UM TEMPO PRIVILEGIADO DE ORAÇÃO – 10 Março de 2013

1. No início da Quaresma dizia-se que estas sete semanas eram um tempo dedicado ao jejum, à esmola e à oração. Se a partilha de bens materiais não é demasiado difícil, se o jejum está mitigado porque são apenas dois os dias em que se é convidado a tal penitência, resta-nos a oração como exigência máxima para viver com intensidade a Quaresma de 2013. De facto, esta relação com Deus, com a intimidade de quem fala a um amigo, torna-se uma exigência para a purificação do coração e para o compromisso numa vida cristã vivida com toda a generosidade.

• A oração está na tradição da Igreja. Desde sempre os cristãos encontraram, nos salmos e nas leituras do Antigo e do Novo Testamento, o alimento para a sua fé. Esta tradição confirma-se no Livro das Horas que os sacerdotes rezam diariamente.

• A oração permite olhar para o testemunho de tantos que, no diálogo com Deus, atingiram a santidade verdadeira. A vida dos que nos precederam na fé é um desafio para quantos vivemos a aventura do Evangelho.

• A oração constituiu a grande opção de Bento XVI ao deixar o ministério petrino. No silêncio de um mosteiro vai dedicar a vida à oração pela Igreja.

• A oração é o primeiro passo para acompanhar o ritual do conclave. Sendo certo que os cardeais são homens normais, no entanto, movidos pelo Espírito, irão escolher o futuro Papa. De todas as comunidades da Igreja sobe até Deus a súplica pelo futuro Papa, aquele que Deus quiser colocar à frente deste povo santo.

• A oração faz parte da vida de qualquer cristão, desde que nasce, quando todos rezam pela criança, até que morre, quando todos pedem para ele o descanso eterno.

A Quaresma é mesmo um tempo privilegiado de oração. Em cada manhã e em cada entardecer sobem a Deus as nossas preces para sermos fiéis ao Evangelho que desde o Baptismo prometemos seguir.

2. Uma reflexão profunda sobre a oração permite compreender que são quatro as formas com que podemos relacionar-nos com Deus: a adoração, a acção de graças, a reparação e a súplica. Infelizmente, muitos ficam pela súplica quando se propõem a fazer a oração. É certo que Jesus nos convidou a este tipo de encontro com Deus ao dizer: “pedi e recebereis, buscai e achareis, batei à porta e abrir-se-vos-á” (Mt 7, 7). O Senhor Jesus acrescentou mesmo “tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá” (Jo 15, 16). Há, porém, que ter a consciência de que a oração deve ser muito mais do que um pedido sem condições.

• É adoração, na qual se reconhece Deus como Senhor, Jesus Cristo como Filho de Deus, o Espírito Santo como fonte de um amor cada vez maior, que Deus revela a cada um. Na contemplação e no silêncio pode adorar-se a Deus, único Senhor.

• É acção de graças, pois tudo o que somos e temos de Deus provém. Agradecer a vida, com todas as suas vicissitudes, agradecer o dom da fé, apesar de todas as dúvidas, agradecer a ternura de Deus, repetida em tantas situações difíceis. A gratidão é talvez o elemento mais nobre da oração que, diariamente, se faz na relação pessoal com Deus.

• É reparação, porque o pecador quer responder ao perdão de Deus que nunca tem limites. Pela oração, o pecador pede a compreensão de Deus e tem a garantia de que Deus o ama em qualquer circunstância. Também os pecados sociais pedem reparação social. A oração pode fazê-lo e assim se redime o mundo.

• É súplica, por tudo aquilo que, em cada um, é carência ou dificuldade. Pede-se a cura quando se está doente, pede-se um emprego quando se foi vítima de uma falência, pede-se um êxito quando se é sujeito a uma prova nos estudos, no desporto, no namoro, ou noutra situação qualquer. Pedir é o mais fácil da oração quando se tem consciência de que Deus é Pai e nunca pode faltar.

Vale a pena dizer que a oração verdadeira deverá conter sempre estes quatro dinamismos. Neles se vive toda a riqueza da relação com Deus, relação que não se esgota na súplica, mas que é fonte de alegria, na contemplação e acção de graças.

3. Em toda e qualquer oração há três atitudes fundamentais: o encontro, o diálogo e a experiência vital. Há que implementar em todos os momentos da nossa oração estas três perspectivas, seja na oração da manhã, seja na oração da tarde, seja na reconciliação ou na Eucaristia, seja num retiro de contemplação, ou na agitação do dia-a-dia. Com o trabalho feito de oração, a relação com Deus tem sempre estas três perspectivas.

• É encontro com Alguém que se ama, que se sabe que está preocupado connosco, está sempre disponível para ajudar, e garante uma presença continuada, expressão máxima do amor de Pai e de Irmão.

• É diálogo com alguém que acolhe, que compreende, que escuta, e que responde em todos os momentos da vida. É o próprio Concílio que o diz quando afirma “a Deus falamos quando rezamos e a Deus escutamos quando lemos a sua Palavra” (DV 25).

• É experiência vital de Deus, experiência esta que acontece no contacto com as crianças e com os mais velhos, no sol radiante da Primavera e nas tardes chuvosas do Inverno, nos êxitos conseguidos e nos fracassos que aconteceram. O cristão sabe que em tudo e em cada momento se faz a experiência de Deus, porque Deus está sempre próximo.

Este tempo de Quaresma é ocasião privilegiada de multiplicar os encontros, de facilitar os diálogos, de viver a experiência vital de Deus. Esta oração enriquecida faz crescer o amor que a Deus temos e que de Deus nos vem.

4. A Igreja inteira está em oração pela eleição do novo Papa. Intensificar esta oração é uma forma acrescida de tornarmos a oração coisa essencial das nossas vidas.

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