COM UM NOVO PAPA, UMA NOVA EVANGELIZAÇÃO – 17 Março de 2013

1. Com a eleição do Papa Francisco tem-se a sensação de que se abre um novo ciclo na Igreja. Muito próximo do povo, amigo dos pobres, com uma vida de extrema simplicidade, com a escolha do seu nome identificando-o com o “poverello” de Assis, pode dizer-se que a ideia da Nova Evangelização, lançada por João Paulo II e aprofundada por Bento XVI, poderá constituir maior desafio para o futuro da Igreja. A Nova Evangelização não pode ser apenas tempo de novo ardor, novos métodos e novas expressões, como não pode ser também apenas um convite a inovar sem os critérios essenciais para a proclamação do Evangelho de Jesus Cristo. Um destes dias caiu-me na mão um artigo de “La Documentation Catholique”, assinado por Mons. André Dupleix, sobre o pensamento de Teilhard de Chardin nos novos campos da evangelização. Permita-se-me que faça dele um resumo, no qual se perspectiva um trabalho futuro para a Igreja de Cristo.

2. Quais serão os elementos essenciais a uma verdadeira Nova Evangelização, pergunta-se. A resposta, seguindo o pensamento do grande antropólogo, é dada em alguns tópicos que centram o essencial da mensagem que a Igreja deve levar ao mundo.

• Jesus Cristo é o Evangelho de Deus para o homem. O que está em questão não são muitas doutrinas, é a referência em tudo a uma Pessoa que se torna modelo para todos e que para os cristãos é o Filho de Deus que veio ao mundo para o salvar.

• O tempo da Nova Evangelização é aquele em que vivemos. A Igreja tem que vencer as rotinas, os programas que já não têm expressão, os ritos tantas vezes sem projecção na vida dos homens. Longe de ser um perigo, a novidade do Evangelho deve ser um desafio.

• Transmitir a fé. Neste tempo do provisório, em que falta para muitos o sentido da vida, a adesão incondicional à Pessoa de Jesus Cristo deve tornar-se caminho para quantos desejam transformar o mundo. A fé é compromisso para provocar ressurreição em todas as situações da actual humanidade.

• Renovar a acção pastoral. Os cristãos estão cansados do déjà vu, procuram coisas diferentes a que os não crentes sejam sensíveis. Toda a acção dos cristãos tem de ser precedida de uma reflexão profunda. Depois, tem que ser experimentada naquilo que de novo contém e, finalmente, tem que ser vivida a ponto de dar frutos e frutos em abundância.

• Um mundo em crise reclama um Cristo Salvador. Às vezes tem-se a sensação de que a Humanidade voltou ao tempo do Povo Hebreu, esperando o Messias. O Salvador, porém, já chegou, é preciso levá-lo a toda a parte para influenciar a cultura, a vida económico-social, a família, a política, a construção da paz. É preciso que Cristo esteja presente em todos estes lugares.

Tudo isto implica que a Igreja se assuma missionária com desafios capazes de interpelar o mundo e o transformar de verdade.

3. E onde e como actuar neste tempo de Nova Evangelização? No referido artigo escolhem-se dois conjuntos com campos privilegiados no anúncio do Evangelho. No primeiro conjunto seleccionam-se áreas onde a Igreja não pode deixar de intervir.

• O campo da ética – o respeito pela dignidade e liberdade da pessoa humana em todas as circunstâncias é verdade a ser proclamada, é atitude constante a ser vivida e é valor a ser testemunhado em tudo pela Igreja.

• O campo da educação – numa sociedade que perdeu valores, a educação integral torna-se uma urgência. Não basta o aprofundamento dos conhecimentos, é necessária a transmissão de valores que orientem os comportamentos em todas as situações da vida. Em sociedade, educar para a verdade, para a justiça, para a liberdade e para o amor é tarefa de uma Igreja que serve o mundo para o tornar melhor.

• O campo da procura – o ser humano é insatisfeito, por isso a busca científica e técnica para a melhoria das condições de vida e a solução dos grandes problemas humanos constitui universo ao qual a Igreja não pode ser indiferente. O progresso científico e técnico é uma exigência da Nova Evangelização.

• O campo da qualidade de vida – não é apenas a qualidade material ou a qualidade estética que estão em causa. Falar de qualidade, na perspectiva de João Paulo II, supõe estar atento às inter-relações pessoais, espirituais e mesmo sobrenaturais. Lutar apenas por uma qualidade económica desvirtua completamente o conceito de felicidade.

• O campo das relações sociais e multiculturais – a tolerância, a convivência com todos, o diálogo aberto com os diferentes, a solidariedade com os mais pobres, tudo são desafios sociais em que a Igreja tem que estar na primeira linha. Há muita gente em sofrimento. Não basta resolver o problema económico, é preciso agir. Como dizia Paulo VI “em favor do homem todo e de todos os homens”.

• O campo das religiões – uma das coisas mais belas que o Concílio Vaticano II nos ensinou é que a Igreja, povo de Deus, está aberta a todas as outras religiões. Ninguém lhe é estranho. O desafio ecuménico e o diálogo inter-religioso são parte fundamental da Nova Evangelização (cf. LG 9, 13, 14, 15, 16).

• O campo da paz – todos os últimos Papas se têm preocupado com a reconciliação entre todos os povos. Só nesta é que a paz será possível. Acção evangelizadora, porém, é também a paz nas famílias, nos grupos sociais, no diálogo entre responsáveis políticos. A Igreja tem, nestas áreas, responsabilidades acrescidas, porque Cristo veio ao mundo para anunciar o amor e a reconciliação.

Em todos estes vectores, a Nova Evangelização constitui uma mais-valia para a transformação do mundo, missão que a Igreja deve assumir ao sair de si para o encontro de uma nova humanidade.

4. Outro conjunto de campos da Nova Evangelização é talvez mais simples de ser vivido, uma vez que está voltado para o interior da Igreja. É o caso da afirmação da identidade cristã, do culto de uma mística cristã, e, depois, do assumir dos sacramentos como sinais que exprimem a fé e a fortalecem. O pensamento de Teilhard de Chardin, aplicado à Nova Evangelização, dá a perspectiva de uma abertura da Igreja ao mundo que constitui talvez o maior desafio para o Papa que acaba de tomar nas mãos a barca de Pedro. Esta hora, pela responsabilidade de todos os cristãos, deve tornar-se razão de esperança para a Igreja e para o mundo.

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