1. “Habemus Papam” foi a aclamação ouvida ao entardecer no dia 13 de Março na Praça de S. Pedro. O Cardeal Tauran, protodiácono, acrescentou logo depois a escolha do nome. O novo Papa, o Cardeal Bergoglio, chamar-se-ia Francisco. Foi um momento de extraordinária emoção em todo o mundo. Ninguém esperava que o novo Papa viesse de tão longe, mas o Espírito de Deus pairou sobre a Igreja e a alegria pela eleição conseguida no conclave chegava a todas as comunidades cristãs e para além delas, a todos os cantos da humanidade.
• Julgava-se que seria eleito um homem austero, conhecedor das tradições romanas como Scola, ou, então, um homem ligado à cultura como Ravasi, o criador do “átrio dos gentios”.
• Muitos sugeriam homens novos para um pontificado longo. Entre estes estava Luís António Tagle das Filipinas, ou o cardeal Rainer Maria Woelki, arcebispo de Berlim.
• Houve quem considerasse positivo para a Igreja a abertura a outros continentes. Nesta linha aparecia Turkson, o cardeal arcebispo do Gana em África, ou o hondurenho, Maradiaga da América Latina.
• Também alguns diziam ser possível a eleição do cardeal Odilo Scherer, de S. Paulo, ou Marc Ouellet de Quebeque no Canadá.
Eram muitos os papáveis que apareciam nos comentários dos “vaticanistas”. A comunicação social pensava ter todos os elementos para indicar o possível Papa. Discutiam inclusivamente, sobre as inúmeras tendências dentro do conclave. Não se deram conta, porém, que a Igreja é conduzida pelo Espírito Santo, e não pelos simples critérios humanos. Foi eleito um cardeal quase desconhecido, Jorge Bergoglio, arcebispo emérito de Buenos Aires que, para surpresa de todos, escolheu o nome de Francisco.
2. Após a eleição todos, dentro e fora da Igreja, se perguntavam o porquê da escolha de tal nome. Por ser jesuíta pensou-se mesmo em Francisco Xavier. A realidade, porém, era outra. O novo Papa escolhia o nome de Francisco pensando que em Francisco de Assis poderia inspirar todo um programa de vida e de acção pastoral. Foi diante de mais de 6.000 jornalistas, na sala Paulo VI que o Santo Padre quis contar o porquê da escolha deste nome. Em pleno conclave, ao ser eleito Papa, vários cardeais lhe sugeriram nomes. Foi, porém, o brasileiro, Cláudio Humes, que ao abraçá-lo lhe segredou “não te esqueças dos mais pobres”. Para o novo Papa, o nome estava encontrado, chamar-se-ia Francisco, sem mais. Inspirar-se-ia, conta ele, nas grandes linhas de acção de Francisco de Assis. Em pleno século XIII ele largara tudo para se dedicar aos pobres, cultivava a natureza como extraordinário dom de Deus e de Deus recebera o pedido de reconstruir a Igreja. Será nestes três tópicos que Sua Santidade, o Papa Francisco, irá fundamentar toda a sua acção.
• Ter uma igreja pobre ao serviço dos mais pobres. Quererá multiplicar gestos de bondade e de ternura, sobretudo junto daqueles que são marginais no coração da maior parte dos homens. Privilegiará os frágeis, as crianças, os mais velhos, muitos que no mundo estão à beira do caminho. Foi isto que fez Francisco de Assis ao recusar a herança paterna para se dar aos mais pobres do seu tempo.
• Respeitar a natureza com maior sensibilidade pelo meio ambiente. Numa sociedade que explora a natureza é urgente a preocupação ecológica. O simples uso dos bens da natureza não permite ao ser humano a destruição dessas fontes de vida que são essenciais para o futuro da humanidade. Utilizar bem os recursos, respeitando sempre o futuro, é um desafio ingente que se põe à Igreja. Os cristãos têm de estar na primeira linha no que aos bens da natureza, dados por Deus, diz respeito. Foi assim Francisco de Assis que tratava os lobos como irmãos e agradecia a Deus a irmã água que o refrescava no calor da tarde.
