainda o conteúdo essencial da profecia, que é a proclamação do amor, sabendo que o amor por excelência é Deus. A primeira Carta aos Coríntios é clara: “ainda que eu possua a plenitude da fé a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou”.
*(in Revista LiturgiaDiária, com autorização da Paulus Editora)