“SEDE VACANTE” – 03 Março de 2013

1. Com a renúncia de Bento XVI a Igreja espera a eleição de um novo Papa. O “ministério petrino” é exercido desde o princípio pelo Bispo de Roma. Jesus escolheu Pedro para ser o primeiro a assumir a responsabilidade da Igreja, a coordenar o Colégio dos Apóstolos, a orientar a vida das primeiras comunidades cristãs. Quem lê os Evangelhos facilmente entende que esta escolha de Jesus recai sobre um homem pecador, mas que ama Jesus até ao dom da vida. Por isso foi crucificado em Roma, pedindo que o suplício que lhe era infligido não fosse igual ao de Cristo porque disso não era merecedor. Foi então pregado na cruz e erguido nela de cabeça para baixo. Pedro, o primeiro Papa, foi sempre um homem humilde que, conhecedor da sua debilidade, se entregou plenamente à acção do Espírito para governar a Igreja nascente.

• “Simão tu serás pescador de homens” (Mt 4, 18-20). Nas margens do Lago Tiberíades, aquele pescador humilde aceitava seguir Jesus.

• “Tu és Pedro, sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16, 18). A Simão era confiado o poder das chaves. O que ligasse ou desligasse era ligado ou desligado no céu.

• “Tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32). Sem dúvida que Pedro era profundamente generoso mas, na sua fraqueza, era também pecador, iria mesmo negar o Mestre. Isto não impediu que Jesus lhe confiasse a Igreja.

• “Olha que antes do galo cantar duas vezes, tu me negarás três” (Mt 26, 34). Apesar de avisado, Pedro repetidamente afirmou não conhecer Jesus.

• “E, Pedro chorou amargamente” (Mt 26, 75). O arrependimento profundo, a consciência dos próprios erros, a amargura por coisas feitas, tudo foi motivo para Jesus acreditar em Pedro.

• “Afasta-te de mim que sou um pobre pecador” (Lc 5, 8). Quantas vezes o pescador não terá dito a Jesus que não prestava, que não era digno. Porém, terá recebido de Jesus uma certeza: “basta-te a minha graça”.

• “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 16). O Apóstolo confessou muitas vezes a sua fé. No Lago Tiberíades, depois da tempestade, ou no Cenáculo, depois da Ressurreição, a atitude de Pedro foi sempre um acto de adoração, suporte para a missão que o Senhor lhe quis confiar.

O ministério petrino foi exercido através dos séculos por 265 Papas. Conduzir a Igreja é missão exercida por homens. Santos e pecadores, com enormes capacidades, mas também com muitos limites, os Papas procuram ser fieis ao Espírito Santo, embora uma ou outra vez possam errar. O ministério exercido pelo Papa à frente da Igreja tem também limites. É a carga humana que, apesar da redenção operada por Cristo, muitas vezes, não pode ser vencida. Bento XVI sentiu os seus limites. Resignou, mas o Espírito Santo não deixa de conduzir a Igreja para a escolha de um novo Papa.

2. Desde Leão XIII a Igreja tem sido conduzida por Papas de excepção. Todos sabemos que houve os Papas do Renascimento, conhecemos as crises ligadas aos Cismas do Oriente e do Ocidente, acompanhámos na História a pressão dos príncipes sobre o papado, também conhecemos Celestino V, o monge eremita que, pressionado pelo rei de Nápoles, renunciou ao papado. A História da Igreja nem sempre foi feliz. Os últimos Papas, porém, constituem referência para os cristãos do terceiro milénio.

• Leão XIII, apesar da sua idade avançada, não hesitou em escrever a Encíclica Rerum Novarum, indicando a responsabilidade dos patrões e dos operários na causa comum da justiça social.

• Pio X, o Papa da Eucaristia, renovou as catequeses das crianças, ofereceu à Igreja o primeiro catecismo, mandou publicar o primeiro Código de Direito Canónico.

• Bento XV, rasgou horizontes, convidando a Igreja a ser missionária, a chegar com a loucura do Evangelho a todos os povos da Terra.

• Pio XI, despertou o laicado para, com uma mentalidade cristã, intervirem na transformação do mundo. A Acção Católica que ele fundou tornou-se uma escola de leigos capazes de descobrirem a sua missão na Igreja e no mundo.

• Pio XII, foi o Papa da reflexão teológica. Ainda hoje, os grandes problemas éticos se aprofundam na base de reflexões que este Papa sugeriu aos homens da ciência para o respeito incondicional da dignidade humana.

• João XXIII, foi o Papa do Concílio, do “Aggiornamento” da Igreja, da abertura da Igreja aos novos mundos na pós-modernidade. O Concílio foi, para todos, um grito de esperança.

• Paulo VI, foi o Papa mártir. Aplicar o Concílio em pleno conflito entre conservadores e progressistas não foi tarefa fácil. Com persistência abriu caminhos novos para a Igreja na sua relação com o mundo.

• João Paulo I, sorriu e morreu. A Igreja em 33 dias compreendeu que era possível no sofrimento continuar a sorrir.

• João Paulo II, foi o Papa que abraçou o mundo todo. As 169 viagens apostólicas tornaram a Igreja de verdade universal, capaz de levar a todos os cantos do mundo uma nova consciência, uma nova esperança.

• Bento XVI, é o Papa da coragem. O diálogo entre a razão e a fé, a capacidade de encontro ecuménico, a aproximação a todas as religiões, o sofrimento pelos pecados da Igreja, a surpresa dos acontecimentos novos, a utilização das novas tecnologias. Tudo isto, para apontar a Pessoa de Jesus Cristo como Salvador, marca os oito anos de pontificado deste Papa que agora resigna.

É muito bela a história da Igreja neste século e meio.

3. Neste tempo de esperança, a Igreja inteira está em oração pela eleição do novo Papa. É indiferente se é europeu ou de outro continente, se é mais velho ou mais novo, se tem muita cultura ou se é mais piedoso. Porque se acredita que o Espírito Santo está na vida da Igreja, neste tempo de “Sede Vacante” pedimos ao Espírito que nos dê o Papa de que a Igreja precisa neste ainda princípio do terceiro milénio. Quando, na proximidade da Páscoa, o fumo branco se elevar no céu e da varanda de S. Pedro se ouvir o grito “habemus Papam”, todos nós, cristãos, estaremos unidos ao Papa que o Espírito Santo nos oferece. Com ele celebraremos a comunhão da Igreja.

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