• Reconstruir a Igreja recuperando-a de eventuais ruínas. Muitas culpas se tem atribuído à Igreja. São os problemas da Cúria, ou os gastos sumptuosos, ou a eventualidade de comportamentos errados, ou a incapacidade de ir ao encontro do mundo, tudo isto é considerado negativo para a Igreja de Cristo. O Patriarca de Lisboa chegou a dizer que a Igreja precisa de uma renovação que permita uma imagem nova que revele a beleza do seu rosto. Francisco de Assis foi chamado por Deus à renovação da Igreja do seu tempo. A princípio julgava que era a igreja de S. Damião, em Assis, que era preciso reconstruir. Soube depois, que era a Igreja inteira que deveria renovar-se e foi ao encontro do Papa para lho pedir.
Estas três linhas, intui-se, constituem preocupação pastoral do pontificado de Francisco, Papa. São preocupações que se sentem em todas as comunidades cristãs. Em tempo de crise multiplicam-se os pobres, a Igreja tem de ser solidária. Em tempo de exploração da natureza é fundamental o respeito pelos recursos que a natureza contém. A Igreja tem que estar aqui, na primeira linha. Refazer o rosto da Igreja e a verdade da sua vida colectiva é reconstrução que constitui maior desafio neste século XXI. Todos os cristãos são actores deste grande esforço. Desde a sua eleição, o Papa Francisco está a lançar as traves mestras da sua acção pastoral que têm de ser pilares de toda a acção pastoral da Igreja.
3. Na proximidade da Páscoa sente-se já o esforço da ressurreição necessária. A simples eleição do Papa é já apelo à ressurreição. Todos os membros da Comunidade Paroquial do Campo Grande, sacerdotes, religiosos e leigos, viveram com entusiasmo a escolha do Papa Francisco. Apercebeu-se na comunidade que algo de novo estava a acontecer. Sentiu-se que o sopro do Espírito, uma vez mais, empurrava a Igreja para caminhos novos, para tempos de esperança, para iniciativas diferentes, que pudessem dar ao rosto da mesma Igreja melhor eficácia e mais extraordinária beleza. A renovação pode começar por ser pessoal, mas deverá ser também comunitária. Pelos caminhos de Francisco de Assis, a renovação que se pede implica a atenção aos pobres, ao ambiente e à própria vida da comunidade cristã.
• Na linha da pobreza, cada um deve procurar uma certa frugalidade de vida. Há tantos pormenores em que cada um pode ser mais pobre. Desta ascese resultará a reserva de alguns bens que se podem pôr ao serviço dos outros, para uma Igreja marcada pela caridade.
• Na linha do respeito pelo ambiente, é urgente evitar todo o desperdício. No consumo da água, da electricidade, do gás, no cuidado com as plantas, na atenção aos animais, no espírito de gratidão a Deus por tudo o que se tem, pode criar-se uma maneira nova de viver o sentido ecológico que o mundo de hoje pede.
• Na linha da renovação da Igreja, todos os cristãos devem ser cultores da unidade. A comunhão só se consegue quando cada um é capaz de renunciar a si mesmo para servir uma comunidade que revela ao mundo os valores do Evangelho. Se tal se conseguir, os comportamentos de cada um são outros, as fragilidades são superadas, as roturas são vencidas, e a comunhão acontece na constante partilha de vida com todos.
Assim se constrói uma Igreja nova, alicerçada em Deus e realizadora de autêntica fraternidade. É o espírito de S. Francisco de Assis.
4. Na Comunidade Paroquial do Campo Grande, no início desta Semana Santa há razão para redescobrir a ternura para com os mais frágeis (Quinta-feira Santa – o ritual do amor), a preocupação pela natureza no profundo respeito pela vida (Sexta-feira da Paixão) e, ainda, a renovação profunda da Igreja (O mistério da Vigília Pascal). A nossa Semana Santa vai ser já o começo de uma nova etapa na vida da Igreja.